Em alusão ao Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo (20/2), psicólogo e professor do UNICURITIBA fala sobre a importância do diálogo na prevenção da doença e do apoio da família para o sucesso do tratamento
O consumo de bebida
alcoólica aumentou durante a pandemia. O isolamento social forçado e as festas
restritas não impediram que muita gente levasse o bar para dentro de casa. O
crescimento nas vendas começou logo após a confirmação dos primeiros casos de
Covid-19 no Brasil. Segundo a plataforma Compre&Confie, entre 24 de
fevereiro e 3 de maio de 2020, o “boom” foi de 93,9% em comparação ao mesmo
período de 2019.
Mesmo com muitos bares
fechados, o mercado de drinques continuou em alta no ano passado. Pesquisa da
Fiocruz, Unicamp e UFMG revelou aumento de 17,6% no consumo de bebidas
alcoólicas, justificado principalmente pelo aumento do estresse e pela sensação
momentânea de relaxamento. Nos primeiros meses da pandemia, as redes de
supermercado mantiveram incremento médio de 27% na venda de produtos
alcoólicos.
O fenômeno se repetiu em
outros países. Um estudo realizado por pesquisadores da Escola de Saúde Pública
Global da Universidade de Nova Iorque apontou que, dos quase 6 mil
entrevistados, 29% relataram aumento no uso de álcool durante a pandemia. Outra
pesquisa conduzida pela Rand Corporation aponta crescimento de 14% no consumo
de álcool entre adultos com mais de 30 anos nos Estados Unidos.
Para a Organização
Mundial da Saúde, os números são preocupantes, agravados no Brasil pelo fato de
o abuso de álcool ser considerado o principal responsável pela morte de jovens
entre 15 e 19 anos, seja em acidentes ou por paradas cardíacas. Segundo o IBGE,
outro dado alarmante: cerca de 1,5 milhão de adolescentes de 13 e 14 anos já
experimentaram bebida alcóolica.
Influência do meio social
Neste contexto, o dia 20
de fevereiro – considerado o Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo
– ganha mais relevância neste ano. Para o professor do curso de Psicologia do
UNICURITIBA, Perci Klein, ainda que seja considerado uma doença – com fatores
genéticos e hereditários associados –, é impossível dissociar o alcoolismo do
meio social em que as pessoas estão inseridas.
Mestre
em Psicologia da Saúde com atuação em psicologia social, dinâmica das relações
interpessoais e psicologia da comunicação, Klein lembra que a própria sociedade
torna aceitável o consumo do álcool. “Em muitas famílias o alcoolismo passa de
geração em geração, mas o problema vai além. A bebida é culturalmente aceita em
nosso país. A questão é que a mesma sociedade que abre as portas para o consumo
do álcool desde a adolescência é aquela que fecha as portas para quem pede
ajuda para se livrar do vício”, comenta o professor
Segundo o especialista,
há um movimento implícito para que adolescentes comecem a beber e isso é
encarado com naturalidade no Brasil. “Aquele que não bebe é visto como estranho
ou diferente. Mas quem bebe demais fica estigmatizado, é hostilizado, sofre
preconceito e encara uma série de problemas físicos, emocionais e psicológicos,
com reflexos em sua vida profissional, familiar e social. É essa incoerência
que precisamos resolver e combater.”
Diálogo e olhar atento
O consumo do álcool é
tão naturalizado, aponta o psicólogo, que muitos pais ou familiares demoram a
perceber quando a bebida se tornou um problema ou não acreditam que alguém
querido será acometido pelo vício. “O melhor caminho para a prevenção é o
diálogo, a interação, o olhar cuidadoso e a atenção dos pais ao comportamento
dos filhos, ao rendimento escolar, às formas de socialização”, ensina Klein.
“Não dá para trancar os filhos em casa, mas ser um pai presente e mostrar os
reflexos do alcoolismo na vida e no futuro é plenamente possível.”
Na mesma medida em que a
pandemia fez crescer o consumo de bebidas alcoólicas, o professor do
UNICURITIBA propõe um desafio às famílias: transformar o período de isolamento
em tempo de qualidade. “Se a pandemia nos obrigou a ficar mais tempo em casa,
que possamos retomar os almoços à mesa, todos juntos, exercitando a escuta, nos
reaproximando dos filhos, ouvindo o que eles têm a dizer. Que esse tempo seja
uma oportunidade para uma conversa franca, um momento para os pais perceberem o
que se passa com os filhos.”
Ajuda profissional
A qualquer sinal de que
o consumo de álcool tenha se tornado recorrente – ou ainda exista a suspeita do
uso de drogas ilícitas, o professor Perci Klein recomenda que a família busque
ajuda profissional. “O abuso de álcool e drogas pode ter inúmeras causas e
fatores relacionados, muitas vezes difíceis de compreender. Por isso, é
importante contar com suporte especializado, tanto para o dependente quanto
para os familiares, que também sofrem com a situação”, explica.
Seja qual for o caso,
continua o psicólogo, diálogo, afeto e compreensão serão sempre essenciais ao
longo de todo o tratamento. “O alcoolismo já traz sofrimentos suficientes a
todos os envolvidos e o dependente não deve sofrer com mais preconceito ou
mesmo com a vergonha da família. O apoio nos momentos de altos e baixos, nas recaídas
e nas fases difíceis é muito importante.”
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