A estratégia alternativa baseia-se na oxidação do propano usando cloreto de ferro como catalisador homogêneo na presença de luz (foto: Vitor Gabriel Pastana) |
Considerada um insumo essencial na indústria química, a acetona geralmente é produzida por meio de um processo elaborado e perigoso. Uma estratégia mais sustentável foi desenvolvida por cientistas da UFSCar, da UFMG e colaboradores da Alemanha
Insumo essencial na indústria
química, a acetona é utilizada na fabricação de uma grande variedade de
produtos, como adesivos, antibióticos, componentes eletrônicos, solventes e
removedores, tintas de impressão e vitaminas, entre outros. Seu processo de
produção, no entanto, é elaborado e perigoso. Para simplificá-lo, torná-lo mais
seguro e diminuir custos, um grupo de pesquisadores do Brasil e da Alemanha
desenvolveu um método inédito, que utiliza apenas luz e um composto químico
barato: o cloreto de ferro (FeCl3).
Os resultados da
pesquisa, financiada pela
FAPESP, foram publicados no periódico ACS
Catalysis.
Conhecido como Hock ou cumeno,
o processo padrão de fabricação de acetona envolve diversas etapas:
primeiramente, o propano – subproduto do petróleo – é transformado em
propileno, um gás extremamente inflamável que reage com o benzeno e, em
seguida, com o oxigênio a altas temperaturas e pressões para dar origem à
acetona. Essas reações também geram um composto denominado fenol – que tem
demanda menor e gera custo para ser transformado em substâncias de maior valor.
O método alternativo, proposto
por cientistas das universidades Federal de São Carlos (UFSCar), Federal de
Minas Gerais (UFMG) e do Max Planck Institute of Colloids and Interfaces
(Alemanha), baseia-se na oxidação do propano usando cloreto de ferro como catalisador
homogêneo na presença de luz (reação fotocatalítica).
“Descobrimos que, ao ser
irradiado com determinados comprimentos de onda, o cloreto de ferro gera o
radical cloro, que é extremamente oxidante e faz a ativação da ligação CH, ou
seja, quebra a ligação entre carbono e hidrogênio, dando origem a um radical
que, na presença de oxigênio, leva à formação de acetona”, explica Ivo Freitas Teixeira,
professor do Departamento de Química da UFSCar e coordenador do estudo.
“Realizamos uma reação muito importante de maneira absolutamente diferente e
utilizando elementos muito simples.”
A comprovação de que a reação
foi realmente conduzida por radicais de cloro gerados pela fotólise da ligação
Fe-Cl foi feita por meio de estudos mecanísticos, incluindo análises de
espectrometria de massa (que permitem identificar os componentes de uma mistura
com base no peso molecular de cada elemento).
Entre as vantagens do novo processo
estão o fato de ele ser direto (não há produção de propileno em etapas
intermediárias) e mais seguro, pois não envolve reações de oxigênio em altas
pressões e temperaturas nem intermediários inflamáveis e perigosos. Além disso,
reduz o gasto de energia e o custo, pois possui menos etapas e ocorre à
temperatura ambiente de 25 °C.
Apesar de os experimentos terem
utilizado uma fonte de luz do tipo LED, a ideia é que, no futuro, ela possa ser
substituída por luz solar, tornando o método ainda mais sustentável.
Depósito
de patente e próximos passos
Com a patente já depositada no
Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), a ideia agora é
buscar parcerias com empresas para financiar o escalonamento do novo processo
para nível comercial.
“Esse método pode se tornar
absolutamente disruptivo para a produção de acetona na indústria química,
tornando o processo mais seguro e sustentável e viabilizando uma rota para a
produção unicamente de acetona, o que reduziria custos e traria
competitividade”, diz Teixeira.
De acordo com o pesquisador, o
principal desafio, nesse caso, se deve ao fato de que, na indústria
petroquímica, os processos acontecem em grande escala e atualmente não existe
nenhum método comercial fotocatalítico.
O projeto de pesquisa também
segue evoluindo em duas direções: ao mesmo tempo em que testam o novo método
com outras substâncias, como metano, os pesquisadores agora já pensam, também,
em maneiras de escalonar o processo e adaptá-lo à indústria para que se consiga
produção e aproveitamento maiores.
O artigo Direct
Synthesis of Acetone by Aerobic Propane Oxidation Promoted by Photoactive
Iron(III) Chloride under Mild Conditions pode ser lido em: https://pubs.acs.org/doi/full/10.1021/acscatal.3c02092.
Julia Moióli
Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/metodo-permite-obter-acetona-de-forma-mais-simples-segura-e-barata/44749
Nenhum comentário:
Postar um comentário