INCÊNDIO
EM PARAISÓPOLIS EVIDENCIA NECESSIDADE DE ACELERAR PLANO DE URBANIZAÇÃO
Em dezembro passado,
enquanto a maioria das pessoas pensava nas festas de fim de ano, em
Paraisópolis um incêndio deixava 280 famílias desabrigadas. Na época, defesa
civil e prefeitura demoraram a prestar auxílio e informações, e a comunidade
realizou um mutirão para ajudar esses moradores. Recentemente, outro incêndio
deixou cinco famílias sem suas casas, além de ter causado uma fatalidade –
Laurinda da Cruz, moradora de 67 anos, morreu dentro de seu quarto. Nesses
poucos meses entre essas duas calamidades, a omissão e letargia do poder
público para evitar esse tipo de tragédia ficaram em evidência.
Muito mais do que números
numa planilhia, os atingidos pelos incêndios são nossos vizinhos, amigos e
colegas, e essa tragédia pertence a todos que moram em Paraisópolis e, também,
na cidade de São Paulo. Pois a solução para evitar esse tipo de acidente não é
só clara, mas possível de ser realizada. A urbanização em comunidades como
Paraisópolis, trazendo moradia, infraestrutura e melhores condições de vida,
deveria ser a prioridade do governo, o que não temos visto.
Segundo o último Censo,
realizado pelo IBGE em 2010, aproximadamente dois milhões de pessoas residem em
favelas na região metropolitana de São Paulo – 11 % do total de moradores. O
número é impressionante: existem mais moradores de comunidades na região metropolitana
de São Paulo do que em Guarulhos, segunda cidade mais populosa do estado.
Somente Paraisópolis possui mais moradores do que Mogi Mirim e Caraguatatuba,
só para citar dois exemplos.
Porém, essa grande massa
que mora em locais mais precários, e que consequentemente demandam mais
investimentos e cuidados, fica à deriva e muitas vezes esquecida. No dia
seguinte ao último incêndio em Paraisópolis, ocorreram outros dois incêndios em
comunidades de São Paulo. Segundo os Bombeiros, entre 2008 e 2012 foram 530.
A pergunta que fica,
então, seria qual a razão de o governo não investir na urbanização que traria
benefícios claros e longínquos para toda a cidade? Até que nossos
representantes tomem atitudes firmes sobre essa questão, esses incêndios
continuarão acontecendo. Em Paraisópolis, a luta de moradores e comerciantes
tem sido importante para mudar esse cenário. Essa briga, porém, deveria ser de
todos, levando escolas, hospitais, moradias e um melhor lugar para se viver: o
que é de direito e, simplesmente, o básico.
Gilson Rodrigues - líder comunitário, morador de Paraisópolis e realizador de diversos projetos sociais em São Paulo.
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