Apesar de mais comum em pessoas com mais de 40
anos, estudos mostram que os casos estão aumentando em todo o mundo, inclusive
no Brasil
De alguns anos
para cá, médicos começaram a perceber um aumento da incidência de diabetes
mellitus tipo 2 (DM2) entre crianças e adolescentes. Apesar de isso estar
ocorrendo em várias regiões do mundo, os motivos para esse aumento ainda são
desconhecidos, mas acredita-se que esteja associado ao aumento marcante da
obesidade nesta faixa etária. Os casos ocorrem principalmente em crianças com
mais de 10 anos e são mais comuns em determinadas etnias (negros, asiáticos,
hispânicos e índios) e no sexo feminino, com antecedente familiar para DM2. O
diagnóstico desse tipo de diabetes, mais associado a fatores ambientais e
marcado por uma resistência do organismo à ação da insulina, é mais comum após
os 40 anos. Já o diabetes tipo 1, doença autoimune que ocorre quando o pâncreas
não produz esse hormônio, é mais associado a grupos mais jovens.
“É provável que o
aumento dos casos de DM2 entre adolescentes esteja associado ao sedentarismo e
à obesidade”, explica dra. Jaqueline Araujo, coordenadora do Departamento de
Diabetes Tipo 1 em Crianças e Adolescentes da Sociedade Brasileira de Diabetes.
Pesquisa publicada
em dezembro do ano passado no The BMJ, feita tendo como base dados do
estudo Carga Global de Doenças, apontou que a taxa de diabetes tipo 2 entre
adolescentes e adultos jovens (de 15 a 39 anos) cresceu 56% em todo o mundo
entre 1990 e 2019 - passou de 117 casos a cada 100 mil pessoas para 183 a cada
100 mil. No Brasil, um estudo multicêntrico feito 2019 e publicado no Pediatric
Diabetes Journal, mostrou que as prevalências de pré-diabetes e DM2 foram
de 22,0% (intervalo de confiança [IC] de 95% 20,6%-23,4%) e 3,3% (IC de 95%
2,9%-3,7%), respectivamente. Estima-se com estes resultados que hajam 213.830
adolescentes vivendo com DM2 e 1,46 milhão de adolescentes com pré-diabetes no
país, dados estes que precisam ser confirmados com mais estudos. (Link)
Por isso a SBD
destaca a importância do diagnóstico precoce, principalmente se a criança ou
adolescente tiver casos de DM2 na família e se estiver com sobrepeso ou
obesidade. “Os pediatras devem ficar atentos e pedir exame de glicemia
rotineiramente em crianças e adolescentes com sobrepeso ou obesidade, a partir
dos 10 anos de idade”, diz dra. Jaqueline.
O tratamento
inicial, na grande maioria dos casos, consiste em mudanças do estilo de vida,
com atenção especial à dieta e aumento de atividade física (60 minutos de
atividade física moderada diariamente). Também pode ser necessário o uso de
medicamento, como a metformina ou análogos do GLP1. Há casos mais graves,
porém, em que o médico já recomenda o uso de insulina.
Diabetes
duplo
Mais raro são os
casos em que uma pessoa pode ter tanto diabetes tipo 1 quanto diabetes tipo 2,
o que é conhecido como diabetes duplo. Isso ocorre quando a pessoa é
inicialmente diagnosticada com diabetes tipo 1 e depois desenvolve resistência
à insulina, uma característica comum do diabetes tipo 2. Isso pode ocorrer
tanto com crianças e adolescentes quanto com adultos.
“Existem algumas
razões para isso acontecer”, explica dra. Jaqueline. Ela cita os seguintes
fatores:
Genética e
histórico familiar: Algumas pessoas com diabetes tipo 1 podem ter uma
predisposição genética para desenvolver diabetes tipo 2, principalmente se
houver histórico familiar de diabetes tipo 2;
Obesidade: o
excesso de peso, fator associado ao diabetes tipo 2, também pode ocorrer em
pessoas com diabetes tipo 1, especialmente se não houver uma alimentação
balanceada ou se houver falta de atividade física. A obesidade pode aumentar a
resistência à insulina;
Resistência à
insulina: Embora o diabetes tipo 1 seja uma doença autoimune caracterizada pela
destruição das células beta do pâncreas, que produzem insulina, algumas pessoas
com tipo 1 podem, com o tempo, desenvolver resistência à insulina — um dos
principais mecanismos do diabetes tipo 2;
Uso prolongado de
insulina: O uso crônico de insulina, sem um controle adequado de dieta e peso,
pode levar a uma maior resistência à insulina;
Fatores ambientais: Sedentarismo, má alimentação e outros fatores ambientais podem contribuir para o desenvolvimento da resistência à insulina em indivíduos com diabetes tipo 1.
Como se vê, o diabetes duplo é uma combinação de uma condição autoimune com resistência à insulina e o tratamento pode incluir tanto o uso de insulina quanto intervenções destinadas a melhorar a sensibilidade à insulina, como medicamentos para diabetes tipo 2, mudanças no estilo de vida e na alimentação.
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