Recentemente,
estudo publicado pela Nature (leia aqui) revela que a infecção pelo SARsCoV-2 pode alterar o
cérebro, causando uma diminuição da massa cinzenta. “Outros trabalhos
científicos apontam que a Covid-19 pode infectar regiões do sistema nervoso central,
como bulbo olfatório, hipocampo e córtex cerebral. Pouco se sabe sobre os
impactos do Sars-Cov-2 no sistema nervoso central no longo prazo, mas desde que
os primeiros sintomas neurológicos foram relatados, a comunidade científica
mundial tem se esforçado na investigação dessas alterações”, explica Dr. Ricardo Santos Oliveira, neurocirurgião
pediátrico.
Entre
estas alterações, estão desde anosmia (perda do olfato), ageusia (perda do
paladar) até acidente vascular cerebral (AVC), dor de cabeça intensa e
alterações no sistema nervoso periférico, causando a Síndrome de
Guillain-Barré. Segundo o neurocirurgião, dados mais recentes apontam para características
psiquiátricas residuais em pacientes que se recuperaram de
covid-19, como fadiga crônica, declínio cognitivo, transtorno de humor, perda
de memória, depressão e “brain fog” (confusão mental).
“Pesquisas
realizadas nos EUA em pacientes infectados pelo vírus apontaram que cerca de
80% dos casos desenvolveram sintomas ou sequelas neurológicas. Um estudo de
pesquisadores brasileiros estimou que entre 28-55% dos pacientes que
desenvolveram a forma leve ou moderada da doença podem manifestar sintomas
neuropsiquiátricos, tais como, ansiedade e depressão e/ou neurológicos”, conta
Dr. Ricardo.
Pacientes
que tiveram Covid-19, especialmente formas graves, devem ser
acompanhados neurologicamente com exames de imagem estrutural e
funcional, avaliação cognitiva e, se necessário, biomarcadores no líquor.
Alguns hospitais públicos brasileiros oferecem atendimento pelo SUS através de
equipes multidisciplinares para o acompanhamento destes pacientes no período
pós-Covid.
Distúrbios
psicológicos - Em estudo feito com 425 pacientes que
se recuperaram das formas moderada e grave da Covid-19, pesquisadores brasileiros
observaram uma alta prevalência de déficits cognitivos e transtornos
psiquiátricos. Mais da metade (51,1%) dos participantes relatou ter percebido
declínio da memória após a infecção e outros 13,6% desenvolveram estresse
pós-traumático. Quadros de ansiedade também foram observados. “Um dado
interessante deste trabalho foi a não correlação com a gravidade da doença, ou
seja, mesmo casos leves evoluíram com sinais e sintomas neuropsiquiátricos.
Isto foi um achado muito preocupante”, reforça o neurocirurgião.
Entre
os sinais e sintomas relacionados à depressão e transtornos do
comportamento, estão: sonolência diurna; cansaço crônico,
tristeza, falta de inciativa, autoestima, insegurança, irritabilidade,
pessimismo constante, dores musculares crônicas.
Tratamento
para as sequelas neurológicas do COVID-19 - Problemas neurológicos graves como os
acidentes vasculares e as encefalites exigirão medidas de tratamento agudo. A
terapia ocupacional e a fisioterapia neurológica são fundamentais para o
tratamento de sequelas neurológicas pós-covid. As alterações comportamentais
também devem ser diagnosticas e tratadas adequadamente.
Dr. Ricardo de Oliveira - Graduado em Medicina pela
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRPUSP).
Doutor em Clínica Cirúrgica pela Universidade de São Paulo, com pós-doutorados
pela Universidade René Descartes, em Paris, na França e pela FMRPUSP. É
orientador pleno do Programa de Pós-graduação do Departamento de Cirurgia e
Anatomia da FMRPUSP e médico assistente da Divisão de Neurocirurgia do Hospital
das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Também é docente
credenciado do Departamento de Cirurgia e Anatomia da pós-graduação e tem
experiência com ênfase em Neurocirurgia Pediátrica e em Neurooncologia, atuando
principalmente nas seguintes linhas de pesquisa: neoplasias cerebrais sólidas
da infância, glicobiologia de tumores cerebrais pediátricos e trauma
crânio-encefálico. Foi o neurocirurgião pediátrico principal do caso das gêmeas
siamesas do Ceará. Atua com consultórios em Ribeirão Preto no Neurocin e em São
Paulo no Instituto Amato.
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