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quinta-feira, 25 de julho de 2024

Ministério da Saúde confirma primeiras mortes por febre Oropouche no Brasil

Crédito: witsawat sananrum
Sem precedentes na literatura científica mundial, as mortes por febre Oropouche apresentam sintomas semelhantes aos da dengue grave e preocupam autoridades de saúde devido à sua rápida expansão territorial


A febre Oropouche, transmitida por mosquitos, está se espalhando rapidamente pelo Brasil, causando preocupação entre especialistas em saúde. O Ministério da Saúde (MS) confirmou duas mortes pela doença, além de já ter registrado, este ano, 7.236 casos em 20 estados brasileiros. Até o momento, não havia relatos na literatura científica mundial sobre óbitos causados pela doença. Em comparação com o ano passado, houve um aumento de cerca de 690% no número de casos. A descentralização dos testes de PCR para laboratórios estaduais têm contribuído para a maior detecção de casos. Embora endêmica na Amazônia desde os anos 1960, a transmissão local do vírus Oropouche agora também foi confirmada em estados como Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Piauí. 

Carolina Lázari, infectologista e patologista clínica membro da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), explica que os sintomas da febre oropouche são muito semelhantes aos da dengue, com febre, dores no corpo, dores musculares e articulares, dor de cabeça, náuseas e, ocasionalmente, vômitos. "No entanto, manchas na pele, comuns na dengue, são raras na febre Oropouche. As complicações neurológicas, como meningite e encefalite, embora raras, podem ocorrer", ressaltou. 

De acordo com a especialista, a diferenciação entre a oropouche e outras arboviroses, doenças transmitidas por mosquitos, é um desafio. "Os sintomas são compartilhados por várias arboviroses. A oropouche e a dengue têm dores articulares difusas, sem sinais inflamatórios marcantes, ao contrário da chikungunya e do vírus Mayaro, que costumam causar dores articulares intensas com inchaço e vermelhidão", explicou Lázari acrescentando que a confirmação do diagnóstico só é possível por meio de exames laboratoriais. 

A patologista clínica da SBPC/ML enfatiza que o diagnóstico da doença é feito inicialmente por PCR, detectando o RNA do vírus até o quinto dia após o início dos sintomas. "Após o sétimo dia, a sorologia com pesquisa de anticorpos IgM e IgG torna-se a técnica recomendada. A sorologia para febre Oropouche é bastante específica, sem reatividade cruzada com outros arbovírus", explicou Lázari. 

No Brasil, o vírus oropouche circula tanto em ciclos silvestres quanto urbanos. No ciclo silvestre, mosquitos arborícolas infectam humanos acidentalmente ao picá-los em áreas de mata, mas primatas não humanos e bichos-preguiça são os reservatórios naturais que sustentam a circulação do vírus. No ciclo urbano, os mosquitos adaptados ao ambiente urbano transmitem o vírus de humano para humano, sem necessidade de reservatórios animais. O principal vetor é o mosquito Culicoides paraensis, conhecido popularmente como maruim ou mosquito pólvora. 

A disseminação do vírus está ligada a fatores como desmatamento, atividades de garimpo, avanço agrícola, construção de infraestruturas e crescimento urbano desordenado, que aproximam humanos de mosquitos silvestres e reservatórios naturais. Além disso, o aquecimento global e mudanças climáticas têm criado condições favoráveis para a reprodução dos mosquitos em novas áreas. Em 2023, foram registrados 835 casos da doença no Brasil. Em 2024, de acordo com o Ministério da Saúde, esse número já passa de 6,6 mil. Segundo ainda o Ministério, quatro mortes no Brasil estão sendo investigadas na Bahia, no Maranhão e em Santa Catarina. 

Sobre a prevenção, a especialista da SBPC/ML reforça que as medidas são semelhantes às da dengue, como controle ambiental para evitar criadouros de mosquitos e uso de repelentes e roupas protetoras em áreas de mata. "Não há vacina disponível para a febre oropouche, e o tratamento é focado no alívio dos sintomas, com hidratação e medicação para dor e náuseas", ressaltou Lázari.

Apesar da maioria dos casos terem evolução favorável, a doença pode apresentar recaídas após uma melhora inicial, e as complicações neurológicas, embora raras, podem ser graves, necessitando de cuidados intensivos. Carolina Lázari alerta para a importância de monitoramento da doença e controle de sua disseminação, especialmente em áreas urbanas, para evitar epidemias de larga escala.




SBPC/ML - Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial


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