Fumantes têm risco 20 vezes maior de desenvolver
tumores pulmonares; Apesar das intensas campanhas de conscientização, Brasil
deve fechar 2018 com mais de 31 mil novos casos registrados da doença
O tabagismo está na origem de 90% de todos os casos
de câncer de pulmão - entre os 10% restantes, 1/3 é dos chamados fumantes
passivos – no mundo, sendo responsável por ampliar em cerca de 20 vezes o risco
de surgimento da doença. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o
Brasil deverá somar 31.270 novos casos de tumores pulmonares em 2018. Além
disso, o mau hábito aumenta as chances de desenvolver ao menos outros 13 tipos
de câncer: de boca, laringe, faringe, esôfago, estômago, pâncreas, fígado,
intestino, rim, bexiga, colo de útero, ovário e alguns tipos de leucemia.
Apesar destes dados não serem novidade, o país ainda registra um elevado número
de casos de neoplasias malignas entre a população fumante.
A oncologista Mariana Laloni, do Centro Paulista de
Oncologia (CPO) - Grupo Oncoclínicas, diz que a maioria dos pacientes com
câncer de pulmão apresenta sintomas relacionados ao próprio aparelho
respiratório, tais como: tosse, falta de ar e dor no peito. "Outros
sintomas inespecíficos também podem surgir, entre eles perda de peso e
fraqueza. Em poucos casos, cerca de 15%, o tumor é diagnosticado por acaso,
quando o paciente realiza exames por outros motivos. Por isso, a atenção aos primeiros
sintomas é essencial para que seja realizado o diagnóstico precoce da
doença", diz.
Segundo a médica, existem dois tipos principais de
câncer de pulmão: carcinoma de pequenas células e de não pequenas células.
"O carcinoma de não pequenas células corresponde a 85% dos casos e se
subdivide em carcinoma epidermóide, adenocarcinoma e carcinoma de grandes
células. O tipo mais comum no Brasil e no mundo é o adenocarcinoma e atinge 40%
dos doentes", destaca a Dra. Mariana.
O tratamento do câncer de pulmão se baseia em
cirurgia, tratamento sistêmico (quimioterapia, terapia alvo e imunoterapia) e
radioterapia. Sempre que possível, a cirurgia é realizada na tentativa de se
retirar uma parte do pulmão acometido. Atualmente, os procedimentos cirúrgicos
minimamente invasivos, por vídeo (CTVA) são cada vez mais realizados com menor
tempo de internação e retorno mais rápido do paciente às suas atividades. A
indicação da cirurgia depende principalmente do estadiamento, tipo, do tamanho
e da localização do tumor, além do estado geral do paciente.
Após a cirurgia, a quimioterapia e a radioterapia
são indicadas para destruir células tumorais microscópicas residuais ou que
estejam circulando pelo sangue. Para a Dra. Mariana, a combinação de tratamento
sistêmico e radioterapia também pode ser administrada no início do tratamento
para reduzir o tumor antes da cirurgia, ou mesmo como tratamento definitivo
quando a cirurgia está contraindicada. A radioterapia isolada é utilizada
algumas vezes para diminuir sintomas como falta de ar e dor.
Mas o grande avanço dos últimos anos, ainda de
acordo com a oncologista do CPO, é a imunoterapia. Baseado no princípio de que
o organismo reconhece o tumor como um corpo estranho desde a sua origem, e de
que com o passar do tempo este tumor passa a se disfarçar para o sistema
imunológico e então se aproveitar para crescer, a imunoterapia busca reativar a
resposta imunológica contra este agente agressor.
"Atuando através do bloqueio dos fatores que
inibem o sistema imunológico, as medicações imunoterápicas provocam um aumento
da resposta imune, estimulando a atuação dos linfócitos e procurando fazer com
que eles passem a reconhecer o tumor como um corpo estranho", explica a
Dra. Mariana.
E se eu parar de fumar?
Principal fator de risco evitável de tumores
pulmonares, o tabaco está presente em cigarros, charutos, cachimbos, narguilé e
também nos cigarros eletrônicos. E, ao contrário do que muitos usuários destes
produtos acreditam, nunca é tarde demais para parar. Segundo a especialista do
CPO, os benefícios à saúde começam apenas 20 minutos após interromper o vício:
a pressão arterial volta ao normal e a frequência do pulso cai aos níveis
adequados, assim como a temperatura das mãos e dos pés são normalizadas.
Em 8 horas, os níveis de monóxido de carbono no
sangue ficam regulados e o de oxigênio aumenta. Passadas 24 horas, o risco de
se ter um acidente cardíaco relacionado ao fumo diminui. E após apenas 48
horas, as terminações nervosas começam a se recuperar de novo e os sentidos de
olfato e paladar melhoram. De duas semanas a três meses, a circulação sanguínea
melhora consideravelmente. Caminhar torna-se mais fácil e a função pulmonar
melhora em até 30%.
A partir de um a nove meses, os sintomas comuns em
fumantes, como tosse, rouquidão, e falta de ar ficam mais tênues. Os cílios
epiteliais iniciam o crescimento e aumentam a capacidade de eliminar muco,
limpando os pulmões.
A pessoa fica mais disposta para realizar atividades
físicas. Em cinco anos, a taxa de mortalidade por câncer de pulmão de uma pessoa
que fumou um maço de cigarros por dia diminui em pelo menos 50%. Quinze anos
após parar de fumar, torna-se possível assegurar que os riscos de desenvolver
câncer de pulmão se tornam praticamente iguais aos de uma pessoa que nunca
fumou.