Nas análises realizadas pela Fundação MT, foi identificado 50% de ocorrência do complexo de fungos Diaporthe/Phomopsis e 61% de frequência de Colletotrichum spp em amostras coletadas em Sorriso-MT
Com experimentos a campo instalados em Sorriso e
Nova Mutum, municípios no norte e médio-norte de Mato Grosso, respectivamente,
os pesquisadores da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso
(Fundação MT) já avançaram em alguns pontos acerca da temática ‘anomalia das
vagens de soja e quebramento das hastes’. O problema vem ocorrendo há quatro
safras, especialmente nas lavouras do eixo da BR-163, e é acompanhado por uma
rede composta por instituições de pesquisa, empresas de melhoramento genético,
consultorias e sementeiras desde a safra 2021/22.
Resultados recém obtidos pela instituição apontam
frequência de 50% de ocorrência do complexo de fungos Diaphorte/Phomopsis
e 61% do fungo do gênero Colletotrichum spp, agente causal da
antracnose, tanto na haste como na vagem de soja. A estratégia de coleta das
amostras buscou contemplar os mais contrastantes cenários: plantas sintomáticas
para anomalia e quebramento em cada uma das cultivares, a sensível e a menos
sensível (não necessariamente imune a cada problema), bem como plantas sadias
nas mesmas cultivares.
Isso gerou a base de comparação necessária que a
pesquisa precisa para dar o próximo passo na direção da compreensão das causas
dos dois problemas. Os resultados indicaram a presença de Diaphorte
em situações nas quais não havia nenhum sintoma externo de quebramento e
anomalia, nem a presença de estrias.
Karla Kudlawiec, pesquisadora da área de
Fitopatologia e Biológicos da Fundação MT e uma das responsáveis pelos
experimentos, destaca que agora estão sendo aguardados os resultados das
análises moleculares. “Também vamos continuar com as coletas e avaliação ao longo
do tempo de materiais semeados em outras épocas e verificar a frequência de
ocorrência desses principais patógenos. Além disso, seguimos averiguando se
tanto o quebramento da haste como anomalia das vagens são causados por um mesmo
agente ou se são coisas distintas”, define.
A parte molecular vai ajudar a entender quais são
as espécies envolvidas e quais fatores podem modular a ocorrência ou não do
problema, já que as análises encontraram o fungo Diaphorte mesmo
quando não havia sintoma. A pesquisadora complementa que, embora essa linha de
pesquisa seja a mais estudada nesse momento, outras linhas que envolvem a
interação com nutrição das plantas e respostas de hipersensibilidade da planta
ainda seguem em avaliação, uma vez que a Fundação MT possui diversos ensaios
que podem contribuir com mais respostas.
Cenário da safra
Até este momento da safra 2022/23, tanto a
incidência como a severidade dos sintomas de anomalia das vagens e quebramento
das hastes estão menores com relação à safra passada. No entanto, os
pesquisadores alertam que nada impede que esse cenário mude, inclusive já há
progressão do problema. “De modo geral, em nossa estação em Sorriso e nas
lavouras comerciais que tivemos reportes dos produtores, os sintomas nesta
safra surgiram no estádio R6, diferente do ano passado que foi em R5 e R5.4”,
explica Felipe Araújo, pesquisador de Fitotecnia e também responsável pelos
experimentos.
As diferenças, de acordo com os especialistas,
podem estar relacionadas às condições climáticas do ciclo atual, com estádios
fenológicos durando mais tempo e assim os sintomas sendo observados mais tarde.
Outra possibilidade apontada para a menor severidade de sintomas pode ser, por
parte do produtor, pela utilização de materiais genéticos menos sensíveis ao
problema. Além disso, pela construção de programas de fungicidas mais robustos,
que levam em conta desde a seleção de produtos como também a adição de mais
produtos em cada timing, e a ampliação do tempo de cobertura da cultura pelo
programa.
Neste ponto, inclusive, também já há novidades
positivas destacadas pelos pesquisadores. Nos ensaios de anomalia e quebramento
da Fundação MT, também são avaliados fungicidas para mitigação do problema e os
resultados variam de 4% a 24% de incidência com o uso de fungicidas e sem
aplicações, respectivamente. “Várias misturas que envolvem distintos grupos
químicos estão apresentando resultados positivos, assim como fungicidas
multissítios também estão somando positivamente”, relata Karla.
Fundação MT
www.fundacaomt.com.br
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