Quando falamos em AIDS muitas coisas nos vêm à mente. O tabu e o
preconceito relacionados aos pacientes acometidos pela patologia e, até mesmo,
as mortes de grandes artistas contemporâneos, como as dos cantores Freddy
Mercury, Cazuza e Renato Russo, que foram vítimas da AIDS em uma época em que a
epidemia se alastrava de forma vertiginosa em todo o mundo, são temas que ainda
têm um grande impacto emocional em todos nós.
Para desmistificar o assunto e esclarecer a população sobre os
principais meios de exposição ao vírus HIV, causador da doença, e os métodos
preventivos disponíveis, no dia 1 de dezembro é celebrado o Dia Internacional
da Luta contra a AIDS. A data foi instituída em 1987 pela Organização Mundial
da Saúde (OMS), com o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU). No Brasil,
desde 1988, o Ministério da Saúde aproveita a ocasião para promover ações de
conscientização relacionadas a esta que ainda é uma das doenças mais letais que
conhecemos.
Embora a mortalidade por conta da AIDS no Brasil tenha caído 7,2%, a
partir de 2014, de acordo com o Boletim Epidemiológico HIV AIDS 2017, publicado
pela Secretaria de Vigilância em Saúde (Ministério da Saúde), principalmente
devido às boas políticas públicas de saúde e assertividade dos tratamentos,
muitas pessoas ainda são negligentes quando o assunto é prevenção. Dados do
Ministério da Saúde apontam que, entre 2007 e 2016, foram registrados mais de 136
mil novos casos de infecção por HIV no País.
A principal via de transmissão do HIV, é, sem dúvida, a
prática de qualquer relação sexual sem proteção, independentemente de haver ou
não penetração. Nesse cenário, a melhor forma de prevenção ainda é o uso da
camisinha, embora o seu uso esteja ficando cada vez mais impopular,
principalmente entre os jovens brasileiros.
Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), divulgada pelo IBGE e realizada com estudantes do 9o ano do ensino fundamental, mostrou que
33,8% dos entrevistados, jovens entre 13 e 17 anos de vida sexual ativa, não
haviam utilizado o preservativo em sua última transa, o que é extremamente
preocupante. Como principais justificativas, falta de informação e de
preocupação, além do tradicional descuido foram citadas, embora, na prática, a
eficácia da medicação dê uma falsa ideia de que os riscos de contaminação
também diminuíram ao longo dos anos. As informações são de 2015, mas
ainda são bastante atuais.
Não podemos esquecer também que existem outras maneiras de infecção,
como o compartilhamento de seringas por usuários de drogas, o momento do parto
(transmissão vertical) e, até mesmo, uma transfusão de sangue. Portanto, todo
cuidado é pouco.
No caso de exposição ao risco
de contágio, é recomendado que um médico seja imediatamente consultado. Para o
diagnóstico, é necessário um exame de sangue ou da mucosa bucal para detecção
dos anticorpos. A primeira etapa consiste em um teste rápido (anti-HIV) e, em
caso de resultado positivo, realiza-se o Western Blot ou ELISA para a
confirmação.
Uma vez detectado o HIV, um
infectologista deve ser acionado e o tratamento iniciado imediatamente. Em
geral, é indicada uma combinação de drogas antirretrovirais, que deve ser
ingerida diariamente, sempre no mesmo horário. Atualmente, essas medicações são
bem toleradas pelo organismo e fáceis de ministrar, com poucos efeitos
colaterais, como enjoo ou alteração intestinal.
Geralmente, os primeiros
sintomas da contaminação pelo vírus são as chamadas doenças oportunistas. Ao
destruir as células de defesa, o HIV impacta diretamente na imunidade do
indivíduo, abrindo caminho para que estas patologias se instalem. Dentre as
mais comuns, podemos citar a pneumocistose, a toxoplasmose, o Sarcoma de Kaposi
e a tuberculose. As primeiras reações são febre persistente, tosse seca,
garganta arranhada, suor noturno, rápida perda de peso, náusea, queda de
energia, entre outras. Muitas vezes, as pessoas ficam anos com o vírus
incubado, sem apresentar sintomas. Por isso é sempre recomendada a realização
de exames periódicos.
Uma das principais novidades no tratamento da AIDS
é a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) ou pílula anti-HIV, que é distribuída pelo
Ministério da Saúde desde 2017 a todas as pessoas que apresentam risco da
exposição ao vírus. No entanto, mesmo com a medicina em
constante evolução, a prudência não deve ser descartada. Embora a
eficácia da PrEP seja reconhecida cientificamente, a prevenção ainda é o melhor
remédio.
Dra. Nelly Kobayashi (Sexóloga) - Formada pela
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) com residência em
Ginecologia e Obstetrícia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP, a Dra. Nelly
possui título de especialista em Ginecologia e Obstetrícia (TEGO) pela
Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) e
em sexologia pela Universidade de Pisa (Itália). Já atuou como médica
colaboradora no setor de sexualidade no ambulatório de Ginecologia do Hospital
das Clínicas da FMUSP e, atualmente, é médica da Clínica VidaBemVinda e
pós-graduada em sexualidade humana pela Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo (USP).
Innuendo
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