Realidade, futuro ou mais do mesmo aprimorado?
Se
você ainda não ouviu falar de ChatGPT,
uma rápida busca no Google vai te dar o contexto necessário. Não vou explicá-lo
por que quero seguir um pouco adiante sobre as coisas que ele pode fazer, e
principalmente, as coisas que ainda não pode.
Sim, a IA generativa já dá mostras de como vai mudar o mundo. Ela avança sobre
o território que sempre achamos que estava além da fronteira das máquinas: a
criatividade humana. DALL-e, Stable Difusion, ChatGPT e outras
muitas tecnologias que vieram à luz nos últimos meses de 2022 mostram que robôs
agora sabem criar tão bem ou melhor que a maioria dos humanos.
Mas dois conceitos são importantes aqui. Inteligência artificial tem por
objetivo imitar a nossa. Além disso, inteligência é diferente de consciência.
Esses sistemas não sabem o que estão fazendo, ainda que reproduzam
características humanas com enorme eficiência.
Mas enquanto a Open AI discute acordos
bilionários com a Microsoft e fundos de investimento, qual o seu potencial
real neste momento? Porque a tecnologia vai evoluir e rápido ( GPT4
está previsto para o primeiro semestre de 2023 ), mas existem limitações
importantes na tecnologia que ainda a impedem de se tornar uma ferramenta de
negócios.
Devo começar por dizer que, apesar da sua fluência notável, o ChatGPT é apenas
o enchedor de linguiça mais poderoso de todos os tempos. Ele não tem nenhum
compromisso com a realidade, por duas razões. A primeira é que ele não entende
a realidade. Isto é, ele não tem uma história pessoal, nenhuma sensação que o
conecte ao mundo físico, auto-crítica, freios morais ou comportamentais,
relações pessoais, ética ou bom senso. O que ele faz, simplesmente, é buscar
materiais já produzidos por alguém, em algum lugar, e os reempacotar de maneira
esperta, baseados em parâmetros dados pelo usuário.
De fato, a lógica inicial da IA Generativa era buscar a próxima palavra que
mais faria sentido numa frase, simplesmente isso. Um jogo de montar que cresceu
com o poder computacional para bilhões de parâmetros ( um parâmetro é um
pequeno bloco de texto digerido na internet ) deixando o resultado cada vez
mais sofisticado.
No exemplo “me entregue uma receita de torta de banana em formato de Haikai”, a
ferramenta não sabe o sabor da torta, e nada, absolutamente nada, o impede de
colocar fentanyl na receita. Não que ele vá fazer isso, até porque poucas
pessoas colocam fentanyl numa torta de banana e, portanto, os algoritmos do
ChatGPT dificilmente vão achar algo assim, mas o fato é que ele PODE fazer isso,
e aí vem sua segunda limitação séria.
IA generativa é um modelo de Deep Learning e, portanto, uma caixa preta. Não se
entende ou explica que parâmetros a tecnologia usa para chegar a uma resposta,
e mais, esses parâmetros não são alteráveis, a não ser com força bruta (
re-treinamento de milhares ou milhôes de blocos de aprendizado ).
Portanto, ainda não é possível usar o ChatGPT como um chatbot normal, porque
neste último é necessario que a resposta de saída seja controlada, e a IA
generativa ainda é um cavalo selvagem, que faz o que quer, mesmo sendo lindo de
se olhar.
Do ponto de vista prático, o que a OpenAI (criadora do chatGPT e do Dall-e) faz
hoje é uma programação de chatbot ao contrário. Ao invés de programar o que ele
vai dizer, eles criam o que chamam de guardrails para impedi-lo de dizer certas
coisas. Isso significa que a ferramenta ainda precisa de curadoria ou
supervisão, não para dizer o que queremos que ela diga, mas para impedi-la de
exprimir opiniões perigosas. Normalmente, esses guardrails se aplicam para
elementos críticos de discurso, tais como racismo, sexismo e violência. É
impossível supervisionar tudo, então a ferramenta está livre para dizer
besteiras enormes, o
que faz com frequência.
O desafio que se tem, portanto, é conseguir criar modelos eficientes de IA
generativa com menos parâmetro de treinamento, que permitam mais flexibilidade
no uso da ferramenta. Isto posto - e essas são notas técnicas -, o potencial
comercial e de disrupção social do que temos visto até agora é profundo e
merece um artigo à parte, que vou escrever em breve.
Alex Winetzki -
CEO da Woopi e diretor de P&D do Grupo Stefanini, referência em soluções
digitais.
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