Em processos de coaching executivo ouço histórias
bizarras, mas que têm se repetido ao longo dos últimos anos.
Um problema recorrente que tenho observado em
algumas empresas é o seguinte: pessoas talentosas serem pressionadas por seus
pares para frearem sua competência.
Lembro-me de um executivo de TI que, juntamente com
outro colega, montou uma área de vendas diretas de produtos da empresa na qual
trabalhava – e originalmente somente vendia por meio de revendedores
autorizados. Passados seis meses de sua atuação, o diretor de RH da empresa
resolveu reduzir suas comissões sobre o faturamento. O motivo: eles vendiam
tanto que passaram a ganhar mais do que o presidente da empresa – e o diretor
de RH considerava isso uma distorção. Claro que ele não levava em conta que o
presidente era o dono da empresa e, portanto, além do salário, recebia também o
lucro, que aumentara proporcionalmente às vendas.
Recentemente observei isso acontecer com
profissionais em multinacionais e em um banco, também internacional. Executivos
que se destacam e são criticados por seus pares, pois os fazem parecer
medíocres – na minha opinião, são mesmo.
Um ambiente desse tipo é desmotivador, apresenta
inversão de valores e um estresse absurdo para quem, sendo competente, se vê
sob uma chuva de críticas infundadas e maledicentes. Quem precisaria de
coaching são os críticos de meu cliente, mais do que ele.
A causa disso é uma distorção do espírito de
equipe.
Os líderes devem estar atentos a como os valores da
empresa são definidos e expressos no cotidiano. Se quiserem que os melhores
fiquem, terão de valorizá-los, e não expulsá-los de seus quadros.
Em primeiro lugar é preciso observar com atenção o
que os acionistas têm demandado neste momento de grave crise econômica e
financeira. Quando eles pedem algo impossível de ser feito, atraem para a
empresa, especialmente para a diretoria e gerência, mentirosos e psicopatas.
Pois, somente indivíduos com essas características são capazes de prometer e se
comprometer com coisas impossíveis de serem feitas. E eles o fazem da maneira
mais cínica possível: teatralmente.
Em segundo lugar, em momentos de crise as empresas
devem focar produtos e serviços que as permitam sobreviver, enquanto criam
condições para voltar a crescer o mais rapidamente possível. Para isso,
precisam de pessoas competentes, corajosas e criativas. Executivos capazes de
tomar decisões duras, mas aptos a preparar a empresa para o próximo ciclo.
Psicopatas e mentirosos destroem o moral das pessoas, especialmente as
melhores, que sairão na primeira oportunidade e, o que é pior, podem ir para os
concorrentes. Quem deseja que os concorrentes sejam fortalecidos?
Por último, é preciso cuidado com os valores que
fomentamos na companhia. Hoje, vejo com preocupação a ideia de pertencer a um
grupo sobrepujar a competência dos indivíduos. Pois, incompetentes e pessoas de
má índole podem se unir e reclamar de excelentes profissionais que estão
destoando do time. E eles podem se gabar de estar preocupados com o
"espírito de pertencimento".
Portanto, quando se afirma que o time é mais
importante, temos de avaliar se esse espírito de equipe, de fato, representa
valores como excelência, licitude das ações e moralidade.
Afinal, mais importante do que o time são os
propósitos elevados, cuja ausência causará danos à organização, principalmente
no longo prazo.
O mundo e as empresas estariam em melhores
condições se valorizassem os indivíduos de excelência, e não os fanfarrões,
psicopatas e mentirosos de plantão.
Em momento de crise eles abundam, mas não são quem
tirarão as empresas das dificuldades nas quais se encontram – embora possam
falsificar números que simulem que o estejam fazendo.
Sempre dependeremos das pessoas competentes, de
moral elevada e de inabalável fé para conduzir os negócios e o País.
Principalmente em tempos turbulentos. São elas que precisam ser atraídas,
encorajadas e desenvolvidas para que todos saiam das adversidades melhores do
que quando entraram.
Sílvio Celestino - Autor do livro "O Líder
Transformador, como transformar pessoas em líderes", Sílvio Celestino é
sócio fundador da Alliance Coaching. No Twitter: @silviocelestino. Visite: www.alliancecoaching.com.br e www.facebook.com/AllianceCoachingBrasil
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