Ao
celebrar, no dia 10 de Outubro, o dia nacional de luta contra a violência à
mulher, relembramos infelizmente, vários episódios chocantes e cruéis, expostos
na mídia nos últimos tempos, de casos de violência doméstica contra mulheres
que, em sua grande maioria, vivem relações tóxicas que, terminam em tragédias
ou deixam sequelas psicológicas profundas em suas vítimas.
Mas
de que forma, podemos identificar se estamos em uma relação tóxica? Como sair
dela e como classificar o tipo de violência sofrida dentro destas relações que,
parecem sedutoras e despretensiosas, mas ao final, destroem a vida de uma
pessoa e criam impedimentos psíquicos na construção de novas abordagens
íntimas?
A
relação tóxica se esconde por trás de uma cortina de fumaça onde as pessoas
enganam a si mesmas. Ninguém permanece em um relacionamento destrutivo porque
gosta, mas sim pela impossibilidade de observar os comportamentos abusivos do
outro.
Relacionar-se
não é uma tarefa fácil. Qualquer interação entre duas pessoas é complexa.
Nenhuma será equilibrada o tempo todo e nem envolverá seres humanos sempre
sensatos. Em um relacionamento, de qualquer natureza (trabalho, amor, amizade,
irmãos, pais e filhos…) tendemos a depositar muita confiança e muitas
expectativas nas ações e atitudes do outro.
Mas,
com o tempo e, conforme vamos aprofundando os relacionamentos, alguns
sentimentos e sensações nada agradáveis podem surgir. O encantamento pode dar
lugar a medos, mágoas, tristezas e rejeições.
Pessoas
tóxicas, geralmente, são egoístas, preocupam-se apenas consigo e tornam-se
vampiros emocionais, sugando o máximo do outro. Não admitem erros, exigem de
forma extrema das pessoas e se colocam como superiores aos demais seres. Ao
acreditar não estar a altura de ninguém, ou não ser suficientemente boa para o
outro, as vítimas de quem possui um perfil tóxico, trazem impregnadas no
espírito uma autoestima baixa e tendem a repetir ciclos viciosos, atraindo
sempre pretendentes com essas mesmas características nocivas.
E,
como estratégia, o tóxico se aproveita da culpa que sua presa carrega para
menospreza-la ainda mais e assim, induzi-la a satisfazer suas vontades. Tentar
diminuir o outro é uma atitude comum nas chamadas relações tóxicas.
O
tóxico é atraído por pessoas de baixa autoestima, submissos, dependentes e
fáceis de serem controladas. Usam de sedução e boa conversa para manter sua
presa envolvida em suas artimanhas. Além da ridicularização e do desdém,
podem ocorrer mentiras, ofensas e manipulações. Em
situações mais agudas, o desrespeito se amplifica e chega à violência física.
O
maior erro é quando, para melhorar a relação, nos colocamos em patamares
inferiores e deixamos de ser nós mesmos para viver e agir conforme o desejo do
parceiro. E nos frustramos, já que agradar passa a ser uma missão quase
impossível.
A
relação abusiva pode acontecer com qualquer um. Quem sofre com esse tipo de
relacionamento pode apresentar sintomas de depressão, ansiedade e alterações de
humor, além de transtornos alimentares, queda de cabelo, insônia, problemas
respiratórios, problemas de pele e fobia social.
Faça
uma autoanálise para identificar se a sua relação carrega características
abusivas e verifique se existe a presença de sofrimento em sua relação, além de
fatos pautados por intolerância e individualismos extremos.
Mas
por que atraímos pessoas tóxicas? Muitas vezes o que nos incomoda no outro é um
reflexo do nosso espelho. Você não é responsável pelo comportamento abusivo do
outro. Mas pense que somos responsáveis pelos padrões que atraímos.
Principalmente se forem constantes e repetitivos.
Quando
não aprendemos com uma experiência, somos presenteados com a oportunidade de
vivenciar situações similares novamente, até aprendermos a lição que nossa
parte inconsciente clama por consciência.
Alguns
relacionamentos são resolvidos apenas quando nos afastamos, pois determinada
pessoa só surge para trazer um ensinamento específico. A consciência de que
nossa função nunca é mudar ninguém deve ser mantida, pois não nos cabe tal
exigência. Mas QUANDO MUDAMOS, OS OUTROS MUDAM TAMBÉM. Afinal, o outro só faz
conosco o que permitimos.
Mas
para encontrar essa mudança, um importante (e difícil) passo é a compreensão de
que, por mais que não sejamos responsáveis pelo comportamento tóxico e abusivo
do outro, não é APENAS O OUTRO. É muito importante entender que precisamos sair
do papel de vítimas, para validar que PODEMOS e MERECEMOS receber o melhor que
a vida tem a nos oferecer.
E
o que fazer quando se percebe envolto em uma relação tóxica e destrutiva? Pegar
para si a responsabilidade de zelar pela paz a dois não resolve. Responsabilizar
o outro por todas as mazelas, também não. É preciso avaliar não os papéis de
vilão e mocinho, mas a dinâmica.
O
principal é resgatar o amor próprio e a autoestima, ressignificar as
experiências ruins, compreender o que faz você se sentir dessa forma e
considerar o fato de que se afastar de pessoas assim pode ser a única saída
para uma vida tranquila, uma vez que pessoas com esse perfil tóxico nem sempre
estão propensas a modificações, principalmente se possuírem evidências de
psicopatia.
O
abusador, provavelmente, age assim por já ter sido abusado, mas suas dores não
podem justificar suas atitudes. Já o abusado, deve entender que tipo de
interação exerce na dupla e porque ainda está consumindo esse sofrimento.
O
amor verdadeiro é aquele que te eleva e que te coloca no caminho da sua
evolução, e não aquele que põe uma pedra em cima da sua semente a impedindo de
crescer e florescer. O amor verdadeiro não tem razões para agredir moralmente,
verbalmente, psicológicamente ou fisicamente, porque ele vem apenas para fazer
o bem. Não se iluda com relacionamentos que não acrescentem.
Respeite
a si mesmo e entenda, o importante é não desistir de buscar ser
feliz. Todos merecemos uma construção familiar saudável, ou mesmo relações
interpessoais equilibradas. Fortaleça seu inconsciente e entenda a força
que tem. Ame-se acima de tudo e não permita que diminuam seu valor.
Enfim,
a autoavaliação e o amor próprio são peças chaves para se curar de uma relação
tóxica. Afinal, se você não se valoriza e não se ama, acha mesmo que os outros
farão isso por você? Olhe para as relações em que está envolvido e perceba se
virou refém da situação.
Não
permita, em hipótese alguma, a perpetuação de abusos físicos ou emocionais que
interferem em sua felicidade. Busque ajuda de um profissional de saúde mental
para que possa fortalecer sua personalidade e resgatar sua autoestima, além
disso, denuncie as agressões aos orgãos competentes o quanto antes. Não espere
acontecer uma tragédia, como tantas que temos presenciado. Reflita e acredite
em sua própria mudança.
Andréa Ladislau é graduada em Letras e Administração de Empresas,
pós-graduada em Administração Hospitalar e Psicanálise e doutora em Psicanálise
Contemporânea. Possui especialização em Psicopedagogia e Inclusão Digital. É
palestrante, membro da Academia Fluminense de Letras e escreve para diversos
veículos. Na pandemia, criou no Whatsapp o grupo Reflexões Positivas para dar apoio emocional à pessoas de todo o Brasil.
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