A Dislexia, transtorno neurobiológico que afeta entre 5% e 10% das
crianças, tem implicações significativas no processo de aprendizagem da leitura
e, consequentemente, no bem-estar emocional. No entanto, o diagnóstico muitas
vezes ocorre tardiamente, o que pode comprometer todo o desempenho acadêmico e
o desenvolvimento socioemocional.
Na pesquisa “Reintroduzindo a Dislexia: Identificação Precoce e
Implicações para a Prática Pediátrica”, publicada no Jornal Oficial da Academia
Americana de Pediatria, é revelado que a Dislexia tem origem genética e
hereditária, ocorrendo em até 68% dos gêmeos idênticos de indivíduos
diagnosticados com o distúrbio e até 50% dos indivíduos que têm um parente de
primeiro grau com transtorno. Além disso, estudos indicam que alterações no
processamento cerebral característico desse transtorno específico da
aprendizagem são observadas antes mesmo do início do ensino formal da leitura.
Em outras palavras, muito antes da criança apresentar dificuldades
significativas no desenvolvimento escolar é possível identificar sinais de
risco para dislexia. E, assim que identificados, a intervenção é recomendada.
Os pediatras, como primeiro e principal ponto de contato no
desenvolvimento infantil, podem desempenhar um papel vital nesse processo.
Assim como a triagem para autismo foi incluída na caderneta de vacinação em
2022, uma alternativa para identificar sinais precoces de Dislexia também seria
adotar o mesmo recurso por profissionais de saúde. Essa abordagem preventiva
pode levar não somente a intervenções precoces, como ainda otimizar o
desenvolvimento cognitivo, educacional e emocional das crianças.
No âmbito clínico, os pediatras têm a possibilidade de integrar
avaliações de história familiar e questionários específicos durante as consultas
pediátricas. O que permitiria identificar crianças em risco, direcionando-as a
intervenções e avaliações mais detalhadas. O uso de "dias de triagem"
focados em alfabetização nas clínicas pediátricas mostram-se uma estratégia
eficaz para identificar precocemente fatores de risco para dislexia.
“O envolvimento dos pediatras nas discussões nacionais sobre
Dislexia é crucial quando se trata da identificação dos sinais precoce. Ele é o
profissional que acompanha a criança durante todo o seu desenvolvimento.
Atualmente, a análise de habilidades e competências relacionadas à aquisição de
leitura e escrita não estão sendo abordadas nas consultas de rotina. Com o
avanço das neurociências, sabemos quais são as habilidades precursoras da
alfabetização. Além disso, documentos nacionais normativos, como a Base
Nacional Comum Curricular, trazem parâmetros importantes sobre quando deve
ocorrer essa aprendizagem. Assim, não é preciso esperar a criança passar por
anos de fracasso escolar para olhar com atenção para o processo de
alfabetização. Entendemos que essa mudança na atuação dos pediatras pode
garantir o direito fundamental que toda criança tem de aprender a ler e
escrever.", defende Juliana Amorina, Diretora-Presidente do Instituto
ABCD.
Instituto ABCD
Nenhum comentário:
Postar um comentário