Quero aqui discorrer sobre uma falácia. A de que
conservacionismo e preservação ambiental são políticas “de esquerda”, ou,
ainda, que vão contra o desenvolvimento econômico. Para tanto, demonstrarei que
essas são posturas pregadas por radicais ou oportunistas, que, normalmente,
ganham mais visibilidade em tempos de crise econômica e política, como a que
vivemos.
Temos visto uma crescente polarização entre grupos
políticos nos últimos anos no Brasil. De um lado, egrégios do partido que
estava no poder, chamados “mortadelas”, advindos de partidos que se assumem
alinhados a ideologias socialistas. De outro, os “coxinhas”, ou liberais de
direita. Essa simplificação das partes, todavia, não reflete a realidade
partidária brasileira, nem de quem foi às ruas clamar por mudança.
Já diziam os orientais que o segredo está no
equilíbrio, mas essas pessoas não parecem interessadas na parcimônia. Os
radicais são movidos por paixões e demonstram-se ardentes por mudanças,
todavia, entram em relacionamentos amorosos com seus líderes messiânicos
(populistas), que, com promessas fantásticas, dizem que resolverão todos os
problemas num passe de mágica. Na verdade, os extremados não agem como cidadãos
sensatos, mas como torcidas organizadas, vibrando como se estivessem numa final
de Copa do Mundo que jamais chega ao fim.
Nesse triste contexto “terceiro mundista” do qual
tentamos escapar, precisamos estar atentos aos construtores de mitos
personificados por lobbies, entidades de classe ou
marqueteiros que, em muitos casos, são propagadores de ódio e de discursos
radicais. Congressistas de “direita e esquerda” tentam aprovar um abrupto
retrocesso na conservação da biodiversidade no Brasil. Projetos de lei que
propõem a supressão de áreas protegidas, como o PL que prevê a redução da APA
da Escarpa Devoniana no Paraná, do Parque Nacional de São Joaquim, em Santa
Catarina, ou de áreas indígenas, na Amazônia, ganharam força na atual gestão.
Infelizmente, falar desse tema num país onde a
falta de saúde, educação e segurança pioraram substancialmente nos últimos 13
anos é complicado, mas devemos observar que a destruição do meio ambiente
agravou ainda mais essas mazelas.
A saúde, por exemplo, é sobremaneira atingida pelos
efeitos maléficos do desmatamento, poluição, contaminação por agrotóxicos,
desastres naturais, etc. Recentes estudos da Universidade de Yale, aliás,
apontam que há total relação entre os surtos de doenças, como a febre amarela e
outras transmitidas pelo Aedes Egypti, com a devastação ambiental.
Questões relativas ao meio ambiente também permeiam
a educação e a segurança pública. A migração do campo para a cidade
sobrecarregou a infraestrutura dos grandes centros, tornando ainda mais
custosos e difíceis as readequações dos serviços públicos que já possuíam
qualidade sofrível décadas atrás.
Enquanto isso, no “mundo encantado de Brasília”, a
desclassificada classe política (de todas as siglas) manipula leis e
estigmatiza adversários de acordo com suas intenções negociais. Meio ambiente e
conservação para essa gente são apenas meios para se chegar a fins puramente
econômicos ou eleitoreiros.
Não se trata disso. Ecologia e meio ambiente não
tem nada haver com ideologia. A Ecologia é um ramo da ciência que estuda o meio
ambiente e sua interação com os seres vivos, e como ciência, deve ser técnica e
desprovida de paixões. Meio ambiente e ecologia, portanto, estão para o
socialismo, assim como a astronomia está para o liberalismo. Não há nenhuma
relação direta entre elas. Conservar e cumprir as leis ambientais deve ser uma
obrigação comum a todos, pois está “cientificamente comprovado” que nem Marx
nem Misses sobreviveriam ao desastre de Mariana, por exemplo.
Como empresário e ambientalista, deparo-me com
colegas da área empresarial com posturas radicais quando o tema é meio
ambiente. No fundo, o que mais lhes desagrada são os custos de ter de cumprir
as leis ambientais. Assim como no Brasil ser “dedo-duro” é visto com demérito,
exigir que se cumpram leis ambientais, dizem, é “coisa de ecochatos”.
Da mesma forma que a apropriação do discurso
conservacionista por alas ditas progressistas é tática de manipulação barata, o
propósito do desdém aos ecologistas e desprezo pelas leis ambientais, nada mais
é do que uma tentativa de distorção do discurso que visa preservar interesses
individuais. A estigmatização da ecologia e dos conservacionistas serve apenas
aos radicais e oportunistas de plantão.
Giem
Guimarães - empresário, ambientalista e diretor-executivo do Observatório de
Justiça e Conservação.