Para Enéas Pestana, consultor
que acaba de deixar o comando da rede Dia, preço baixo e equilíbrio nas contas
serão desafios para os supermercadistasIMAGEM: Milton Mansilha/DC
Desde que os salários
começaram a ser corroídos pela inflação, o preço tem sido cada vez mais fator
de decisão de compra nos supermercados.
Pesquisas revelam que o
orçamento mais apertado já levou o consumidor a trocar marcas mais caras por
mais baratas e, mais recentemente, a abandonar itens supérfluos.
Diante deste cenário, que
pode se agravar com eleições e guerra, os supermercados deverão enfrentar em
2022 uma disputa por preços pouco vista na história do país.
“As brigas por preços serão
fortíssimas, quase selvagens, para trazer o cliente para as lojas”, afirma
Enéas Pestana, consultor de varejo, que acaba de sair do comando da rede Dia.
Isso não significa, de acordo
com ele, que os supermercados vão abandonar de vez o atendimento e as
experiências, que levam clientes às lojas.
“Só que, neste momento, preço
tem sido, disparadamente, o fator de decisão de compra de forma muito mais
forte”, afirma Pestana, que foi CEO do Pão de Açúcar de 2010 a 2014.
Com 18 lojas, a rede Hirota
se prepara para colocar neste mês 50 itens com “os melhores preços do mercado”
para motivar o consumidor.
“Este será um ano intenso, de
grandes promoções. Faremos sorteios para o Dia das Mães, aniversário de 50 anos
da rede, Natal”, afirma Hélio Freddi Filho, diretor da empresa.
Com quatro lojas em Campinas
e Valinhos, no interior de São Paulo, a rede Dalben também intensificou as
parcerias com fornecedores para atrair a clientela com preços menores.
Há quem diga, diz Pestana,
que o acirramento da competição entre as redes de supermercados é sempre bom
para o consumidor. “Eu diria que não é, pois haverá perda de serviço,
atendimento, ambientação de loja.”
A disputa por preços, de
acordo com consultores e supermercadistas, na verdade, não é para quem quer
participar, mas para quem pode entrar na briga.
“Vai ser um ano de grandes
desafios para as redes, que precisam ter lojas com preços altamente
competitivos e ainda equilibrar as contas, garantindo a lucratividade.”
O formato de autosserviço de
alimentos que mais cresceu na crise foi o atacarejo, justamente, diz Pestana,
porque a proposta de valor é exclusivamente preço.
Em 2020, este setor chegou a
crescer perto de 30%, de acordo com pesquisas. “São lojas que não têm mimos
para os clientes, sacolinhas, empacotadores.”
Os supermercados mais focados
em preços, portanto, devem sofrer bem menos do que os que atendem o público de
maior poder aquisitivo, com mais serviços e experiências.
Para ele, a disputa acirrada
por preços não está restrita a 2022, devendo se estender por alguns anos, até
que o Brasil volte a ter uma política econômica mais favorável ao consumo.
A boa notícia, na análise de
Pestana, é que o setor de supermercados é resiliente e volta a crescer
rapidamente na medida em que emprego e renda aumentam.
FUSÕES E AQUISIÇÕES
Para Pestana, neste meio
tempo, o país deve assistir um intenso período de consolidação de empresas do
setor, marcado por grandes fusões e aquisições.
No interior do país,
especialmente, diz ele, muitas empresas familiares cresceram nos últimos anos
sem estrutura financeira suficiente para manter a expansão.
Com a desvalorização do real,
os ativos no país acabaram ficando mais baratos do que há cinco ou seis anos,
abrindo, portanto, o apetite de empresas de Private Equity.
“Há muitas dessas empresas se
movimentando no sentido de consolidação no varejo alimentar. O foco é ter
operações simples e eficientes”, diz.
INTERNET
Para minimizar os efeitos de
ter uma clientela bem mais restrita às compras, as vendas on-line “tem de estar
no jogo”.
Mesmo que o supermercadista
não tenha condições de ter uma estrutura para venda pela internet, diz Pestana,
precisa estar em um markeplace ou agregado a aplicativos de entrega.
“O consumidor fica chateado
se a loja não possui presença no on-line. E os marketplaces estão muito
interessados em vendedores de alimentos”, diz.
DICAS
Na corrida para trazer o
consumidor para a loja, de acordo com ele, muitas redes estão colocando
produtos demais em oferta, estressando a operação.
Antes de fazer promoções, o
supermercadista precisa negociar com fornecedores, abastecer a loja. Se falhar
e houver sobras, tem de escoar produtos, gerando perdas.
“Neste momento, ineficiência
na operação é proibido, não pode ter.”
Jornalista
especializada em economia e negócios e editora do site varejoemdia.com
Fonte: https://dcomercio.com.br/categoria/negocios/disputa-por-precos-sera-quase-selvagem-em-2022
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