As preocupações começaram no início de fevereiro com as sanções anunciadas a Belarus, terceiro maior exportador de Cloreto de Potássio do mundo e responsável por cerca de 20% das exportações mundiais. Mais recentemente com o início das sanções, a Lituânia impediu que a exportação do fertilizante daquele país fosse feita através dos seus portos, causando um enorme baque na cadeia de suprimentos e acendendo o alerta de que poderia faltar o nutriente para a próxima safra de verão brasileira.
Aí o imponderável aconteceu: a Rússia, segundo
maior exportador de cloreto de potássio e de nitrogenados do mundo, além de
terceiro maior exportador de adubos fosfatados, invadiu a vizinha Ucrânia e
passou também a sofrer sanções internacionais de todos os tipos. A agricultura
brasileira, que importa em média 85% do adubo que consome, se viu, de uma hora
para outra, exposta a uma enorme ameaça. É possível, até mesmo provável, que
não haja adubo para todos. Além disso, é possível que quem não comprou fique
sem e que quem já adquiriu e ainda não recebeu, não receba na totalidade. Todos
os atores da cadeia do agronegócio, sejam eles grandes indústrias de
fertilizantes, revendas, cooperativas ou agricultores passaram a ter que
encarar de frente um enorme problema.
É claro que o governo, as associações setoriais, as
federações e os sindicatos patronais, além da própria Organização das Nações
Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, sigla em inglês), estão
acompanhando o caso de perto e planejando ações para solucioná-lo. Porém,
devemos chamar a atenção para o que cada empresa ou agricultor pode fazer
individualmente para mitigar o seu próprio risco. Um administrador responsável
não pode ficar somente na mão de soluções institucionais. Crises desta
proporção exigem planos de ação bem estruturados, acompanhamento da sua
execução e, não menos importante, comunicação com total transparência.
Os planos de ação podem ser, por exemplo, quotas de
comercialização por cliente, no caso de empresas de suprimentos; ou
planejamento agronômico emergencial, no caso de produtores, que levem à uma
diminuição de dosagem com o menor impacto econômico possível, uso de variedades
menos exigentes ou até mesmo a diminuição da área de plantio. Os profissionais
do nosso agro são muito bons nisso, uma vez que eles reconheçam o problema, não
terão dificuldades nesse ponto. Por outro lado, a comunicação e a transparência
são igualmente importantes e nem sempre são das melhores.
Apenas para ficar na minha área, bancos e
investidores já estão monitorando esses riscos desde os primeiros sinais.
Nessas situações, o capital se retrai, a oferta de crédito diminui, os custos
dos empréstimos aumentam, assim como a exigência de garantias. Para esses
agentes, tão importante como fazer um plano de ação crível e colocá-lo em
prática, monitorando cada fase, é mostrar que ele existe, que tem começo, meio
e fim e que será efetivo para aliviar os efeitos da crise sobre o seu negócio.
Não subestime o risco da falta de fertilizantes,
ele não é trivial. Monte um plano de ação e comunique-o ao mercado com a maior
transparência possível, mantendo uma linha de comunicação aberta durante toda a
sua execução. Não permita que um problema de suprimento vire um problema de
crédito.
Manoel Pereira de Queiroz - Superintendente de Agronegócio
do Banco Alfa, membro do Conselho Superior do Agronegócio da FIESP e
conselheiro da ADEALQ.
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