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sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Menstruação com dor não é normal

Desmistificando a Menstruação e a Endometriose: A Luta Contra a Normalização da Dor

 

A menstruação é um evento fisiológico caracterizado por sangramento genital regular, presente em todas as mulheres, mas ainda cercado de mitos e frequentemente associado ao sofrimento. Recentemente, a revista Nature Epidemiology discutiu os principais mitos relacionados à menstruação, entrevistando seis pesquisadores de diferentes partes do mundo para compartilhar suas perspectivas sobre crenças envolvendo alimentação, humor, sangramento e dor. Entre os especialistas convidados, destaca-se a Dra. Márcia Mendonça Carneiro, Professora Titular de Ginecologia da Faculdade de Medicina da UFMG e diretora científica da Clínica ORIGEN, em Belo Horizonte.

Embora a menstruação seja um fenômeno natural, ela continua sendo envolta em conotações místicas, muitas vezes negativas, associadas aos desconfortos que provoca. O ciclo reprodutivo feminino, que culmina no sangramento mensal, é acompanhado de sintomas físicos e psíquicos como inchaço, cansaço, dor nas pernas, irritabilidade e cólicas, entre outros.

Márcia Mendonça foca especialmente nas cólicas menstruais e na endometriose, condições que afetam muitas mulheres. “As cólicas menstruais atingem entre 15% e 50% das mulheres jovens e podem vir acompanhadas de sintomas como náuseas, vômitos, alterações intestinais, cansaço, tontura, sensação de peso nas pernas e dor de cabeça”, comenta. A especialista ressalta que, em alguns casos, a intensidade das cólicas pode comprometer seriamente a qualidade de vida da mulher. A avaliação médica é fundamental, pois condições como a endometriose podem ser identificadas. A especialista enfatiza que sentir dor durante o ciclo menstrual não é normal e deve ser tratado.

Segundo a médica, a endometriose é uma doença benigna que afeta cerca de 10% das mulheres jovens, causando cólicas intensas e infertilidade. No entanto, o diagnóstico dessa condição costuma ser demorado, levando de 5 a 12 anos, com uma média de 4 a 7 anos no Brasil. "Esse atraso é, em parte, devido à ‘normalização da dor’, pois muitas mulheres com endometriose relatam que médicos, incluindo ginecologistas, afirmaram que a dor era comum e aceitável. Além disso, 47% das mulheres consultam cinco ou mais médicos antes de receberem o diagnóstico correto e tratamento adequado. A jornada dessas mulheres frequentemente envolve múltiplas consultas e tratamentos, incluindo cirurgias, sem alcançar alívio da dor ou a desejada gravidez", explica Dra. Márcia.

Ela também ressalta que a negligência com as cólicas e os sintomas menstruais podem ser atribuídos a fatores culturais, familiares e do sistema de saúde. “Pesquisas revelam que muitas mulheres consideram a dor tolerável e não buscam tratamento adequado devido a fatores como falta de acesso a cuidados médicos, preferência pela automedicação, desconhecimento das opções de tratamento, experiências negativas com profissionais de saúde, vergonha e falta de apoio familiar”, finaliza a especialista.


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