O rastreamento do câncer colorretal por colonoscopia foi afetado durante os dois primeiros anos de Covid-19, aponta a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO). Comparado com 2019, houve redução de 30,4% em 2020 e de 12,4% em 2021 no número de exames no SUS. A colonoscopia tem o potencial de evitar a doença, pois possibilita retirar pólipos que podem evoluir para câncer no intestino grosso e reto.
O câncer colorretal (intestino grosso/cólon e reto) é o segundo tumor maligno, excluindo o câncer de pele não melanoma, mais comum em homens e mulheres no Brasil, atrás apenas, respectivamente, de câncer de próstata e mama. São 41 mil novos casos previstos para 2022, segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer. Em alusão ao Março Azul Marinho, mês de conscientização sobre a doença, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) alerta para um dado ainda mais preocupante que esta já alta incidência de tumores colorretais. Ao menos 148 mil colonoscopias deixaram de ser realizados no Sistema Único de Saúde nos últimos dois anos.
Este número foi levantando
pela SBCO ao conferir o banco de dados do DATASUS. O sistema registra a
realização de 347.098 colonoscopias em 2019. Em 2020, quando
houve medidas mais restritivas para contenção da disseminação do SarsCov-2, o
que incluiu o fechamento de serviços de colonoscopia, foram realizados 241.329
exames (redução de 30,4% no ano passado). Em 2021, foi
registrada uma retomada na procura pelo exame, porém, observou-se ainda uma
significativa redução (304.004 colonoscopias, um volume 12,4% menor em relação
a 2019).
O cirurgião oncológico e
presidente da SBCO, Héber Salvador, explica que o câncer colorretal pode se
desenvolver silenciosamente por um tempo, sem apresentar nenhum sintoma. Por
conta disso, a vertiginosa redução de colonoscopias na pandemia é preocupante.
“Quando o paciente apresenta sintomas, já pode ser sinal de uma doença mais
avançada. É fundamental a realização de colonoscopia a partir dos 50 anos em
pessoas sem sintomas– ou 40 anos, caso haja histórico de câncer na família.
Este exame pode evitar a doença, pois, por meio dele, é possível retirar
pólipos, que são lesões presas na parede do intestino que poderiam evoluir para
câncer”, explica.
O cirurgião oncológico
Bruno Roberto Braga Azevedo, membro da diretoria da SBCO e titular do
Hospital Pilar e do Grupo Oncoclínica, explica que o papel da colonoscopia é
evitar que o paciente desenvolva a doença e necessite de cirurgia. “Nosso
papel, apesar de sermos cirurgiões, é evitar que o paciente chegue a precisar
desse procedimento. A decisão dependerá da extensão, tamanho e localização do
tumor, assim como das condições gerais de saúde do paciente. Dependendo do
caso, o tratamento pode incluir a radioterapia associada ou não à
quimioterapia, no intuito de diminuir a possibilidade de retorno do tumor. No
caso de metástase, as chances de cura ficam reduzidas, mas há terapias
eficazes, envolvendo quimioterapia e resgate cirúrgico. Por isso, em casos
específicos, os pacientes metastáticos podem atingir longos períodos de
sobrevida e até mesmo a cura, dependendo do quadro e resposta ao tratamento.
Quais
são os sinais de alerta? - Alteração do
hábito intestinal (diarreia e prisão de ventre alternados), assim como
alteração na forma das fezes (fezes muito finas e compridas), são sintomas de
alerta, que devem ser investigados. Os demais sintomas mais comuns são sangue
nas fezes, dor ou desconforto abdominal, fraqueza e anemia e perda de peso sem
causa aparente.
Como
prevenir? - Recomenda-se a adoção de uma
dieta que contemple o consumo de frutas e hortaliças, assim como evitar o
consumo de alimentos processados e de bebidas alcoólicas, refrigerantes e
outras bebidas açucaradas. Moderação também é a palavra-chave em relação
à carne vermelha e alimentos calóricos e/ou gordurosos. Os demais fatores de
risco são sedentarismo, obesidade e tabagismo.
A hereditariedade
representa entre 5% a 10% dos casos, sendo a síndrome de Lynch a mais
prevalente. Há também a polipose adenomatosa familiar, que é quando os
pacientes apresentam um maior número de pólipos, devendo ser submetidos mais
frequentemente à colonoscopia.
Sociedade Brasileira de
Cirurgia Oncológica (SBCO)
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