Embolização das
artérias retais superiores é opção cirúrgica moderna para a doença
hemorroidária com diminuição da dor pós-operatória
Hemorroidas são veias dilatadas na região anal que
manifestam sintomas e, por isto, são chamadas de doença hemorroidária. Apesar
de não haver estimativas sobre a incidência de casos no Brasil, de acordo com a
Sociedade Brasileira de Coloproctologia, acredita-se que cerca de metade da
população será afetada pela doença. Isto porque o número, que já é alto, tende
a aumentar nos próximos anos, principalmente por causa do estilo de vida
(alimentação não saudável e sedentarismo) da maioria das pessoas.
Dependendo do grau de gravidade, o método cirúrgico
acaba sendo o mais indicado para a resolução do problema. Embora bem aceita, a
abordagem resulta em incômodos e dores no período de recuperação. Nesse
cenário, a aplicação de uma técnica minimamente invasiva que diminui o
desconforto aos pacientes, conhecida como embolização das artérias retais
superiores, se mostrou eficiente no tratamento da doença em estudo clínico
conduzido por especialistas do Einstein.
“Desenvolvemos um projeto prospectivo, randomizado
e multidisciplinar com as equipes de radiologia intervencionista e a de
proctologia. Nele, comparamos pacientes submetidos à técnica de embolização e
os submetidos ao tratamento cirúrgico convencional, com observação de
resultados animadores”, explica Dra. Priscila Mina Falsarella, radiologista
intervencionista responsável pelo projeto apresentado na tese de doutorado
“Embolização das artérias retais superiores versus hemorroidectomia fechada
(técnica de ferguson) no tratamento da doença hemorroidária: ensaio clínico
randomizado”.
A especialista conta que, no total, foram tratados
28 pacientes (15 no grupo embolização e 13 no grupo cirurgia) diagnosticados
entre os graus 2 e 3, que receberam acompanhamento médico ao longo de um ano. A
principal observação entre aqueles submetidos à embolização das artérias retais
superiores foi que a dor e a necessidade de uso de medicações analgésicas no
pós-procedimento foi inferior ao grupo dos pacientes submetidos a cirurgias
convencionais: a média de uso de medicação analgésica, anti-inflamatório ou
opioide no grupo que foi submetido à cirurgia foi de 28,92 doses de medicação,
e no grupo de embolização, de 2,4 doses.
“A identificação e embolização das artérias retais
superiores foram consideradas um sucesso técnico. Já a melhora dos sintomas
pré-procedimento nas avaliações presenciais e satisfação do paciente com o
tratamento nas avaliações via contato telefônico no período de um ano de
seguimento foi apontado como um sucesso clínico”, afirma a cirurgiã.
O tratamento é realizado por uma punção na região
da virilha do paciente - diferente do método cirúrgico tradicional -, o
cirurgião insere o cateter na artéria femoral e navega pelos vasos para
alcançar as artérias retais superiores, que são “nutridoras” das hemorroidas, e
realizar a cateterização. Dessa forma é realizada a embolização (obstrução)
desses vasos com micromolas que reduzem o fluxo sanguíneo na região para diminuir
e cessar o sangramento decorrente da doença.
“Com a aplicação dos conceitos da radiologia
intervencionista nesta técnica minimamente invasiva, é possível realizar um
procedimento menos agressivo, com menor tempo de internação e que oferece uma
recuperação mais rápida a pacientes que lidam com uma doença estressante como
esta. Empregar o método no caso das artérias retais foi uma consequência da
nossa experiência com outras doenças, como miomas uterinos, por exemplo”,
ressalta Dr. Rodrigo Gobbo Garcia, Diretor Médico do Centro de Medicina
Intervencionista do Einstein.
A média de dor na primeira evacuação após o
procedimento no grupo cirurgia foi de 6,08, enquanto no grupo embolização foi
zero. Também não foram observadas complicações maiores nos pacientes submetidos
à embolização. Pacientes cujo sintoma inicial era sangramento hemorroidário
foram os mais beneficiados pelo tratamento.
Sobre a doença
Hemorroidas podem ser internas e externas, de
acordo com a posição. As externas se formam no canal anal e região externa,
sendo recobertas por uma pele bem sensível. As hemorroidas internas, ao
contrário, estão na parte bem interior do ânus e são recobertas pela mucosa
intestinal. Elas apresentam quatro graus:
I: aumento no número e tamanho das veias
hemorroidárias, mas não há prolapso.
II: mamilos hemorroidários surgem fora do canal
anal no momento da evacuação, mas voltam espontaneamente para o interior do
canal anal.
III: aparece o prolapso hemorroidário que precisa
de ajuda manual para retornar ao canal anal.
IV: há um prolapso hemorroidário constante que
causa grande desconforto.
Nos casos em que as medidas clínicas não resultam
em um bom controle dos sintomas, pode ser necessário um tratamento definitivo
por meio de procedimentos, que vão desde a ligadura elástica até a cirurgia
propriamente dita.
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