Os onze ministros do STF
contrataram um espaço especial no aeroporto de Brasília. Pela bagatela de R$
374 mil anuais livraram-se dos “desconfortos” da sala VIP que já utilizavam e
transformaram seus voos num prolongamento das mordomias habituais em que tudo é
privativo, do elevador ao “capinha” (aquele funcionário que puxa e empurra a
cadeira quando sentam).
A nova sala vem acompanhada
de outras regalias, como o procedimento de embarque exclusivo, uma van que
transporta o ministro até a aeronave e uma escada lateral pela qual ascendem à
cabine de passageiros. Todo o pacote minimiza o contato de suas excelências com
o povo a quem dizem servir na “distribuição” da Justiça.
Com isso, e à nossa custa,
evitam que algum passageiro malcriado lhes dirija palavras desagradáveis, como eventualmente
acontece. Palavras desagradáveis também
são privativas no topo do Poder Judiciário. Só ministros podem proferir
desaforos a ministros. E normalmente com razão.
A assessoria do Tribunal,
segundo matéria
do Estadão, informa que se trata de conduta de
segurança. O dito soa estranho porque a regalia se refere apenas ao aeroporto
de Brasília. Se for, mesmo, procedimento de segurança, presume-se que algo
assim deva se reproduzir nas capitais do país, especialmente nos destinos
frequentes dos senhores ministros.
Sublinhe-se, em favor da
população e de sua opinião sobre o colegiado do STF, que todo o descontentamento
que, por vezes, se expressa em indignação, é motivado pelos bons favores e pela
tolerância da Corte para com a prazerosa impunidade dos corruptos. A situação
se tornou, mesmo, intolerável.
Se esses procedimentos
típicos de recepção de motel pegarem, logo haverá salas especiais para
deputados, para senadores, para ministros do TCU, para ministros de Estado. Ou
- quem sabe? – surgirá uma nova capital federal, em área mais remota do sertão,
onde não haja povo para encher o saco.
Percival Puggina - membro da Academia
Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de
jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a
tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil, integrante do grupo
Pensar+.
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