Na semana em que comemoramos o dia do idoso ou da pessoa de melhor idade, aproveitamos para salientar os cuidados que devem ser aplicados em relação à saúde mental destes.
O
equilíbrio emocional é fundamental para afastar qualquer tipo de pensamento
ruim. Mas sabemos que para atingir esse equilíbrio uma série de fatores estão
envolvidos.
A
etapa da vida caracterizada como velhice é carregada de bonitas histórias,
velhas lembranças e, em muitos casos, de sofrimento e tristeza também. Nas
faixas etárias mais avançadas aumentam os relatos de transtornos depressivos e
até suicídios.
O
envelhecimento apresenta fatores muitos distintos que podem apontar causas que
levam a esse desequilíbrio emocional, visto que não se pode afirmar que existe
uma causa única para o sentimento de perda demonstrado pelo idoso, mas um
complexo de valores associados que devem ser ponderados e reparados por todos e
pela sociedade.
Estes
sofrimentos psíquicos e o desejo de antecipar a vida podem ser motivados por
diversas perdas específicas dentro de um processo de envelhecimento, como:
perda da saúde, autonomia, produtividade, papéis sociais, perda de cônjuges,
amigos, entre outras perdas pessoais.
Diante
deste cenário, não raro encontrarmos idosos que sofrem de transtornos
depressivos em diversos níveis de intensidade. A depressão é a desordem mais
comum nesse segmento etário.
Tanto
que, a vulnerabilidade deles está concentrada no isolamento social, no fato de
não serem, muitas vezes, incluídos na sociabilidade de lazer da família, na
falta de diálogo e de alguém para ouvi-los, no medo de se tornar um peso para
os parentes, na dependência constante do outro e no alto número de medicamentos
que precisam ser ingeridos todos os dias, tornando-os prisioneiros dos
fármacos.
Fatores
que geram um conflito interno e uma insegurança que alimentam a angústia
associada a uma tristeza profunda. Uma verdadeira enxurrada de sintomas como:
solidão, pouca disposição, pessimismo em relação ao futuro, irritações sem
motivo, autoacusação, insatisfações, além de distúrbios do sono e do apetite
que podem fomentar ideias suicidas.
A
depressão ainda pode provocar fadiga persistente, mesmo sem esforço físico e
demandar maior energia na realização de atividades simples e leves.
Não
se sentir mais útil é um dos maiores fantasmas do envelhecimento. Mas existe
uma falsa impressão impregnada por todos que prega que, o idoso se considera no
fim da vida, porque passou pela adolescência, estabeleceu uma família, já
enfrentou o pior da vida e agora não sente mais o mesmo ânimo do passado.
Eles,
podem entrar na energia depressiva por não serem mais compreendidos e acolhidos
pelas pessoas mais próximas. Muitos sentem a necessidade do diálogo, mas as
conversas já não os comportam mais. Os assuntos em família ficam restritos a um
núcleo em que esse idoso não se encaixa por estar “ultrapassado”.
Situações
estas que, acabam por provocar um isolamento natural. Criam, portanto, a ilusão
de que não são mais importantes em seu espaço de convivência. Incentivando a
diminuição do prazer pela vida e a redução dos níveis de energia desse idoso.
Pesquisas
apontam ainda que, o idoso depressivo sente como se seu mundo tivesse se
estreitado, suas escolhas ficam menores, seus interesses e preferências menos
disponíveis.
A
ideação de inutilidade está associada à necessidade que a pessoa em terceira
idade sinta em se isolar ou “definhar” para minimizar uma situação intolerável,
acrescida de sentimentos de desesperança e de “não pertencimento”.
A
depressão é, frequentemente, acompanhada por somatizações e reclamações
físicas, que podem agravar, em muitos casos, sintomas crônicos recorrentes.
Cada
pessoa reage e interpreta o sofrimento, físico ou psíquico, que a atinge de um
modo particular, não devemos fechar os olhos para ações simples feitas para
proteger e garantir uma melhor qualidade de vida para nosso idoso em uma etapa
da vida que já vem carregada de tantas privações.
Devemos
estar atentos aos sinais, as pistas verbais ou comportamentais, que demonstram
que algo está errado.
O
isolamento recluso, a falta de interação, a irritabilidade, pessimismo
exagerado, distúrbios do sono e do apetite, tristeza profunda, a falta de energia
e motivação, são grandes sinalizadores de que o idoso pede socorro. Acolha e
esteja mais próximo. Escute e se deixe levar pelo mundo lapidado pelo
envelhecimento.
Procure
promover ações de integração do idoso no núcleo familiar, demonstrando a ele
sua importância e seu papel dentro deste contexto. Além disso, ao ajudá-lo a se
sentir útil de alguma forma, uma chama de sobrevida está sendo acesa para
auxiliar no processo de equilíbrio mental e psíquico deste indivíduo.
Se
perceber a necessidade, não hesite em buscar ajuda e apoio de um profissional
de saúde mental para que essas perdas sejam amenizadas através do
autoconhecimento.
Portanto,
o que precisa ser feito é diminuir a vulnerabilidade que uma pessoa desta faixa
etária carrega em seu inconsciente. Uma fragilidade alimentada por inseguranças
e conflitos internos tão cruéis, que são capazes de antecipar, de forma
drástica e definitiva, a sua partida.
Assim
como uma criança, um jovem e um adulto, o idoso também precisa se sentir vivo.
Precisa, sobretudo, ter condições de expor seus medos, suas queixas, suas
dúvidas, alegrias e tristezas.
Ao
externar estas emoções, o sofrimento fica mais leve e a carga menos pesada. Não
deixe para o dia seguinte, se você pode acolher, ouvir e ajudar uma pessoa em
sofrimento. Muitas vezes, temos pessoas a nossa volta que estão sorrindo por
fora, mas internamente, apresentam um psicológico abalado e fragilizado, e já
não suportam mais a dor.
Depressão
na velhice é coisa séria, não ignore os sinais. A melhor arma no combate a este
mal é o apoio emocional. Acolha, demonstre apoio e tenha empatia.
Envelhecer
está longe de ser um mar de calmaria, mas pode sim, ser um mar de ondas
nostálgicas que tragam velhas lembranças e velhas histórias de uma vida
inteira, recheada da individualidade e da marca pessoal desse idoso.
Acolher
é a maior prova de amor e de reconhecimento por toda uma vida de contribuições
e ensinamentos.
Dra. Andréa Ladislau - Doutora em
psicanálise, psicopedagoga, palestrante, administradora, membro da Academia
Fluminense de Letras, colunista do site UOL e de outros veículos importantes do
país.
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