O check-up é indicado para pessoas de qualquer idade, auxiliando em uma melhor qualidade de vida
O
envelhecimento é um fenômeno relativamente recente na história da humanidade:
se hoje em dia é comum vivermos além dos 80 anos, essa era uma realidade
distante até há pouco tempo: em 1900, por exemplo, vivíamos, em média, 32 anos.
E, durante cerca de 200 mil anos, a média de vida das pessoas esteve abaixo de
30 anos. Esse salto, que nos permitiu existir por muito mais tempo, também
impõe desafios para a medicina: doenças relacionadas à idade, como Alzheimer,
crescem exponencialmente: só no Brasil, a proporção de pessoas com a doença
aumentou 127% em três décadas, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Mas é
possível preveni-la? A ciência ainda busca respostas e soluções mais objetivas
em relação à prevenção e cura, mas já é consenso entre os especialistas: o
diagnóstico precoce e as mudanças no estilo de vida são fundamentais para
evitar e/ou retardar o avanço da doença, melhorando a qualidade de vida dos
pacientes. Realizar um check up global, que inclua um rastreio para avaliar as
funções cognitivas é a melhor forma de antecipar cenários, diz a
endocrinologista Dra. Alessandra Rascovski, diretora médica da Clínica
Rascovski e idealizadora da iniciativa 'Cérebro em Ação', que alerta sobre os
12 fatores de risco mais associados ao desenvolvimento de demência no Brasil.
“Em geral, as pessoas buscam esse rastreio somente quando já
percebem algum problema que atrapalhe a sua vida. Pode ser, por exemplo, um
esquecimento muito frequente, uma dificuldade de planejamento. E aí, vamos
avaliar como está a saúde do cérebro naquele momento”.
E,
segundo a especialista, nem sempre essa conclusão é necessariamente o
diagnóstico de uma doença. “A gente, naturalmente, vai diminuindo nossas
funcionalidades e habilidades conforme envelhece, o que não significa que se
tornará um diagnóstico de demência ou de outra enfermidade. E, sabendo em quais
circunstâncias estamos, podemos agir para mudar: desde quimicamente, com
medicamentos, e também no estilo de vida, modificando hábitos”, comenta.
Cérebro
jovem mesmo na velhice
E o
que faz com que essas mudanças sejam possíveis é a neuroplasticidade, um
fenômeno natural do cérebro, que tem o poder de se modificar a partir de
diferentes tarefas e novos desafios, como explica a fonoaudióloga Dra. Ana
Alvarez. “Não há uma idade determinada para se fazer um rastreio
neurocognitivo, porque as habilidades sempre podem ser ampliadas, melhoradas”,
comenta.
De uma
forma geral, o rastreio cognitivo inclui análise multissensorial, da memória
espacial, acuidade auditiva, atenção, velocidade, planejamento, inibição,
memória e flexibilidade. “Fazemos isso por meio de um protocolo de
procedimentos desenvolvido por nós em que usamos métodos de avaliação
tradicionais somados a uma triagem multissensorial, de função auditiva central
e realidade aumentada imersiva para chegar a uma conclusão”, explica.
Os
12 fatores que aumentam as chances de desenvolvimento do Alzheimer
Hipertensão. Manter a pressão arterial controlada
é fundamental e é considerado um dos mais importantes fatores para prevenir a
doença, mas não só ela: diversas complicações cardíacas podem ser evitadas,
além de casos de AVC. “O ideal é sempre ter uma pressão arterial de até 13 por
9”, explica a especialista. Quem já tem a doença, que também tem causas
genéticas, deve usar medicação diária para controlar os índices.
Estilo
de vida.
Controlar o peso e manter um estilo de vida saudável, com a prática de
exercícios físicos, sono adequado, controle do estresse, não fumar e consumir
bebida de forma moderada, são fundamentais. Visto que a obesidade, o tabagismo,
o alcoolismo e o sedentarismo também são causas importantes nas chances de
desenvolver a doença. “A gente vê que são fatores ligados à saúde como um todo
e faz sentido: o cérebro não está alheio à saúde do resto do corpo”, comenta
Dra. Alessandra Rascovski.
Isolamento
social.
Depressão e isolamento social são outras das possíveis causas para aumento nas
chances de desenvolver a doença. “A gente sabe que a pandemia fez com que esses
índices aumentassem muito por conta das medidas sanitárias. Mas é importante
que as pessoas retomem seus contatos sociais, mesmo que aos poucos, e busquem
acompanhamento psicológico e ajuda, caso tenham dificuldade. Somos seres
sociais e precisamos estar em contato contínuo com outros para vivermos bem”,
afirma a médica.
Contexto
socioeconômico e poluição. O nível de escolaridade é considerado o principal fator para a
doença no Brasil. O estímulo ao cérebro e o aprendizado até principalmente os
12 anos de idade são ferramentas fundamentais para a saúde do órgão. Outro
fator de contexto social é a poluição do ar, também apontada como de risco para
o Alzheimer. “Países em desenvolvimento, como o Brasil, tem uma população mais
vulnerável a esses fatores. A falta de equidade no acesso aos serviços com
certeza atrapalha a saúde da população e é um fator que precisa de atenção dos
governos”, ressalta.
Diabetes. Doença multifatorial das mais
incidentes em todo o mundo, o diabetes também influencia o cérebro, inclusive
nas chances de desenvolvimento do Alzheimer. Segundo a especialista, “aqui
entra a fórmula de controle de peso, atividade física, alimentação saudável,
sono e gerenciamento do estresse. Para quem já foi diagnosticado, o uso correto
e controlado da medicação contribui para um melhor manejo da doença”.
Perda auditiva. Nesse caso, além de sempre ir ao otorrinolaringologista para manter a saúde auditiva em dia, vale lembrar que no Brasil, existem mais de 15 milhões de pessoas com algum grau de deficiência auditiva, isso equivale a pouco mais de 7% da população total do país. Pessoas com alguma perda mesmo que leve, sem uso de aparelhos corretivos ou reabilitação, tem risco >42% de desenvolver demência.
Outros
fatores. A
publicação da Lancet Commission também incluiu traumatismo craniano como fator
que influencia para o desenvolvimento de Alzheimer. “O trauma normalmente
acontece por conta de acidentes, por isso a proteção com capacetes e atenção
nos esportes com vulnerabilidade a lesões na cabeça, é essencial”, pontua a
médica Alessandra Rascovski.
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