Milhares de pessoas no Brasil, segundo o IBGE, têm algum tipo de deficiência. São pessoas que apresentam alguma limitação a médio ou longo prazo, seja ela de natureza mental, física, intelectual ou sensorial, e que podem estar sujeitas a inúmeras formas de preconceito e/ou discriminação, inclusive por falta de equidade.
Muito se fala sobre preconceito, que significa pré-julgamento a
respeito de algo/alguém, e sobre discriminação, que é o ato de pôr à parte e/ou
isolar o outro, mas pouco se aborda o tema capacitismo.
Afinal, o que é capacitismo? É o preconceito ou a discriminação
contra pessoas com deficiência, expressado por crenças, palavras e ações que
subestimam a individualidade, as capacidades e aptidões que a pessoa possui ou
não devido à deficiência. São expressões ou atitudes, ainda que imperceptíveis,
que se enquadram no termo capacitismo.
Observa-se, por meio de muita luta, que essa estrutura social que
estigmatiza a pessoa com deficiência como alguém incapaz já passou por diversas
evoluções, mas há muito a se conquistar para que o “capaz” não seja somente
aquele que não evidencia suas limitações, ou seja, o suposto “perfeito” e
“normal”. Ninguém é perfeito, todos têm a sua limitação e, de alguma maneira,
busca superar enquanto aprende a se colocar no mundo sem o fardo do julgamento
alheio.
Abordar temas sobre capacitismo é despertar a sociedade para
refletir sobre o mundo que a cerca, principalmente, através de suas expressões
e atitudes no cotidiano, que, por muitas vezes, desqualificam o ser humano em
razão de suas características e, consequentemente, podem gerar um adoecimento
emocional irreversível.
Quando a intenção e atitude do ser humano não está baseada na
crueldade, os danos emocionais podem ser evitados, e o melhor caminho é trazer
à luz quais expressões e atitudes que devem ser repensadas, modificadas ou
ajustadas. Pois, ainda é possível acreditar que a sociedade falha por falta de
conhecimento.
No dia a dia, entre tantas frases enraizadas e consideradas
comuns, quem nunca justificou um comportamento inadequado ou impulsivo ao
alegar estar “cego de raiva” ou não foi exortado de que “desculpa de aleijado é
muleta”? Num primeiro momento, por serem aparentemente inofensivas, frases como
essas podem ser interpretadas com naturalidade por aqueles que a praticam, mas,
para aqueles que possuem tais características, são frases opressoras, pois cada
uma delas denotam uma correção, uma justificativa para um erro, ou falha
utilizando as condições de uma deficiência a uma comparação pejorativa.
Além das expressões, o capacitismo pode se manifestar também por
atitudes como: tomar a iniciativa de ajudar quando não há um pedido, pois quem
deve determinar se precisa ou não de ajuda é o próprio indivíduo; falar ou ter
atitudes que transmitem excesso de proteção e, muitas vezes, infantilizadas;
admirar ou ficar perplexo porque uma pessoa com deficiência conseguiu graduar,
trabalhar ou casar-se. São realizações que qualquer outra pessoa pode fazer,
não é algo surreal.
Essas expressões e atitudes capacitistas, às vezes, não tem a
intenção preconceituosa ou discriminatória, uma vez que observa-se uma
consciência empática. Porém, é necessário também educarmos a forma como nos
portamos, com gestos, palavras, e expressões, diante daqueles que possuem
alguma deficiência, para que sejamos respeitosos e inclusivos.
O caminho para construir uma sociedade anticapacitista é, sem
dúvida, promover conhecimento, para evitar falhas. Caminho esse que deve
iniciar no âmbito familiar e se estender aos demais vínculos sociais, como
escola, igreja, trabalho, entre outros espaços.
Falar sobre capacitismo é dar voz e visibilidade às pessoas que
podem realizar tudo o que desejam, apenas de maneira diferente, conforme suas
particularidades e individualidade, sem a necessidade de provar ou impressionar
sobre o quanto é capaz. É lutar para que a deficiência nunca esteja à frente da
pessoa!
Kelli Aparecida da Silva Pontes - psicóloga e pós-graduada em
saúde mental. Atua como psicóloga clínica e organizacional na Fundação João
Paulo II.
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