Em sessão solene em comemoração ao Dia Mundial das
Doenças Raras, o ministro da Saúde destacou que o uso do ‘compartilhamento de
risco’ é um marco no SUS, que terá início com a aquisição do medicamento
spinraza
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta,
anunciou nesta quarta-feira (27) que a pasta irá adotar a modalidade de
compartilhamento de risco na aquisição de medicamentos. Na prática, isso
significa que o governo só pagará pelo medicamento se houver melhora do
paciente. O nusinersen (spinraza), destinado ao tratamento da doença rara
Atrofia Muscular Espinhal (AME), poderá ser a primeira medicação incluída no
Sistema Único de Saúde (SUS) pelo viés da nova modalidade. Atualmente, o
tratamento por paciente custa R$ 1,3 milhão por ano. A análise de sua possível
incorporação deve ocorrer em março, pela Comissão Nacional de Incorporação de
Tecnologias no SUS (CONITEC).
“Ao
iniciarmos o trabalho à frente da Saúde, tomamos a decisão de fazer do spinraza
a primeira medicação a ser incluída no nosso sistema de saúde por meio do
compartilhamento de risco. Avançamos pouco na questão de como selecionar,
incorporar, precificar e diluir o custo de novas tecnologias para a sociedade
brasileira. Em doenças raras, o último capítulo foi o spinraza, que tem trazido
uma gangorra de emoções às famílias e aos pacientes portadores da patologia”,
ressaltou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
De acordo com o ministro, a nova modalidade de
aquisição de medicamentos aproxima o Brasil de países que já utilizam essa
modelagem, como Canadá, Itália, França, Espanha, Alemanha e Inglaterra. “Uma
série de compromissos e resultados são colocados nessa tratativa. Isso induz o
estado a monitorar os pacientes, e quando o medicamento não cumpri a função
para qual foi indicado, esse risco de custo é compartilhado com o laboratório
que propôs o tratamento”, explicou o ministro.
O pedido de incorporação do spinraza será analisado
na próxima reunião da CONITEC, em março, e deverá seguir, com celeridade, os
demais trâmites previstos em lei. “O que está em discussão no mundo é para onde
vai essa terapia. O nosso país, o nosso sistema, precisa urgentemente se
colocar na linha da pesquisa genética humana”, disse o ministro.
No Brasil, aproximadamente 13 milhões de pacientes
têm doenças raras. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 65
pessoas a cada 100 mil indivíduos vivem com essa condição. São cerca de 8 mil
doenças raras no mundo, sendo que 80% decorrem de fatores genéticos e 20% estão
distribuídos em causas ambientais, infecciosas e imunológicas.
Desde 2014, o Brasil adota a Política Nacional de
Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras, que visa organizar a rede de
atendimento para prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação, no âmbito
do SUS. O objetivo da Política é melhorar o acesso aos serviços de saúde e à
informação; reduzir a incapacidade causada por essas doenças; e contribuir para
a melhoria da qualidade de vida das pessoas com doenças raras.
TRATAMENTO
NO SUS
Atualmente, o SUS possui 40 Protocolos Clínicos e
Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para tratamento de doenças raras, como Doença de
Gaucher, Esclerose Múltipla, Fibrose Cística, Mucopolissacaridose I e II,
Hepatite Autoimune, Lúpus Eritematoso Sistêmico, Esclerose Lateral Amiotrófica
e Doença Falciforme (rara em algumas regiões). Do total de protocolos, 15
estão em fase de atualização. Também, desde 2014, a pasta incorporou 22
medicamentos para tratamento de diferentes doenças raras.
Os protocolos trazem orientações para médicos,
enfermeiros, técnicos de enfermagem e demais profissionais de saúde sobre como
realizar o diagnóstico, o tratamento e a reabilitação dos pacientes, bem como a
assistência farmacêutica.
No SUS, o tratamento para doenças raras é feito por
meio de avaliações individualizadas das equipes multidisciplinares nos diversos
serviços de saúde do país, como unidades de atenção básica, hospitais
universitários, centros especializados de reabilitação e atenção domiciliar.
Além desses serviços, existem no país oito Serviços de Referência para Doenças
Raras, localizados no Distrito Federal, Anápolis (GO), Recife (PE), Curitiba
(PR), Rio de Janeiro, Porto Alegre (RS), Santo André (SP) e Salvador (BA).
No ano de 2018, essas unidades registraram 3.483
avaliações clínicas para diagnóstico em doenças raras e 4.157 aconselhamentos
genéticos. O Ministério da Saúde repassa anualmente R$ 26,17 milhões para o
custeio dos serviços especializados.
Também com o objetivo de diagnosticar precocemente
e agilizar o início do tratamento, o SUS conta com o Programa Nacional de
Triagem Neonatal. Por meio do Teste do Pezinho podem ser diagnosticadas seis doenças:
Fenilcetonúria, Hipotireoidismo Congênito, Doença Falciforme, Fibrose Cística,
Hiperplasia Adrenal Congênita e Deficiência de Biotinidase. Há 22.353 pontos de
coleta do teste do pezinho na Atenção Básica, hospitais e maternidades.
O Ministério da Saúde também tem investido em
pesquisas sobre o tema. Está em estudo 130 projetos para desenvolvimento de
pesquisas, incluindo kits diagnóstico para detecção rápida de doenças raras,
com valor aproximado de R$ 21,9 milhões.
Regina Xeyla, Victor
Maciel e Carol Valadares
Agência Saúde