O sacerdote de Candomblé do culto Jeji Savalú, Vitor Friary, que vai desfilar pela vermelho e branco de Niterói, que levará para a avenida o enredo “Arroboboi, Dangbé”, em homenagem aos cultos de Vodun, de Benin, na África fala sobre o significado espiritual desse enredo. A Unidos do Viradouro entra na Sapucaí no dia 12 de fevereiro, celebrando a energia do culto ao vodun serpente, sob o comando do carnavalesco Tarcísio Zanon.
Vitor, que nasceu em Niterói, fala sobre a importância do tema do enredo, que ainda é muito estigmatizado na sociedade:
“A África é conhecida pelos seus mistérios, riquezas culturais e espirituais. Existem milhares de etnias nos territórios africanos e uma diversidade enorme de culturas. Uma delas, e de fato uma sociedade historicamente significativa foram os Fon. Os povos oriundos da região do Daomé desempenharam um papel muito forte na formação do candomblé. Conhecido como povo Jeje, o antigo Império do Daomé ficou conhecido pela sua resistência e luta contra os ambiciosos Yorubá de Oyó e pelo seu exército feminino, as Agojiê, que, inclusive, inspiraram a produção do filme A Mulher Rei, com Viola Davis. Dangbé é uma das mais importantes divindades do povo Jeje. Ele é representado por uma serpente. E o seu principal templo fica na cidade de Ouidah, que tive a enorme felicidade de visitar pessoalmente em 2023. Quando louvamos Dangbe pedimos que sejamos flexíveis e resistentes às adversidades. Dangbé é o elo entre o céu, e tudo que é celestial, e a terra e todos os seres. Sem Dangbé não há vida e não há resistência”, explicou o sacerdote.
Sobre a serpente que a agremiação vai trazer para a Avenida, o sacerdote explicou que:
“O papel desempenhado pelas mulheres que aportaram no Brasil para o culto de Dangbe no país foi muito marcante historicamente. A Viradouro vem falando sobre uma personagem importante do povo Jeje no Brasil que é a Vodunon Ludovina Pessoa, que ergueu duas importantes casas de culto à Serpente Sagrada em solo brasileiro. Como Ludovina, outras mulheres tiveram um importante papel na manutenção e proteção do império do Daomé. Nesse contexto, Dangbe se associa ao feminino como resistência e força, pois eram as mulheres que defendiam o Rei do Daomé, eram também as mulheres que desempenhavam um papel essencial no culto dos Voduns. A Serpente Dangbe é símbolo da vida, e o feminino é o ventre que dá luz à vida. A ligação entre Dangbé e o Feminino é a própria fertilidade”.
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