Em um
ano, 224 mil novas famílias não pagaram dívidas na data do vencimento, segundo
pesquisa da FecomercioSP
A cidade de São Paulo registrou o maior número de famílias com contas atrasadas
em 12 anos. A taxa alcançou 25,8% em novembro, totaliza 1,04 milhão de lares
com dívidas em atraso. Em um ano, foi registrado o aumento de 224 mil lares
inadimplentes.
Do total das famílias, 9% disseram não ter condições de quitar o compromisso
atrasado. Os dados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do
Consumidor (PEIC), realizada mensalmente pela Federação do Comércio de Bens,
Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). A inadimplência tem
afetado principalmente a população de renda mais baixa: a taxa para o grupo que
ganha até dez salários mínimos foi de 31,8%, quase o triplo da registrada para
o de renda mais alta (11%).
Segundo a pesquisa, o índice é preocupante, pois são estes lares que contam com
menos estrutura financeira, como investimentos e patrimônios, para contribuir
para o equilíbrio das contas. Além disso, com os juros altos, a inadimplência
gera risco financeiro para as famílias, uma vez que quanto maior o tempo de
conta em atraso, maior é o desembolso para a instituição financeira.
Consequentemente, sobra menos para gastos essenciais.
Por isso, mediante o pagamento do décimo terceiro salário aos trabalhadores
formais, a orientação da FecomercioSP é para que as famílias quitem, primeiro,
contas em atraso para, depois, fazer planos de ir às compras. Outra dica para
quitar débitos vencidos é aproveitar os feirões para limpar nomes. Oportunidade
de renegociar com condições mais favoráveis de redução de multas e taxas.
Por outro lado, o endividamento na capital paulista cedeu em novembro, ao
passar de 77%, em outubro, para os atuais 76,3%. Ao todo, são 3,07 milhões de
famílias que têm algum tipo de dívida. Na comparação com igual período de 2021,
houve aumento de 135 mil lares que passaram a ter algum compromisso com
crédito.
Cartão de crédito continua vilão
O cartão de crédito continua sendo o grande vilão entre as famílias da capital
paulista: 85% dos endividados. O carnê vem logo em seguida, com 15,6%, e, depois,
o financiamento de carro (11,7%) e o financiamento de casa (10,8%).
Com um porcentual menor, o crédito consignado chama a atenção pela sua ascensão
nos últimos meses: 7,1% dos endividados. Se, por um lado, a modalidade é
positiva graças à taxa de juros média de 25% ao ano (a.a.), por outro lado,
mostra a necessidade de crédito por parte das famílias para despesas e contas
do dia a dia. Cenário este que mostra limitação no orçamento doméstico.
Quando questionadas, em novembro, a respeito da intenção de contrair algum tipo
de crédito nos próximos três meses, 9% das famílias responderam de forma
positiva – no mesmo período de 2021, o porcentual foi de 4,7%. O principal
objetivo, para 66%, é para consumo e compras. Contudo, para pouco mais de um terço
(34,1%), o crédito será destinado ao pagamento de dívidas e contas.
Quanto à forma mais vantajosa encontrada pelo consumidor nas suas últimas
compras, o cartão de crédito parcelado foi opção de 24,7%. O PIX também ganha
destaque, sendo a opção escolhida por 16,7%.
ICF
O índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) mostrou aumento de 3,1% no
décimo primeiro mês do ano, passou de 89,8 pontos em outubro para os atuais
92,6 pontos. No contraponto anual, houve avanço de 31,4%, quando o ICF foi de
70,5 pontos.
Todos os sete itens analisados pelo ICF registraram crescimento. Os destaques
foram os de consumo: Nível de Consumo Atual e Perspectiva de Consumo subiram
5,3% e 6,5%, respectivamente. O primeiro está com 71,2 pontos e o segundo com
81,8 pontos.
De acordo com a FecomercioSP, os números mostram efeito positivo da geração de
emprego e da inflação mais baixa. Caso seja mantida a tendência de
arrefecimento da inflação, pode-se esperar um aumento de consumo mais
significativo para o próximo ano.
Porém, esse aumento em novembro nos itens de consumo também está relacionado as
compras de final de ano e chegada do 13º salário.
