A convite da Inspirali, Dr Evaldo Stanislau orienta
a população sobre o assunto do momento
Decretada pela OMS
como emergência internacional, a Mpox tem deixado a população em estado de
atenção e com muitas dúvidas. Seria uma nova pandemia? Segundo o infectologista
Dr. Evaldo Estanislau, professor da Universidade São Judas e gerente de
Pesquisa Acadêmica da Inspirali, principal ecossistema de educação médica do
país, o estado de emergência foi decretado com o objetivo de acelerar os
procedimentos de contenção pois, embora seja uma doença de menor gravidade, com
menor impacto letal, ela tem um potencial de disseminação muito rápido. Confira
abaixo as orientações do especialista sobre o tema:
O que é a
Mpox?
R: Antiga varíola
dos macacos, a Mpox é uma doença viral transmitida por contato íntimo, que
tinha reservatório natural vindo da natureza, especialmente de pequenos animais
e dos macacos. Este vírus se transpõe para a espécie humana e tem uma
transmissão mantida no continente africano.
Por que ela
causou estado de emergência internacional?
R: Recentemente,
tivemos um surto a partir do continente africano que rapidamente se espalhou
pelo mundo todo e que, em um primeiro momento foi controlado. Porém, agora uma
nova variante do vírus surgiu e essa variante tem como característica uma maior
transmissibilidade, ou seja, ela se transmite com mais facilidade. Ela se
espalhou a partir da República Democrática do Congo, foi para países da África,
depois para países vizinhos e, rapidamente, virou uma emergência global com um
número muito grande de casos. Por este motivo, a OMS (Organização Mundial da
Saúde) decretou estado de emergência para dar o alerta e acelerar os
procedimentos de contenção deste espalhamento da doença, que foi potencializado
por esta nova variante. É importante deixar claro que uma coisa é decretar uma
emergência para uma doença grave com grande risco para a população geral, e
outra é decretar emergência para acelerar os procedimentos de contenção, pois
embora seja uma doença de menor gravidade, o que ela tem de potencial é uma
disseminação rápida por contato para grupos específicos que tem maior
vulnerabilidade. Em linhas gerais, esta emergência é uma medida de contenção.
A Mpox pode
ser fatal?
R: Ela é uma
doença de menor gravidade, mas é uma doença extremamente desagradável. Ela pode
sim ter excepcionalmente formas mais graves e essa nova variante eventualmente
pode sim causar uma mortalidade, porém, na maioria absoluta dos casos, é uma
doença de manifestação muco cutânea, ou seja, as pessoas terão algumas
erupções, feridas que duram de alguns dias a semanas, mas sobretudo restritas a
pele e a regiões mucosas do nosso corpo. Passado este período de 4, 6, no
máximo 8 semanas de evolução, essa doença tende a regredir, cicatrizar e as
pessoas, no máximo, terão cicatrizes. Então, é bem diferente de uma doença
respiratória. Não é uma doença desprezível, ao contrário, ela tem a sua
complexidade, mas ela é de um menor impacto letal.
Qual a melhor
forma de prevenção?
R: Uma das
principais razões da emergência é exatamente acelerar a fabricação de vacinas.
Nós temos vacinas disponíveis, mas temos poucos centros produtores e em uma
quantidade pequena. Além disso, uma característica epidemiológica da doença é
que ela se transmite em um contato de pele ou mucosa com a lesão, e esse
contato não é um contato qualquer, ele precisa ter uma durabilidade, um contato
íntimo, ou seja, atinge uma população de maior vulnerabilidade e mais
prioritária para receber a vacina. Além disso, outros objetos de uso comum,
como roupa de cama, toalha, vestuário, desde que em contato com lesões, poderão
também veicular a doença. Por isso que, além desse grupo de maior
vulnerabilidade, aglomerações, situações em que você está muito próximo a
outras pessoas como transporte público lotado, quando você está tendo contato
com uma lesão por exemplo, embora não seja o mecanismo preferencial, também
pode potencializar a doença.
Por que não é
recomendada uma vacinação em massa?
R: A razão de não
se recomendar uma vacinação para todos é, primeiramente, epidemiológica, ou
seja, você tem nitidamente grupos de maior vulnerabilidade. Em segundo lugar,
temos uma razão operacional, pois não temos vacina para todos. Além disso,
pessoas com mais de 50 anos seguramente já devem ter tomado vacina contra a
varíola, e há uma certa imunidade cruzada. Então faz bem a OMS em ter essa
recomendação: a doença tem se espalhado rapidamente e isso vai permitir que a
gente tenha vacina para este grupo mais vulnerável com mais rapidez e em
quantidade suficiente.
Quais os
principais sintomas da doença?
R: A Mpox é uma
doença que começa com mal-estar, febre e lesões na pele. Essas lesões formam
vesícula, ou seja, ficam elevadas, parecendo uma gota com líquido dentro. Essas
lesões podem aparecer de forma muito discretas, até escondidas, com difícil
visualização como na genital ou na parte interna da boca, e espalhadas na pele
como um todo de forma disseminada, com múltiplas lesões no corpo todo.
Aparecendo a lesão, o ideal é procurar por orientação médica.
Como é feito
o tratamento?
R: As lesões devem
perdurar por alguns dias a poucas semanas, vão evoluir para uma ferida, para
uma crosta, e vão sumir aos poucos. É muito importante que o diagnostico seja
feito por um médico em um laboratório especializado, que irá coletar um
material da lesão para usar a técnica de PCR que vai permitir a identificação
do vírus. Uma vez feito o diagnostico, o tratamento é sintomático.
A pessoa irá
cuidar para que estas feridas não se infectem, para que não tenham uma infecção
secundária – o que para populações idosas, com doenças crônicas ou
imunodeprimidas pode representar uma grande complicação. Existem os antivirais,
mas são medicamentos muito caros, inacessíveis para a maioria das pessoas e,
por este motivo na prática, o que fazemos é isolar os pacientes até que eles tenham
as suas lesões resolvidas e não transmita mais para ninguém, e tratar como
medicação sintomáticas e eventuais infecções secundárias.
Por que a
doença mudou de nome e não é mais conhecida como varíola do macaco?
R: Precisamos ter
muito cuidado com aquilo que rotulamos. Uma doença ligada ao macaco pode dar
margem a interpretações equivocadas e até com eventuais atos de crueldade
contra os macacos. Cientificamente, como hoje o mecanismo de transmissão é
inter-humano, e não do macaco, achou-se por bem adequar o nome para Mpox, que é
o nome mais correto e representa bem o momento atual da doença.
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