Estudo revela que os níveis de nicotina nos usuários de cigarro eletrônico podem ser até seis vezes superiores aos encontrados em fumantes de cigarro convencional
O
Instituto do Coração (InCor) HCFMUSP, em parceria com a Vigilância Sanitária do
Estado de São Paulo e o Laboratório de Toxicologia da Rede Premium* de
Equipamentos Multiusuários da FMUSP, divulgou os resultados de um estudo
inédito realizado com mais de 400 usuários de cigarros eletrônicos,
frequentadores de bares, shows e eventos no estado de São Paulo, incluindo a
capital. O estudo teve como objetivo avaliar o comportamento, percepção de
risco, perfil socioeconômico e hábitos dos usuários - além de medir os níveis
de nicotina nos produtos consumidos.
A
coordenadora da pesquisa e diretora Programa de Tratamento do Tabagismo do
InCor, área de cardiologia, Dra. Jaqueline Scholz, alertou para os dados impactantes
sobre a saúde dos usuários: “Os níveis de nicotina nos usuários de cigarro
eletrônico podem ser extremamente elevados, muitas vezes superiores aos de
usuários do cigarro convencional, quando o consumo do produto é diário e
intenso. A nicotina é uma substância tóxica com efeito danoso ao sistema
cardiovascular e responsável pela dependência química.
Impactos psicológicos e físicos
A
pesquisa também revelou que 20% dos participantes gerais declaram ter alguma
doença clínica, sendo asma, alergia e hipertensão as doenças mais frequentes.
Quando comparados com a população não fumante da mesma faixa etária, os
usuários de cigarro eletrônico apresentaram uma prevalência maior de asma,
possivelmente relacionado ao uso desses dispositivos.
Em
relação a saúde mental, 31% dos jovens entrevistados referiram ter distúrbios
de ansiedade e depressão, com a ansiedade sendo a condição mais prevalente,
representando 75% entre os respondentes jovens. Entre os usuários com
concentração de nicotina muito elevada (> 400 mg/ml) a associação com
ansiedade foi ainda maior, cerca de 41%. A dependência do cigarro eletrônico
foi associada a um aumento nos níveis de ansiedade, especialmente entre aqueles
que já possuíam problemas de saúde mental. “Ação da nicotina no cérebro causa
sensação de bem-estar momentâneo, fazendo com que pessoas ansiosas tendam a
usar o produto para esta finalidade, mas na medida que esta exposição se torna
frequente a própria ausência da nicotina aumenta a sensação de ansiedade,
tornando o consumo ainda mais intenso, dificultando o abandono”, esclarece a
médica.
Níveis de nicotina alarmantes
Os dados mostram que os níveis de nicotina encontrados no organismo dos usuários de cigarro eletrônico com uso diário e intenso chegam a ser alarmantes. Isto correspondeu a 13% amostra e nesses indivíduos os níveis superaram em até 6 vezes o valor médio encontrado em fumantes de 20 cigarros/dia (média de 400 nanograma (ng/ml). Esses indivíduos apresentaram valores de 1000, 2000, 3000 até máximo de 4530 ng/ml. Na média, este grupo apresentou concentração de 2400 ng/ml. Ela também destacou que, enquanto um fumante de cigarro tradicional costuma dar cerca de 200 tragadas por dia, os usuários de cigarro eletrônico com consumo elevado podem chegar a dar mais de 1500 tragadas dias.
“As
pessoas não se incomodam em saber o que estão consumindo e não possuem
interesse em saber e isso é um padrão comportamental que não é apenas do
brasileiro é personificação de outros países também”, esclareceu a médica.
Perfil dos usuários de cigarro eletrônico
A
pesquisa indicou que o uso de cigarro eletrônico a média de idade foi 27 anos,
sendo 52% na faixa etária de 18 a 25 anos, com a maioria dos usuários sendo
brancos, de classe média alta e com alta escolaridade. Aproximadamente 60% dos
entrevistados eram usuários iniciantes, enquanto 40% eram ex-fumantes de
cigarro tradicional, sendo que metade deles haviam deixado de fumar há algum
tempo e a outra metade trocou o cigarro convencional pelo vape.
O
estudo desmistifica o conceito de ser um produto mais seguro que o cigarro
convencional, especialmente no quesito dependência nicotina, com tentativas
pregressas de interromper o uso em mais de 70% dos usuários, chegando a 80% nos
usuários que reportam dependência moderada a intensa. Cerca de 40% dos usuários
estavam usando o produto a menos de 1 ano, cerca 46% usando de 1 há 3 anos e
18% usando há mais de 3 anos. A percepção da dependência se intensificou na
medida que o tempo de uso aumentou, e com isto a elevação das concentrações de
nicotina obtidas.
Considerações finais
A
pesquisa do InCor, juntamente com outras entidades de saúde, revela que a média
de idade total de usuários foi de 27 anos. O estudo destaca a urgência de se
aumentar a conscientização sobre os riscos do cigarro eletrônico, especialmente
entre os jovens. Embora esses dispositivos sejam frequentemente percebidos como
uma alternativa mais segura ao cigarro tradicional, os dados revelam que eles
apresentam riscos substanciais à saúde, com altos níveis de nicotina,
potenciais problemas respiratórios e emocionais, além de uma alta taxa de
dependência. A falta de regulamentação e controle sobre esses dispositivos no
Brasil também levanta sérias preocupações sobre a segurança e o bem-estar dos
usuários.
O
estudo reforça a necessidade de políticas públicas eficazes e de campanhas
educativas para proteger a saúde da população jovem e combater o uso indiscriminado
de cigarros eletrônicos.
* Dados
relevantes da Pesquisa
Cerca
de 60% nunca fumaram
Cerca
de 40% estão usando há um ano
Cerca
de 44% usam entre 1 a 3 anos.
Entre os que nunca fumaram, a curiosidade foi o principal motivo para experimentar
Entre os ex-fumantes o motivo de uso foi substituição ao cigarro comum e/ou para parar de fumar cigarro convencional
A forma como conheceram o produto foi:
66%
através de amigos e familiares; 16% publicidade (influencers); 18% conheceu o dispositivo
por pesquisa própria, sendo isto mais frequente entre ex-fumantes.
Com relação a nicotina
54%
revelaram não saber sobre nicotina
8%
afirmaram que o produto não continha nicotina, mas neste
subgrupo, a pesquisa encontrou nicotina em 55% nestes usuários
40%
referiam saber da presença da nicotina presente no dispositivo
Dados Sócios-Demográficos
Cerca
de 96% com a escolaridade superior
Renda
75%
possuem renda superior a R$ 2.500,00
50%
possuem renda superior a R$ 2.500,00
Etnia
70%
brancos
20%
pardos
8%
negros
2%
amarelos
*O
Laboratório de Toxicologia da Rede Premium de Equipamentos Multiusuários contou
como apoio da ACT – Promoção da Saúde.
InCor
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