Pesquisa da Coalizão COVID-19 Brasil
mostra complicações tardias na população brasileira devido à infecção. Estudo
avaliou 1.508 pacientes durante um ano, após alta hospitalar
A Coalizão COVID-19 Brasil — aliança para condução de
pesquisas, formada por Hospital Israelita Albert Einstein, Hcor, Hospital
Sírio-Libanês, Hospital Moinhos de Vento, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, BP - A
Beneficência Portuguesa de São Paulo, o Brazilian Clinical Research Institute
(BCRI) e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet) — conduz
estudos clínicos sobre tratamentos e os impactos do coronavírus na saúde. Um novo
estudo foi publicado pelo Intensive Care
Medicine, periódico científico oficial da Sociedade Europeia de Medicina
Intensiva. O Coalizão VII analisou a associação entre gravidade da COVID-19 em
sua fase aguda e a qualidade de vida em longo prazo.
Após um ano de acompanhamento de pacientes que receberam alta após
internação por COVID-19 em instituições brasileiras, os pesquisadores
identificaram que quadros de maior gravidade da doença durante a hospitalização
— definidos pela necessidade de ventilação mecânica, por exemplo — estão
associados a maiores impactos na qualidade de vida e piores resultados nos
desfechos de mortalidade, eventos cardiovasculares maiores, re-hospitalizações,
novas incapacidades para atividades diárias, sintomas de ansiedade e estresse
pós-traumático e dificuldade de retorno ao trabalho ou aos estudos.
Um dos principais achados é o alto percentual de pacientes que
relataram novas incapacidades, como dificuldade de se locomover, de cuidar da
própria higiene, fazer compras e administrar suas finanças. Entre os que
necessitaram de ventilação mecânica, esse índice foi de 47%.
O estudo identificou que uma em cada quatro pessoas intubadas
durante o tratamento precisou ser internada novamente ao longo dos 12 meses
subsequentes. Além disso, 5,6% tiveram infarto, AVC ou morreram por doença
cardiovascular, o dobro da taxa entre pacientes que não exigiram suporte
respiratório durante a internação.
Os impactos na saúde mental também preocupam os pesquisadores. A
prevalência de transtorno do estresse pós-traumático (TEPT) em pacientes que fizeram
uso da ventilação mecânica foi o dobro daquela da população brasileira em
geral. Além disso, um em cada quatro apresentou sintomas de ansiedade. Esse
acometimento de saúde mental, somado às incapacidades físicas relatadas, está
associado à redução significativa da qualidade de vida.
A taxa de mortalidade pós-alta hospitalar nos pacientes intubados
durante o tratamento para a COVID-19 foi de 8% ao longo dos 12 meses, enquanto
entre os que não precisaram de suporte ventilatório era de 2%.. De acordo com
os pesquisadores, a ventilação mecânica é um marcador importante de gravidade
da doença e indica um grau maior de comprometimento pulmonar e de outros órgãos
— não é a técnica o que provoca o dano (ao contrário, ela ajuda a salvar
vidas), mas é um indicativo de que aquele indivíduo vai precisar de um
tratamento prioritário na reabilitação.
Os pacientes
Os pesquisadores acompanharam 1.508 pacientes, internados em 84
hospitais do Brasil, e que participaram dos demais estudos da Coalizão. Os
voluntários foram classificados em quatro grupos: os que não precisaram de
suporte de oxigênio; os que receberam oxigenação por meio de máscara ou cânula
nasal; os que necessitaram de ventilação não invasiva ou oxigênio por cateter
nasal de alto fluxo; e os que foram intubados e necessitaram de ventilação
mecânica. Os contatos para monitoramento da qualidade de vida, dos sintomas
persistentes, complicações de saúde e outras doenças, foram realizados através
de entrevistas telefônicas, aos três, seis, nove e 12 meses após a alta.
A importância do Coalizão VII
Muitas consequências da COVID-19 ainda são desconhecidas e
preocupam especialistas no mundo inteiro. A Organização Mundial da Saúde (OMS)
recomenda três passos para enfrentar esse desafio: reconhecer e encontrar esses
pacientes, priorizar a reabilitação deles e investir em pesquisa.
O estudo, ao fazer a associação das sequelas, impactos e danos
para a qualidade de vida à gravidade dos casos, ajuda a identificar as
populações de maior risco e que precisam ter prioridade no tratamento e na
reabilitação. De acordo com o Comitê Científico da Coalizão COVID-19 Brasil,
saber quem necessitou de ventilação mecânica é uma forma de buscar esses
pacientes e incluí-los em programas específicos para que sejam reabilitados.
A pesquisa também alerta para a necessidade de rastreamento dos
pacientes pós-alta, pois muitos morrem em decorrência de complicações da
doença, mas constam nos levantamentos como recuperados. Outra medida importante
é preparar os profissionais para atuarem precocemente na reabilitação.
Os outros estudos da Coalizão COVID-19 Brasil que serão
publicados
- Coalizão VIII -- Avaliou se anticoagulação com
rivaroxabana previne agravamento da doença com necessidade de
hospitalização em pacientes não-hospitalizados com COVID-19. Foi
finalizado e será submetido à publicação.
- Coalizão IX -- Avaliou se drogas antivirais isoladas
e/ou em combinação entre si são efetivas para tratar casos de COVID-19
hospitalizados com doença moderada. Os antivirais testados foram
atazanavir e daclatasvir associados a sofosbuvir. Foi concluído e
submetido à publicação.
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