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segunda-feira, 11 de junho de 2018

Drama do desemprego afeta quase 2 milhões de paulistas


Reflexo da crise econômica enfrentada pelo Brasil nos últimos anos, o desemprego é um drama que aflige quase duas milhões de pessoas somente no estado de São Paulo, segundo números do IBGE. A situação é considerada grave por especialistas. Isso porque o desemprego provoca uma cadeia de efeitos negativos tanto no aspecto econômico, como social.


“As empresas produzem menos, o comércio vende menos e, consequentemente, contrata menos. A indústria e o mercado de trabalho, portanto, têm maior dificuldade”, explica Clemente Ganz, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE).

Diante dessa situação, a dinâmica do mercado de trabalho costuma ser lenta, fazendo com que a recuperação dos empregos também seja demorada. “Nos últimos doze meses, observamos algumas recuperações, até marginais, na economia e no mercado de trabalho”, reitera Clemente Ganz.

A avaliação do diretor do Dieese é corroborada pelos últimos números divulgados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED). De acordo com o levantamento, nos últimos 12 meses, o estado de São Paulo contratou 4.523.756 pessoas com carteira assinada e demitiu 4.449.194. Isso significa que 74.562 vagas foram criadas no período.


Já nos quatro primeiros meses de 2018, foram criados 130.587 postos de trabalho. Os números foram principalmente impulsionados pelo setor de Serviços. Sozinho, o segmento criou pouco mais de noventa e oito mil (98.047) novas vagas de emprego no estado. Entre janeiro e abril, foram contratados 802.576 profissionais, enquanto outras 704.520 pessoas foram mandadas embora.


Segundo o diretor do Dieese, “a economia em recessão tende a migrar parte dos postos de trabalho formais para economia informal e para o trabalho autônomo e tudo se caracteriza como prestação de serviço”. Clemente Ganz explica, ainda, que “a legislação trabalhista e a legislação da terceirização alteraram, em grande medida, o direito das empresas de contratarem postos muito mais flexíveis”.

Quando o acumulado dos últimos 12 meses é levado em conta em São Paulo, a Construção Civil aparece como o segmento de pior desempenho, com pouco mais de vinte mil (20.317) vagas fechadas no período. Em 2018, porém, o setor tem saldo de quase onze mil (10.930) novos postos de trabalho. Uma variação positiva de 2,05%, na comparação com os quatro primeiros meses de 2017.

Segundo Antônio Carlos Alves dos Santos, professor de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o resultado pode ser explicado pela situação das grandes empresas de Construção Civil, afetadas por escândalos de corrupção. “Para analisar a situação das empresas de Construção Civil em São Paulo – não só em São Paulo como no Brasil todo – precisamos olhar para investigações e escândalos da Lava Jato. Grandes empresas da área de construção civil estão em situação delicada, o que naturalmente impacta nos investimentos da área”.

Outro professor que justifica o mau desempenho da Construção Civil em São Paulo é Fernando Botelho, da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP. Na avaliação dele, o setor também é prejudicado pela falta de previsibilidade econômica gerada pelas últimas crises enfrentadas pelo Brasil.

“A pessoa que está nessa decisão, nesse dilema se compra ou não um imóvel, ela pensa ‘eu posso perder meu emprego daqui a pouco’, ou, então, ‘uma das pessoas da família pode perder o emprego e a gente não vai ter o dinheiro para pagar a prestação’. Uma empresa também não vai construir uma fábrica nova, um galpão novo, se ela não sabe se vai ter demanda pelo produto dela lá na frente. E esse é o quadro que se coloca”, argumenta.

Além do setor de Serviços e de Construção Civil, a Indústria de Transformação também registra saldo positivo em 2018, com mais treze mil (13.329) novos postos de trabalho criados. Na contramão destes segmentos, está o Comércio e a Agropecuária, com a perda significativa de empregos formais. Foram eliminadas 21.505 vagas no Comércio e 14.716 na Agropecuária.

Como melhorar os números no curto prazo?

A melhora, mesmo que tímida, no mercado de trabalho, abre a discussão sobre quais medidas podem ser adotadas para fomentar os empregos nos Brasil. A discussão ganha ainda mais fôlego neste ano, uma vez que o país vai às urnas para escolher novos representantes, como governadores e presidente.

Para o professor Antônio Carlos Alves dos Santos, “a melhora vai depender da evolução da economia brasileira”. No caso específico de São Paulo, ele aponta para a recuperação da Indústria. Segundo ele, a recuperação também “depende de vários fatores: o custo do capital, que é a taxa de juros, a taxa de câmbio”.

A análise de Antônio Carlos é corroborada por Clemente Ganz. “A retomada do emprego está diretamente associada à dinâmica econômica. A economia volta acrescer e, portanto, a atividade produtiva passa a ter uma estratégia de ampliação da oferta de produtos e serviços”. Segundo o economista, para que isso aconteça, “é necessário primeiro que o governo coloque recursos para fazer investimentos: construir estradas, portos, aeroportos, energia elétrica, transporte urbano, saneamento, abastecimento de água, abastecimento de energia elétrica e assim por diante. O governo amplia a capacidade produtiva investindo”. 

Fernando Botelho, da USP, afirma que o problema só será resolvido com vontade política. “Enquanto não houver um comprometimento dos candidatos, uma clareza do diagnóstico que a gente tem, de grave crise fiscal, com propostas razoáveis, concretas para resolver isso daí, que convença o mercado e as pessoas, infelizmente, a gente vai andar de lado”, observa.


Eleições 2018




A menos de quatro meses para as eleições, o combate ao desemprego vem sendo intensamente debatido entre os pré-candidatos ao Palácio do Planalto. O problema específico de São Paulo é tratado por Ciro Gomes, do PDT, como prioritário, uma vez que, segundo ele “São Paulo é, a um só tempo, o centro da crise brasileira e o centro para a saída da crise”.

“A construção civil, por exemplo, já matou, nos últimos anos em São Paulo, quase 400 mil empregos. Obra parada é o que não falta para todo lado porque se retirou os mecanismos de financiamento, de infraestrutura do Brasil. E esse o dinheiro, mais cretinamente falando, está ouvindo a conversa, parado nas gavetas do BNDES, enquanto nossa gente está obrigada a viver no biscate, como se chama lá no Nordeste”, disse o presidenciável, que também é ex-ministro da Fazenda no governo Itamar Franco.

“Se você olhar aqui a capital, a Região Metropolitana de São Paulo, nós estamos falando de Indústria e de Serviços. Mas se você for para a região Noroeste do Estado de São Paulo, temos a pujança do agronegócio. Cada um deles tem uma agenda e eu dou exemplo. Vamos começar: petróleo, gás e bioenergia”, defendeu Ciro.

Outro ponto que também virou pauta de debate entre os presidenciáveis quando o assunto é o desemprego no Brasil foi a Reforma Trabalhista, aprovada pelo governo Michel Temer em 2017.

Em evento organizado pela União Geral dos Trabalhadores (UGT) para a comemoração do dia do Trabalhador, Ciro Gomes afirmou que a reforma “é uma perversão que faz parte de uma selvageria neoliberal, mofada, que se impôs ao Brasil a partir do golpe".

Já a ex-senadora Marina Silva, da REDE, criticou o Congresso por não ter votado a Medida Provisória 808, que ajustava pontos da reforma. "Agora voltou tudo ao que era antes (da MP), estamos em uma situação de total insegurança jurídica. