Os acontecimentos dos últimos anos demonstraram que “planejamento” é um recurso insuficiente para garantir a resiliência dada à complexidade e à imprevisibilidade do futuro. O que precisamos é ampliar a nossa capacidade de imaginar e elaborar cenários e investir consistentemente em habilidades que nos levem a reagir de forma coerente e consistente – chamo isso de “preparação” para o futuro.
A Tecnologia nos ajudou a sobreviver aos desafios impostos pela pandemia e transformou a forma como trabalhamos e vivemos. Ao mesmo tempo, deu origem ou alimentou o crescimento de desafios que devem ser considerados nos cenários para os quais devemos capacitar nossas organizações. Nesse artigo, aponto tendências que devem se destacar em 2023:
1. A
segurança cibernética se consolida como um dos principais riscos de negócios e
desafios de resiliência empresarial. Segundo
pesquisa do Gartner, 88% dos conselhos já reconhecem a
segurança cibernética dessa forma, e não como um risco eminentemente técnico.
Ransomware hoje é um negócio organizado, profissional e sofisticado, com
marketing, marketplace digitais e estruturas financeiras sofisticadas. Esse
modelo chegou a ser batizado de RaaS (“Ransomware as a service” ou ”Ransomware
como serviço”). Muitas empresas sofrem ataques diários e esses são
crescentemente voltados aos componentes mais críticos do negócio, como as áreas
comerciais e industriais, visando a paralisação dos negócios, cujo custo
justifica a demanda por resgates muito mais relevantes. A cada dia, os ataques
aos chamados “Big Phish” (executivos de grandes empresas são os grandes alvos)
ganham mais relevância e destaque no mercado global. As alternativas de
seguros e soluções exclusivamente técnicas não são suficientes para prevenir os
incidentes ou garantir a recuperação rápida.
2. Ampliação
do uso de ferramentas de análise e Inteligência Artificial. O volume de dados gerados e disponíveis, a complexidade
dos ambientes em diferentes TI’s, plataformas e tipos de nuvens, bem como o
diferencial que seu tratamento demanda, exigem a ampliação do uso de
ferramentas de análise e Inteligência Artificial e uma nova disciplina de
“DataOps”. Sem arquiteturas empresariais robustas e seguras, além de disciplina
para captura, armazenamento, tratamento, contextualização e interpretação, é
difícil garantir a qualidade e confiabilidade dos dados e escalar a produção de
insights. Muitos projetos falham em decorrência de um planejamento pouco
estruturado e alinhado com as demandas do negócio, pela falta de preparação
adequada dos dados (usamos somente cerca de 30% dos dados que produzimos), pela
definição falha dos data-lakes, dos fluxos de trabalho ou falta de
escala/capacidade na solução de IA.
3. Os
casos de uso do 5G privado irão além da Indústria 4.0, o setor de varejo é
provavelmente a próxima grande fronteira. Os setores de manufatura, petroquímica, mineração,
siderurgia e agricultura iniciaram e devem acelerar a implementação de redes
sem fio privadas, baseadas em tecnologia 4G e 5G, para melhor monitorar suas
operações, incrementar a segurança e eficiência, eliminar os gaps de cobertura,
além de proporcionar reduções de custos. Outros setores estão amadurecendo
casos de uso e, no varejo, a expansão da conectividade criará as condições para
a próxima geração de experiência de compra, com integração das tecnologias de
identificação dos consumidores, checkout inteligentes, pagamentos sem contato,
promoções dinâmicas, experiências de imersão (Realidade virtual, Metaverso)
etc.
4. A
formação de profissionais e atualização de skills será prioridade para os
clientes de mainframe. Os
elevados custos da plataforma, a preocupação com a dependência da tecnologia
legada e os ciclos mais longos para desenvolvimento de soluções pressionam os
clientes na direção de migrar seus dados e aplicativos para soluções em nuvens
públicas e privadas. Apesar da expansão e amadurecimento das soluções
low-code/no-code para viabilizar o acesso aos dados, a limitação de capacitação
e disponibilidade de especialistas em novas linguagens de programação e
tecnologias, limita o avanço dos projetos de modernização. Pesquisas
recentes apontam que 33% dos skills presentes em posições em 2017 não eram mais
necessários em 2021. Em contrapartida, 10% de novos skills são necessários todo
ano para execução de uma simples atividade, o que nos leva a uma necessidade da
busca constante de novos métodos de aprendizagem.
5. O
sucesso do recrutamento e retenção dos melhores profissionais no mundo do
trabalho híbrido depende da experiência digital dos candidatos e
funcionários. O local de
trabalho digital se transformou em um ambiente omnicanal, onde os profissionais
são mais engajados e produtivos quando podem escolher os canais que preferem
usar para se envolver e colaborar nas empresas. Nos próximos anos, as
experiências digitais ocuparão o primeiro lugar na lista de motivos para se
eleger uma empresa para se trabalhar, além de afetar a retenção. De acordo com
uma pesquisa da Qualtrics, os funcionários são 230% mais engajados e 85% mais
propensos a permanecer além de 3 anos em um emprego se tiverem o suporte
tecnológico certo. As empresas precisam para garantir que o ambiente e as
tecnologias disponíveis proporcionem uma experiência favorável aos
funcionários e os incentive a permanecer nas empresas.
6. Maior
adesão das empresas ao modelo de Distributed Cloud. O modelo preconiza a distribuição dos workloads em
diferentes localidades para atender a requisitos de soberania, conformidade e
desempenho, bem como poder dar suporte para a computação de borda (Edge
Computing), enquanto a operação, governança e evolução dos serviços seguem
gerenciados centralmente pelo provedor de nuvem pública. Vale destacar que
soberania é um tema amplamente debatido e passa a ser uma das tendências
do uso de cloud nos próximos anos, seja pelas regulações regionais e locais,
seja pelo compliance estabelecido pela empresa. É necessária uma atenção
especial ao fluxo dos dados, monitoração e controle, bem como tratar
cuidadosamente a segurança de dados críticos de negócio, que, se vazados,
afetam o valor da marca e a competitividade de mercado.
Não tenho dúvidas de que 2023 será de desafios e oportunidades. Investir em capacitação para as tendências descritas acima pode ser uma receita para ajudar as empresas a se prepararem e lidarem com a imprevisibilidade do próximo ano.
Sergio da Motta - líder de Kyndryl
Consult para Brasil
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