Os planos de saúde são apontados como o terceiro item na lista dos
desejos dos brasileiros, perdendo apenas para a casa própria e a educação,
segundo pesquisa do Ibope Inteligência. Entretanto, apenas em 2015, cerca de
760 mil brasileiros tiveram que abrir mão desse sonho. A crise econômica, a
alta da inflação e o grande número de demissões foram os maiores responsáveis
pela perda do poder de consumo do brasileiro. Jovens, classes B e C e os portadores
de planos empresariais foram os mais afetados.
Resultante disso, tivemos uma grande movimentação na saúde. Muitos
brasileiros passaram a buscar opções mais em conta de seguros de saúde. São
pessoas que foram demitidas e ficaram sem o benefício ou aquelas que não
conseguiram mais arcar com o valor do plano antigo e que, já acostumadas a um
serviço de qualidade, não querem abrir mão desse privilégio.
Para continuar tendo acesso a uma saúde melhor, porém precisando reduzir
os custos, estão migrando para modalidades mais baratas e preferindo planos
regionais aos nacionais. É a forma encontrada para enfrentar esse momento de
crise. Para as operadoras, é uma oportunidade única que poucas estão sabendo
aproveitar. É preciso se reinventar e oferecer opções mais enxutas, mas sem
abrir mão da qualidade.
Estas empresas, ao receberem este novo cliente, que está acostumado a
uma categoria de produto premium, terá a necessidade de se reinventar para
poder fidelizá-lo. Se isto não ocorrer, há uma grande chance de quando houver a
reversão da crise econômica, acontecer o sentido inverso da corrente atual.
Mas além dos que mudaram a cobertura do plano, ainda assim temos os 760
mil brasileiros que não puderam continuar pagando pela assistência privada. E
para onde essas pessoas vão quando precisam? Não lhes resta outra opção a não
ser recorrer ao SUS – Serviço Único de Saúde. Com isso, o sistema de saúde está
recebendo quase um milhão de pessoas e tende a ficar cada vez mais
sobrecarregado, comprometendo ainda mais a qualidade do serviço prestado.
Os planos de saúde, por sua vez, tentam sobreviver em um cenário
econômico desfavorável. A inflação médica no Brasil, influenciada pelo
surgimento de novas tecnologias, inclusão de novos procedimentos obrigatórios e
o aumento da expectativa de vida da população, é uma das maiores do mundo.
Mesmo assim, as operadoras de saúde possuem um reajuste máximo anual de 13,55%
que é determinado pela ANS e que, via de regra, fica abaixo do necessário. Essa
situação não é sustentável para as operadoras, em especial para as menores. É
preciso uma reformulação nas regras impostas pela ANS ou veremos um inchaço
ainda maior do SUS, decorrente da quebra dos planos de saúde.
Um cuidado grande que é preciso ter nesse momento é em relação
às clínicas de saúde populares, que muitos estão buscando em alternativa aos
planos de saúde. É preciso reforçar que as clínicas podem ser úteis em casos de
pequena complexidade, para consultas de rotina. Mas a pessoa continuará sem
cobertura para exames e internação. Observamos também que, para evitar gastos,
muitos acabam protelando a ida ao médico, o que pode prejudicar e atrasar o
tratamento em muitos casos. Ressalta-se também que as clínicas não são
regulamentadas pela ANS, consequentemente não se pode garantir a qualidade dos
serviços prestados. É preciso que exista também uma fiscalização nesse sentido.
Cadri Massuda - presidente da Abramge-PR/SC –
Associação Brasileira de Medicina de Grupo