Educadores afirmam
que, sem o engajamento da família, o processo de aprendizagem nessa fase não se
completa
O longo período de suspensão das aulas presenciais
e o vai e vem de reaberturas de escolas tem causado forte impacto na Educação,
principalmente no segmento da Educação Infantil. Muitas famílias optaram por
tirar os filhos das escolas privadas, matriculando em escolas públicas ou
simplesmente deixando-os em casa. A coordenadora pedagógica do Colégio Unicol,
em São Gonçalo do Sapucaí (MG), Marcela Cisneros, confirma que o momento é
realmente delicado para a Educação Infantil. "Em nossa cidade, atualmente,
somos a única escola particular do município a oferecer turmas de Educação
Infantil", conta Marcela.
De acordo com a coordenadora, a escola percebeu o
enorme desafio e, ciente de que os pais seriam os principais aliados para
viabilizar a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças, optou por facilitar
e individualizar o atendimento. "As aulas eram gravadas e postadas junto
com as propostas de atividades, para que as famílias pudessem encontrar o
momento mais oportuno para cada uma delas realizar as atividades com suas
crianças. Isso ajudou demais porque os pais puderam se adaptar conforme a sua
disponibilidade e não no dia e hora que a escola determinava", conta a
coordenadora. Para garantir a interação professor e aluno, foi desenvolvido um
cronograma de atendimento individualizado para cada criança. "Quando está
atendendo um aluno apenas, a professora tem mais condições de explorar a
oralidade e as experiências da criança, conseguindo também observar e avaliar
melhor o seu desempenho", acrescenta Marcela.
De acordo com a editora de conteúdo do Sistema
Positivo de Ensino, Patrícia Waltiach, o ato de brincar é uma das atividades
fundamentais para a aprendizagem e para o desenvolvimento das crianças.
"Ao brincar, a criança se defronta com desafios e problemas, e precisa
buscar constantemente soluções para ele. Não à toa as brincadeiras e interações
são apontadas nos documentos oficiais como organizadores do dia a dia nas
instituições de Educação Infantil. Na escola, as situações de brincadeiras
repletas de interações tornam-se ainda mais potentes pela ação especializada e
intencional do professor. Com o ensino remoto, a intervenção do professor ficou
bastante restrita", ressalta Patrícia. Para ela, são poucas as
brincadeiras que podem ser feitas a distância, além de as interações entre as
crianças e com as crianças ficarem bastante prejudicadas. "Obviamente,
esse novo panorama imposto pela pandemia exigiu e continua exigindo das equipes
das escolas uma adequação profunda no planejamento das ações e uma permanente
reflexão em torno das melhores formas para se manter o contato com as crianças
e as famílias", conclui.
A coordenadora editorial de Educação Infantil do
Sistema Positivo de Ensino, Silvia Dumont, insiste na importância do
engajamento das famílias. "É preciso compreender que o momento pandêmico
expôs o fato de que não é papel exclusivo da escola manter a criança engajada
com o processo de aprendizado. Escola e família são instituições
complementares. Por isso, os familiares também são responsáveis por esse
engajamento que, agora, exige não apenas o acompanhamento das tarefas, mas o
acesso adequado a equipamentos eletrônicos e internet. Esse modelo parece ser
um pouco mais desafiador quando se trata de crianças pequenas. No entanto, a
disponibilidade, a persistência e a motivação permanente farão a diferença
nesse processo. Não se pretende que os pais ou outros familiares assumam o
papel dos professores; o que se deseja é que a família colabore, criando
condições para que a criança vivencie as situações propostas pelo
professor", argumenta.
Para a especialista, o importante é os pais
acreditarem na capacidade de superação e flexibilidade dos filhos, não medindo
o tempo e o esforço que estão sendo necessários para acompanhar a atividade
proposta. "Haverá dias em que a criança ficará um tempo maior concentrada,
interagindo com a professora ou mesmo com os adultos que estão realizando as
propostas com ela, em casa; em outros, o nível de atenção pode baixar
consideravelmente", explica Silvia. Ela reconhece que não é fácil nem para
as escolas, nem para as famílias, mas garante que é possível vencer o
desafio.
"Na faixa etária abaixo dos 4 anos, uma das
principais atividades realizadas nas escolas de Educação Infantil diz respeito
à socialização, à convivência e à interação com a professora e outras crianças,
o que, aparentemente, não combina com o ensino a distância", afirma
Silvia. No entanto, a educadora assegura que os especialistas estão se
empenhando para proporcionar atividades lúdicas e instigantes aos alunos.
"São joguinhos, brincadeiras e afazeres que, além de entreter as crianças,
auxiliam no seu desenvolvimento afetivo, motor e cognitivo. Além disso, os
professores podem, neste momento difícil para todos, dar todo o suporte às
famílias com relação a dúvidas e sugestões relacionadas ao desenvolvimento das
crianças", acrescenta. Para Silvia, é fundamental, neste momento, investir
em práticas que compensem a falta que a escola faz. E são os professores e o
ensino remoto que conseguem garantir ganhos nesse sentido. "Há maneiras,
sim, de despertar o interesse infantil e engajar as crianças em aprendizagens
significativas. Com o acesso à internet, os pequenos poderão falar com os
professores, ouvir histórias, fazer desfile de fantasia, desenhar, recortar e colar,
cantar junto e recitar quadrinhas, trava-línguas e parlendas. Outro benefício é
que, por meio das lives, o vínculo entre escola e família
é mantido, o que certamente terá um efeito positivo assim que as crianças
retornarem ao ensino presencial", reforça a educadora.
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