O item renda atual subiu 3% e aumenta para 111,5 pontos o otimismo das
famílias. E os itens Emprego Atual e Perspectiva Profissional, apesar de
variação mais modestas, de 1,4% e 0,6%, respectivamente, estão com 123,5 pontos
e 117,8 pontos.
Por fim, o item acesso a crédito cresceu 3,5% e atinge 91,6 pontos. Apesar do
aumento de juros, os consumidores encontram mais facilidades em obter crédito
para compras a prazo.
ICC
O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) também foi positivo: registou
crescimento de 2,2% no mês e alcançou 116,8 pontos, o mais alto patamar desde
março de 2020, início da pandemia.
Otimismo puxado pela atual conjuntura econômica. O índice de condições
econômicas atuais subiu 9,5% e vai aos 91,4 pontos. Já o índice de expectativa
do consumidor ficou praticamente estável com variação de -0,3% (140,4 pontos).
Segundo dados da FecomercioSP, os dois indicadores de confiança mostram que o
cenário futuro mais positivo que era projetado, se realiza atualmente. A
inflação mais baixa e o mercado de trabalho mais aquecido trazem alívio para as
famílias. No entanto, ainda é um início de um processo e não é possível haver
melhoras significativas em curto prazo.
As condições econômicas mais favoráveis ainda não são suficientes para as
famílias arcarem com as contas em atraso e, consequentemente, reduzir a
inadimplência. Mas é o início de um ciclo.
A tendência é que no início de 2023 seja percebido uma reversão nos índices de
contas em atraso. Situação que tem influência direta em uma nova expansão de
consumo. Por enquanto, o recorde de famílias com contas atrasadas ainda deve
dificultar as vendas de final ano.
Notas metodológicas
PEIC
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) é apurada mensalmente pela FecomercioSP desde fevereiro de 2004. São entrevistados aproximadamente 2,2 mil consumidores na capital paulista. Em 2010, houve uma reestruturação do questionário para compor a pesquisa nacional da Confederação Nacional do Comércio (CNC), e, por isso, a atual série deve ser comparada a partir de 2010.O objetivo da PEIC é diagnosticar os níveis tanto de endividamento quanto de inadimplência do consumidor. O endividamento é quando a família possui alguma dívida. Inadimplência é quando a dívida está em atraso. A pesquisa permite o acompanhamento dos principais tipos de dívida, do nível de comprometimento do comprador com as despesas e da percepção deste em relação à capacidade de pagamento, fatores fundamentais para o processo de decisão dos empresários do comércio e demais agentes econômicos, além de ter o detalhamento das informações por faixa de renda de dois grupos: renda inferior e acima dos dez salários mínimos.
ICF
O Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) é apurado mensalmente
pela FecomercioSP desde janeiro de 2010, com dados de 2,2 mil consumidores no
município de São Paulo. O ICF é composto por sete itens: Emprego Atual;
Perspectiva Profissional; Renda Atual; Acesso ao Crédito; Nível de Consumo;
Perspectiva de Consumo e Momento para Duráveis. O índice vai de zero a 200
pontos, no qual abaixo de cem pontos é considerado insatisfatório, e acima de
cem pontos, satisfatório. O objetivo da pesquisa é ser um indicador antecedente
de vendas do comércio, tornando possível, a partir do ponto de vista dos
consumidores e não por uso de modelos econométricos, ser uma ferramenta
poderosa para o varejo, para os fabricantes, para as consultorias, assim como
para as instituições financeiras.
ICC
O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) é apurado mensalmente pela
FecomercioSP desde 1994. Os dados são coletados com aproximadamente 2,1 mil
consumidores no município de São Paulo. O objetivo é identificar o sentimento
dos consumidores levando em conta suas condições econômicas atuais e suas
expectativas quanto à situação econômica futura. Esses dados são segmentados
por nível de renda, sexo e idade. O ICC varia de zero (pessimismo total) a 200
(otimismo total). Sua composição, além do índice geral, se apresenta como:
Índice das Condições Econômicas Atuais (ICEA) e Índice das Expectativas do
Consumidor (IEC). Os dados da pesquisa servem como um balizador para decisões
de investimento e para formação de estoques por parte dos varejistas, bem como
para outros tipos de investimento das empresas.
FecomercioSP
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