Longe de serem totalmente inclusivas, as empresas pecam não apenas pela falta de estrutura, como rampas e comunicação adaptada, mas principalmente pela falta de um olhar mais amplo sobre o tema, que permita educar seus times para um futuro realmente inclusivo, para todos.
Graças
a uma discussão cada vez mais ampla sobre o tema, as empresas têm procurado se
adaptar e têm, com isso, se tornado mais diversas e inclusivas. Geralmente,
porque seguem a Lei de Cotas, criada em 1991, e que prevê a obrigatoriedade da
destinação de 2% a 5% das vagas nas empresas que tiverem mais de 99 funcionários.
Mas será que isso é suficiente?
Segundo
a gestora Clécia Aragão O., estamos longe de sermos um mercado inclusivo,
especialmente porque, como sociedade, ainda tratamos a inclusão como sendo o
movimento de trazer a pessoa com alguma deficiência ou necessidade específica,
para “dentro” do universo da normalidade: “ainda nos consideramos diferentes e
isso não é inclusão”, enfatiza.
À
frente de um movimento que busca promover “inclusão para todos”, Clécia
explica: “diria que o maior desafio da inclusão é o medo de lidar com as
diferenças e a negligência ao desenvolver o respeito para com o outro, a falta
de ampliar a visão de mundo para um olhar humano e amoroso, desafiar o próprio
autoconhecimento e expandir a consciência para um mundo melhor e para a valorização
a vida.”
O
termo inclusão já é amplamente difundido e, ainda assim, vivemos em um mundo
que nos separa e rotula. “A grande questão das empresas”, segue Clécia, “é a
adequação a uma regra e não a busca por uma real inclusão”. A empresária
credita isso a uma visão ainda muito restrita do que é inclusão: “não somos
iguais, daí a necessidade de mais respeito às diferenças. Respeitar que sou
diferente é acolher a liberdade de ser diferente do outro e aceitar a liberdade
de escolha do outro”.
Para
ela, uma das soluções seria trocar a ideia de inclusão como a conhecemos pelo
da liberdade, de um modo amplo e irrestrito: “falar de inclusão ou qualquer
outra causa é falar de liberdade, de ir e vir sem julgamento, de ser diferente
e ser respeitado, de ser aceito independe da condição física ou alguma
limitação, seja ela congênita ou adquirida. Esse seria um grande avanço”.
Clécia
é uma referência no assunto desde 2008. Já esteve à frente de projetos como o
Livro ilustrado de Língua Brasileira de Sinais, um dicionário de Libras, uma
das primeiras publicações abrangentes do setor. No seu currículo estão duas
revistas do segmento de inclusão de pessoas com deficiência, uma voltada a
assuntos gerais e outra com foco na inclusão educacional, e a primeira edição
da Mostra Casa e Corporativo Acessíveis Projeto & Estilo, mostra de
arquitetura com foco exclusivo em projetos de desenho universal, realizada em
parceria com o Shopping D&D, em São Paulo.
Hoje,
ela está à frente de uma empresa que trabalha exatamente para ampliar o olhar
sobre a inclusão, coisa que ela leva da vida para o mundo corporativo: “é até
clichê repetir que toda mudança de comportamento acontece quando o gestor da
empresa vive o que ensina, ou que a ‘mudança tem que vir de cima’, mas é a mais
pura verdade. Discursos não provocam mudanças. As empresas precisam promover
vivências e tornar o assunto da diversidade, da inclusão e da equidade algo
natural e usual”, afirma.
Clécia
finaliza reafirmando seu compromisso em ampliar esse olhar para o universo da
gestão: “acredito muito em uma empresa de corpo, mente e alma, que vive uma
verdadeira ‘metanóia’, pois só uma gestão humanizada e equânime é capaz de agir
de forma inclusiva. Acredito ser esse o primeiro princípio viver o que se
ensina, inclusive dentro das empresas”.
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