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quinta-feira, 24 de março de 2022

Os impactos do coronavírus no sistema neurológico


Recentemente, estudo publicado pela Nature (leia aqui) revela que a infecção pelo SARsCoV-2 pode alterar o cérebro, causando uma diminuição da massa cinzenta. “Outros trabalhos científicos apontam que a Covid-19 pode infectar regiões do sistema nervoso central, como bulbo olfatório, hipocampo e córtex cerebral. Pouco se sabe sobre os impactos do Sars-Cov-2 no sistema nervoso central no longo prazo, mas desde que os primeiros sintomas neurológicos foram relatados, a comunidade científica mundial tem se esforçado na investigação dessas alterações”, explica Dr. Ricardo Santos Oliveira, neurocirurgião pediátrico.

 

Entre estas alterações, estão desde anosmia (perda do olfato), ageusia (perda do paladar) até acidente vascular cerebral (AVC), dor de cabeça intensa e alterações no sistema nervoso periférico, causando a Síndrome de Guillain-Barré. Segundo o neurocirurgião, dados mais recentes apontam para características psiquiátricas residuais em pacientes que se recuperaram de covid-19, como fadiga crônica, declínio cognitivo, transtorno de humor, perda de memória, depressão e “brain fog” (confusão mental).

 

“Pesquisas realizadas nos EUA em pacientes infectados pelo vírus apontaram que cerca de 80% dos casos desenvolveram sintomas ou sequelas neurológicas. Um estudo de pesquisadores brasileiros estimou que entre 28-55% dos pacientes que desenvolveram a forma leve ou moderada da doença podem manifestar sintomas neuropsiquiátricos, tais como, ansiedade e depressão e/ou neurológicos”, conta Dr. Ricardo.

 

Pacientes que tiveram Covid-19, especialmente formas graves, devem ser acompanhados neurologicamente com exames de imagem estrutural e funcional, avaliação cognitiva e, se necessário, biomarcadores no líquor. Alguns hospitais públicos brasileiros oferecem atendimento pelo SUS através de equipes multidisciplinares para o acompanhamento destes pacientes no período pós-Covid.

 

Distúrbios psicológicos - Em estudo feito com 425 pacientes que se recuperaram das formas moderada e grave da Covid-19, pesquisadores brasileiros observaram uma alta prevalência de déficits cognitivos e transtornos psiquiátricos. Mais da metade (51,1%) dos participantes relatou ter percebido declínio da memória após a infecção e outros 13,6% desenvolveram estresse pós-traumático. Quadros de ansiedade também foram observados. “Um dado interessante deste trabalho foi a não correlação com a gravidade da doença, ou seja, mesmo casos leves evoluíram com sinais e sintomas neuropsiquiátricos. Isto foi um achado muito preocupante”, reforça o neurocirurgião.

 

Entre os sinais e sintomas relacionados à depressão e transtornos do comportamento, estão: sonolência diurna; cansaço crônico, tristeza, falta de inciativa, autoestima, insegurança, irritabilidade, pessimismo constante, dores musculares crônicas.

 

Tratamento para as sequelas neurológicas do COVID-19 - Problemas neurológicos graves como os acidentes vasculares e as encefalites exigirão medidas de tratamento agudo. A terapia ocupacional e a fisioterapia neurológica são fundamentais para o tratamento de sequelas neurológicas pós-covid. As alterações comportamentais também devem ser diagnosticas e tratadas adequadamente.

 


Dr. Ricardo de Oliveira - Graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRPUSP). Doutor em Clínica Cirúrgica pela Universidade de São Paulo, com pós-doutorados pela Universidade René Descartes, em Paris, na França e pela FMRPUSP. É orientador pleno do Programa de Pós-graduação do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRPUSP e médico assistente da Divisão de Neurocirurgia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Também é docente credenciado do Departamento de Cirurgia e Anatomia da pós-graduação e tem experiência com ênfase em Neurocirurgia Pediátrica e em Neurooncologia, atuando principalmente nas seguintes linhas de pesquisa: neoplasias cerebrais sólidas da infância, glicobiologia de tumores cerebrais pediátricos e trauma crânio-encefálico. Foi o neurocirurgião pediátrico principal do caso das gêmeas siamesas do Ceará. Atua com consultórios em Ribeirão Preto no Neurocin e em São Paulo no Instituto Amato.

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