O país tem uma parte capitalista (o setor privado)
e uma parte socialista (o Estado). O Estado vive do que retira da sociedade. Se
gasta mais do que arrecada, tem de fazer dívida. Se persiste, tem de aumentar
impostos. Na crise, o setor privado (pessoas e empresas) aperta o cinto, reduz
gastos e luta para não ir à falência. Já o governo segue inchando, não reduz
gastos, seus servidores não perdem o emprego, e a saída é sempre a mesma: mais
dívidas e mais impostos.
A Revolução Americana de 1776 foi a revolta do povo
contra os impostos cobrados pela monarquia inglesa. Foi a luta pela
independência dos EUA. Porém, os norte-americanos sabiam que não ter nenhum
governo levaria ao caos, e que a função primária do governo é cuidar da defesa
nacional e instituir um sistema judicial. Mas os “pais fundadores” da pátria tinham
duas premissas: uma, o governo não deve depender de políticos e burocratas
altruístas e angelicais (que não existem); outra, não tinham a intenção de
permitir que o governo se tornasse um mecanismo para “roubar” os frutos do
trabalho de um homem e dar a outro que não trabalhou para obtê-los.
A Constituição dos Estados Unidos foi elaborada
para preservar as liberdades individuais e ter um governo com poderes
limitadíssimos. A vida de um indivíduo pode ser vista em duas grandes partes:
uma é o espectro de sua liberdade; outra é o espectro de suas ações comandadas
por um aparato de coerção e controle, o governo. Os fundadores da nação
norte-americana sabiam que quanto mais atribuições fossem dadas ao governo,
maiores seriam os impostos, mais fortes seriam os controles sobre a vida das
pessoas, e os poderes dos políticos e dos burocratas seriam crescentes. Cada
vez mais a vida humana sairia do controle do indivíduo e passaria ao controle
do Estado.
Em sua obra O Manifesto Comunista, Marx e
Engels propunham a ditadura do proletariado – aquilo que chamavam de
“socialismo” –, cuja construção dependeria de três coisas: eliminar o direito
de propriedade privada (privar o homem dos frutos de seu trabalho); dissolver a
unidade familiar (os filhos não pertenceriam mais aos pais, mas ao Estado); e
destruir a religião (que para Marx era o “ópio do povo”). Com a queda do Muro
de Berlim e a desintegração do império sanguinário soviético, os socialistas
passaram a controlar a vida das pessoas por meio dos impostos, de excessivos
poderes governamentais e da estatização de tudo que pudessem, desde o preço do
ingresso que um bar cobra de homens e mulheres até que músicas podem ser
tocadas no carnaval baiano.
O pai de Pítocles reclamava do excesso de gastos do
filho, que vivia lhe pedindo sempre mais dinheiro, e recebeu do filósofo
Epicuro o seguinte conselho: “Se queres enriquecer Pítocles, não lhe
acrescentes riquezas, diminui-lhe os desejos”. É assim que devíamos agir contra
a voracidade do governo, que insiste em crescer, confiscar sempre mais de nossa
renda e controlar nossas vidas. A fibra de um povo é tão maior quanto menos ela
depende do governo, que no fim das contas é um pai terrível.
José
Pio Martins - economista e reitor da Universidade Positivo.
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