Divulgação Dr. Cléber Furlan Ortopedista |
Especialista recomenda medidas que evitam quedas e lesões mais sérias em pessoas acima de 60 anos
Com o avanço da idade, o sistema nervoso acompanha
o envelhecimento com uma alteração da marcha (um termo que designa o ato de
caminhar). Segundo o médico ortopedista Cleber Furlan, membro da Sociedade
Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), uma pessoa jovem e saudável
apresenta uma flexão maior dos joelhos e do quadril e tornozelos, ou seja, está
sempre adaptada a qualquer desequilíbrio da marcha. Em idosos, entretanto, a
marcha se torna mais lenta devido às artroses de joelho, quadril ou coluna, o
que muda o ângulo de pisada de acordo com o desgaste das articulações e sua
adaptação a uma nova realidade de envelhecimento.
Com isso, o joelho dobra menos, assim como os pés e
o tornozelo, e o quadril apresenta menor mobilidade. “A coluna, às vezes com
dor, acaba inclinando o corpo para frente, ou seja, muda a marcha e o ponto de
apoio dos pés, o que compromete o centro de equilíbrio do corpo, normalmente
localizado próximo à região do umbigo”, explica o especialista.
Ao alterar esse equilíbrio, as formas de pisar e de
andar também são modificadas. Em razão das artroses e das dores, o passo e a
amplitude da marcha diminuem, gerando maior predisposição ao desequilíbrio (uma
menor área de apoio e equilíbrio). “Junto a isso, existem algumas doenças
neurológicas que causam diminuição da força, uma atrofia muscular, perdas de
sensibilidade e, que também podem ser desencadeadas por doenças associadas,
como a diabetes”, alerta Furlan.
No caso de uma pessoa diabética, perde-se a
sensibilidade distal dos pés, semelhante a uma sensação de anestesia, o que
afeta a propriocepção - que é o quanto o corpo se reconhece no espaço que ocupa
-, e leva a uma alteração da marcha, que predispõe ao desequilíbrio. A marcha
de um paciente jovem é equilibrada, forte, cadenciada e fluida, enquanto a de
um idoso pode apresentar um certo balanço, menos cadenciada, implicando riscos
de quedas tanto de frente quanto de lado, principalmente para pessoas acima dos
70 anos.
Pesquisas revelam que, no Brasil, cerca de 29% dos
idosos caem ao menos uma vez ao ano e 13% caem de forma recorrente. A
estimativa da incidência de quedas por faixa etária é de 28% a 35% nos
idosos com mais de 65 anos e, de 32% a 42% naqueles com mais de 75 anos. Segundo
dados do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO), 40% dos
idosos com 80 anos ou mais sofrem quedas todos os anos. Dos idosos que
moram em instituições de longa permanência, asilos ou casas de
repouso, 50% podem cair.
Pensando nisso, é fundamental preparar a casa para
evitar quedas e prevenir situações de desequilíbrio. Um tapete ao lado da cama,
por exemplo, pode representar perigo aos idosos que sofrem de doenças
articulares ou tomam medicações diuréticas para pressão alta. Nesse sentido, a
altura da cama e do carro também devem ser mais elevadas para a entrada e saída
do idoso, que acaba exigindo menor esforço do quadril e da coluna para esses
movimentos do dia a dia.
Da mesma forma, o uso de rampas com baixo grau de
inclinação em vez das escadas implica menor ocorrência de flexão do quadril e
dos joelhos, o que força menos as articulações dos membros inferiores quando
aliado a um apoio (barras), como uma barra lateral. “Barras pela casa,
principalmente nos lugares onde você senta e levanta, são fundamentais para
diminuir o peso ou a força exercida nas articulações, principalmente dos
membros inferiores, e te ajudar no equilíbrio, já que há um desequilíbrio pelo
próprio envelhecimento, tanto desequilíbrio dinâmico e estático”, complementa o
ortopedista.
O uso de calçados também exige atenção. Chinelinhos
de dedo, por exemplo, são mais práticos de se calçar, mas exigem mais força no
tornozelo, nos dedos do pé, o que pode levar à queda. A pessoa que sofre de
diabetes ou de alguma doença neurológica, por sua vez, tem menos força, sendo
recomendado o uso de sapatos confortáveis, de sandálias que prendam a parte de
trás dos pés, tênis com solados confortáveis e que não sejam apertados. Além
disso, o uso de meias com borrachas e material antiderrapante também são
bastante indicados, já que evitam escorregamento e situações de risco.
No banheiro, a altura da pia não pode ser muito
baixa e nem muito alta. O vaso sanitário tem que ser um pouco mais alto para
que o idoso consiga sair de uma cadeira ou do andador e já estar em uma posição
sentada mais facilmente. “Sanitários baixos forçam muito as articulações que já
estão comprometidas e o neurológico, exercendo maior demanda muscular e articular,
o que não é bom”, esclarece Furlan.
Barras de proteção na região do vaso sanitário e do
chuveiro são fundamentais nos casos de mal súbito, de um enfraquecimento na
hora do banho ou até por conta das dores, sendo necessário o apoio para não
ocorrer a queda. Por se tratar de uma região onde se tem água e sabão,
inclusive, são maiores as chances de desequilíbrio, portanto o cuidado deve ser
dobrado, sendo ideal que os tapetes sejam aderentes ou ausentes.
Na cozinha, de forma geral, é recomendado tomar
cuidado com o fogão e o manuseio de panelas. Na lavanderia, a altura dos varais
não pode sobrecarregar a pessoa idosa ao ponto de ser necessário se inclinar
para pendurar a roupa, ou seja, prefira equipamentos que possibilitem regular a
altura para evitar a hiperextensão das articulações e prevenir quedas. Deve-se
tomar bastante cuidado também com as banquetas, sendo preferíveis as cadeiras
de quatro pernas para evitar o desequilíbrio e escorregamento.
De forma geral, dedica-se especial atenção às tomadas, principalmente de casas mais antigas, que devem estar em alturas mais confortáveis para conectar carregadores e demais equipamentos eletrônicos de forma segura. Assim, o idoso não força posturas desconfortáveis e não compromete as articulações com esforços desnecessários e que levem a quedas e possíveis fraturas.
Dr. Cleber Furlan - Médico ortopedista, também Mestre em Ciências da Saúde pela FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) e Doutorando em Cirurgia pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). Furlan é especialista em Cirurgia do Quadril, bem como membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia e da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Quadril.
https://www.cleberfurlanmedicina.com.br/
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