Celular e micro-ondas causam
câncer? Oncologistas comentam dúvidas e explicam origem de boatos sobre causas
da doença
Dados recentes indicam que, ao longo da vida, um a
cada cinco homens e uma a cada seis mulheres desenvolverão câncer, de acordo
com o GLOBOCAN 2018 – estudo liderado pela International Agency for Research on
Cancer, que estima a taxa de incidência da doença em diferentes regiões do
mundo. Só no Brasil, considerando levantamento do Instituto Nacional do Câncer
(INCA), 600 mil brasileiros deverão receber o diagnóstico da doença este ano.
Diante dessa realidade, os especialistas são taxativos: a informação ainda é a
ferramenta essencial para o combate e diagnóstico precoce de tumores malignos
entre a população em geral.
É frequente, todavia, que graças às facilidades
promovidas pela comunicação por meio da tecnologia e do uso de ferramentas de
busca na internet que boatos sobre as principais causas de câncer se espalhem
rapidamente e passem a ser tidas como verdades absolutas, mesmo que não contem
com qualquer tipo de fundamento científico.
Do celular ao açúcar, muitos são os
"vilões" apontados como grandes responsáveis pelos índices de casos
da doença na atualidade. Para ajudar a esclarecer alguns desses mitos, cinco
especialistas respondem às principais dúvidas que surgem nos consultórios:
Açúcar alimenta o câncer
O açúcar é fundamental para as células humanas
realizarem seus processos metabólicos e o mesmo acontece com as células
cancerígenas, mas isso não quer dizer que o açúcar cause ou até mesmo alimente
o câncer.
"O problema do açúcar é que, se consumido em
excesso, pode aumentar a chance de o indivíduo se tornar obeso e a obesidade é
um grande fator de risco para o desenvolvimento do câncer. Estima-se que esse
fator aumente em 20% o risco da doença", afirma a oncologista clínica
Cintia Elaine Nascimento Givigi, do Centro Capixaba de Oncologia (CECON).
A dieta saudável é aquela que todos nós conhecemos,
rica em alimentos integrais, verduras, frutas, proteínas de carne branca, em
que também se limita o consumo de carne vermelha, álcool e carnes defumadas e
processadas.
Vacinas podem causar câncer
Existem diversos boatos que algumas vacinas são
capazes de causar o câncer, mas além de não provocar, algumas são capazes até
de prevenir a doença. Um exemplo é a vacina contra o HPV, vírus responsável por
90% dos casos de câncer de colo de útero. A vacina contra hepatite B, que pode
ser tomada no início da vida, também é capaz de prevenir casos de câncer de
fígado.
"As vacinas estimulam o sistema imunológico,
fazendo com que o corpo humano fique imunizado contra diversas doenças
infecciosas. Não há qualquer relação com o desenvolvimento de câncer",
explica Silvia Fontan, oncologista da Oncoclínica Recife.
Poluição causa câncer de pulmão
Já existe uma série de estudos que evidenciam uma
associação entre conviver com a poluição e o risco aumentado de câncer. A
Organização Mundial da Saúde (OMS) já estimou também que a poluição urbana do
ar foi associada com a ocorrência de 227 mil mortes de câncer no mundo em 2012.
É claro que a qualidade do ar é uma questão de
saúde pública e que deve ser melhorada, mas a oncologista Mariana Laloni, do
Centro Paulista de Oncologia (CPO) afirma que apesar de já ver no consultório
pessoas não fumantes com câncer de pulmão, o cigarro continua sendo o maior
fator de risco. "Em termos de atitudes que as pessoas podem fazer, a
melhor indicação é largar o tabaco e manter um peso saudável",
complementa.
Protetor solar é tóxico
Despois que algumas pesquisas alegaram que
substâncias presentes no protetor solar, como o oxibenzona, podem causar
reações alérgicas e até mutações no DNA, difundiu-se a ideia de que não usar
protetor poderia ser mais seguro para a pele.
Adriana Scheliga, oncologista da Oncoclínica Centro
de Tratamento Oncológico, no Rio de Janeiro, comenta que os resultados desses
estudos ainda são controversos e que há outros levantamentos que comprovam o
contrário, que o uso diário de protetor solar reduz o risco de câncer de pele.
"Já sabemos que mais de 70% da população brasileira não aplica o filtro
solar diariamente. Parar de recomendar o seu uso sem pesquisas fundamentadas
seria imprudente", conta.
A sugestão do especialista é buscar por opções que
utilizam fórmulas que tenham certificação de qualidade e evitar a exposição
excessiva e constante aos raios solares.
Radiação do Celular, microondas e Wi-fi aumenta o
risco de tumores
Não é de hoje que o boato de que a radiação
presente em alguns aparelhos tecnológicos pode causar câncer. Até o momento
nenhum estudo conseguiu encontrar uma associação entre essa exposição e o
aumento do risco de câncer, isso porque esses aparelhos utilizam a radiação
não-ionizante, ou seja, possuem uma energia muito fraca.
"As evidências atuais não demonstram que
Utilizar o celular ou qualquer outro desses aparelhos provoque danos ou
alterações clinicamente significativas no DNA das células. Assim, é precoce para
tentar relacionar essas radiações com o desenvolvimento do câncer", afirma
Elge Werneck, oncologista do Instituto de Hematologia e Oncologia de Curitiba
(IHOC).
O especialista, contudo, explica que deve existir
uma preocupação com a exposição excessiva à radiação UV e raios-x, presente em
lâmpadas de vapor de mercúrio, lâmpadas de bronzeamento, luzes negras e no sol.
Grupo
Oncoclínicas
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