Feminicídio
aumentou no País nos últimos cinco anos; Advogada especializada em Direito de
Família comenta sobre a Lei
Em
1983, Maria da Penha foi vítima de dupla tentativa de feminicídio por Marcos
Antonio Heredia Viveros, à época seu marido. Na primeira, ele simulou um
assalto e lhe desferiu um tiro nas costas enquanto ela dormia, deixando-a
paraplégica. Na segunda, com Maria da Penha já em uma cadeira de rodas, ele
tentou eletrocutá-la durante o banho. Ela tinha 38 anos de idade e três filhas
com seu algoz.
Esse
terrível trecho da história da farmacêutica e bioquímica cearense mudou toda
sua trajetória e a tornou um símbolo do combate à violência doméstica. Sua luta
fez com que, em 7 de agosto de 2006, fosse sancionada uma lei com seu nome para
garantir proteção para mulheres contra qualquer tipo de violência doméstica -
seja física, psicológica, patrimonial ou moral.
Nesta
quarta-feira, no aniversário de 13 anos da Lei Maria da Penha, pouco se tem a
comemorar uma vez que o cenário da violência contra a mulher no país ainda
assusta. Nos últimos cinco anos, enquanto o assassinato de mulheres nas ruas
diminuiu 3%, a morte violenta intencional de mulheres no ambiente doméstico
cresceu 17% no mesmo período.
Os
dados são do Atlas da Violência 2019, publicação do Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública,
divulgados em junho deste ano. Os números apontam para uma provável escalada do
crime de feminicídio entre 2012 e 2017.
Apesar
das estatísticas, é impossível negar os avanços trazidos pela lei, tanto em forma
de encorajamento para as mulheres que passaram a denunciar seus agressores,
quanto no engajamento político para a elaboração de fragmentos para
aperfeiçoá-la. Em 2015, a Lei Maria da Penha foi reforçada pela Lei do
Feminicídio e o assassinato de uma mulher cometido por razões da condição de
sexo feminino passou a ter pena prevista de 12 a 30 anos de reclusão.
Rede
de proteção
'A
Lei Maria da Penha, de fato, não evita que a violência contra mulher aconteça.
Mas é importante avaliar que antes não existia uma rede de proteção, tampouco
mecanismos eficientes de denúncia. Antes, por exemplo, agressores eram punidos
simplesmente com penas alternativas, como com pagamento de cestas básicas ou
pequenas multas', explica a advogada Silvia Felipe Marzagão, especialista em
Direito de Família pelo escritório Silvia Felipe e Eleonora Mattos Advogadas.
Uma
das grandes conquistas da lei Maria da Penha foi possibilitar que os agressores
de mulheres no âmbito doméstico e familiar fossem presos em flagrante ou tenham
prisão preventiva decretada podendo ter pena entre seis meses a três anos de
detenção.
'A
violência contra a mulher não é apenas um problema de ordem privada ou
individual, mas um fenômeno estrutural e de responsabilidade da sociedade como
um todo', diz a especialista.
A
Lei Maria da Penha é reconhecida pela ONU como uma das três melhores
legislações do mundo no enfrentamento à violência contra as mulheres e
considerada por juristas como uma "ação afirmativa", ou seja, uma
medida criada para combater desigualdades sociais que persistem há anos.
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