Barragem do rio Passaúna Crédito: divulgação/Sanepar |
Brasil é 19º maior
consumidor de antibióticos do mundo, com uso diário de cerca de 22 mil doses.
80% das substâncias são excretadas sem serem metabolizadas pelo organismo.
Segundo ONU, boa parte vai para esgoto e natureza
A descoberta dos antibióticos no início do século
XX causou uma verdadeira revolução na saúde. Os medicamentos “milagrosos”, como
eram chamados na época, possibilitaram a cura de doenças até então fatais, como
pneumonia, tuberculose e febre reumática. Milhões de vidas foram e ainda são
salvas graças a eles.
O remédio “mocinho”, no entanto, também tem um lado
“vilão”. Pesquisadores constataram que o uso excessivo de antibióticos afeta
não somente a saúde humana, como também a natureza. Em contato com o meio
ambiente, os antibióticos podem criar bactérias resistentes, romper o frágil
equilíbrio ecológico de rios e até afetar processos biológicos.
Os efeitos negativos já podem ser vistos,
inclusive, nos rios do Paraná, segundo Eliane Carvalho de Vasconcelos,
pesquisadora e professora do programa de Mestrado e Doutorado em Gestão
Ambiental da Universidade Positivo. “Possivelmente todos os rios do estado que
recebem efluente de estações de tratamento, ou aqueles que recebem diretamente
os dejetos, estão contaminados por antibióticos”, diz a professora, que também
é doutora em Ciências - na área de concentração química analítica - pela
Universidade de São Paulo (USP).
A Organização das Nações Unidas (ONU) alerta que
“instalações para o tratamento de esgoto não conseguem remover todos os
antibióticos e bactérias resistentes da água”.
Represa do Rio Passaúna Crédito: Naideron Júnior |
RIOS DO PARANÁ - Nos
últimos anos, Eliane tem feito pesquisas nos rios do Paraná envolvendo
estudantes de graduação e mestrado. Em um dos estudos, feito no rio Passaúna,
na Região Metropolitana de Curitiba, os alunos usaram cebolas orgânicas -
geralmente utilizadas como bioindicadores ambientais - para verificar o
potencial tóxico da água.
“Foi constatado que havia cafeína, o que indica a
presença de substâncias farmacêuticas, como antibióticos e hormônios, uma vez
que a cafeína é usada como marcador”, afirma.
Na pesquisa não foi avaliada a quantidade exata de
antibiótico no rio, mas, segundo Eliane, já foi possível verificar que a
presença dessas substâncias na água afetou processos biológicos da cebola, como
a divisão celular, essencial para o crescimento e a manutenção do organismo.
CRISE GLOBAL – A
contaminação das águas por antibióticos é um problema mundial. Em maio deste
ano, pesquisadores da Universidade de York, no Reino Unido, divulgaram um
estudo alarmante sobre o tema, que acendeu o alerta de países, estados e organizações
internacionais. Os pesquisadores analisaram 701 amostras de águas coletadas em
72 países e encontram antibióticos em 65% delas.
Uma das consequências desse fenômeno é a
resistência aos antibióticos, que acontece quando determinada bactéria se modifica
em resposta ao uso ou à exposição excessiva a esses medicamentos. A ONU já
classificou a resistência a antibióticos como uma crise global e a meta da
entidade, agora, é alcançar níveis de uso adequado de antibiótico em humanos e
animais até 2050.
No Brasil, a compra de antibióticos apenas com
receita foi um grande avanço para frear o consumo do remédio no país, de acordo
com Eliane, e, consequentemente, a presença do medicamento na natureza. Mesmo
assim, o consumo ainda é alto por aqui. O brasileiro usa, em média, 22 mil
doses de antibióticos todos os dias, o que coloca o país como o 19º maior
consumidor do mundo, na frente dos países da Europa, Canadá e Japão, segundo a
Organização Mundial de Saúde (OMS). Como 80% dos antibióticos são excretados sem
ser metabolizados pelo organismo, segundo a ONU, boa parte vai para o esgoto e
para a natureza.
“Precisamos continuar reforçando a importância do
uso consciente entre seres humanos e na agricultura, que também utiliza
antibióticos. Além disso, é preciso continuar com campanhas sobre a importância
do descarte correto”, diz a professora.
DESCARTE - A Secretaria de Estado da
Saúde do Paraná e a Prefeitura de Curitiba alertam que antibióticos e outros
medicamentos precisam ser descartados em locais adequados, não em vasos
sanitários, lixo comum, pias ou locais a céu aberto. Na capital, por exemplo, a
coleta de remédios vencidos acontece periodicamente nas proximidades dos
terminais de ônibus. Mais informações e o calendário podem ser consultados no
site coletalixo.curitiba.pr.gov.br/lixo-toxico.
Além disso, as farmácias da cidade também têm pontos específicos para depósito
desse tipo de material.
MESTRADO E DOUTORADO – Por meio
da realização de pesquisa aplicada para a solução de problemas ambientais, o
programa de Mestrado e Doutorado em Gestão Ambiental da Universidade Positivo
visa complementar a formação de profissionais que querem contribuir para a
utilização adequada dos recursos naturais do planeta. O curso, em seu 15° ano,
tem nota 5 na Capes (Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior)
e parcerias internacionais.
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