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sábado, 26 de julho de 2014


INCÊNDIO EM PARAISÓPOLIS EVIDENCIA NECESSIDADE DE ACELERAR PLANO DE URBANIZAÇÃO

Em dezembro passado, enquanto a maioria das pessoas pensava nas festas de fim de ano, em Paraisópolis um incêndio deixava 280 famílias desabrigadas. Na época, defesa civil e prefeitura demoraram a prestar auxílio e informações, e a comunidade realizou um mutirão para ajudar esses moradores. Recentemente, outro incêndio deixou cinco famílias sem suas casas, além de ter causado uma fatalidade – Laurinda da Cruz, moradora de 67 anos, morreu dentro de seu quarto. Nesses poucos meses entre essas duas calamidades, a omissão e letargia do poder público para evitar esse tipo de tragédia ficaram em evidência.

Muito mais do que números numa planilhia, os atingidos pelos incêndios são nossos vizinhos, amigos e colegas, e essa tragédia pertence a todos que moram em Paraisópolis e, também, na cidade de São Paulo. Pois a solução para evitar esse tipo de acidente não é só clara, mas possível de ser realizada. A urbanização em comunidades como Paraisópolis, trazendo moradia, infraestrutura e melhores condições de vida, deveria ser a prioridade do governo, o que não temos visto.

Segundo o último Censo, realizado pelo IBGE em 2010, aproximadamente dois milhões de pessoas residem em favelas na região metropolitana de São Paulo – 11 % do total de moradores. O número é impressionante: existem mais moradores de comunidades na região metropolitana de São Paulo do que em Guarulhos, segunda cidade mais populosa do estado. Somente Paraisópolis possui mais moradores do que Mogi Mirim e Caraguatatuba, só para citar dois exemplos.

Porém, essa grande massa que mora em locais mais precários, e que consequentemente demandam mais investimentos e cuidados, fica à deriva e muitas vezes esquecida. No dia seguinte ao último incêndio em Paraisópolis, ocorreram outros dois incêndios em comunidades de São Paulo. Segundo os Bombeiros, entre 2008 e 2012 foram 530.

A pergunta que fica, então, seria qual a razão de o governo não investir na urbanização que traria benefícios claros e longínquos para toda a cidade? Até que nossos representantes tomem atitudes firmes sobre essa questão, esses incêndios continuarão acontecendo. Em Paraisópolis, a luta de moradores e comerciantes tem sido importante para mudar esse cenário. Essa briga, porém, deveria ser de todos, levando escolas, hospitais, moradias e um melhor lugar para se viver: o que é de direito e, simplesmente, o básico.


Gilson Rodrigues - líder comunitário, morador de Paraisópolis e realizador de diversos projetos sociais em São Paulo.

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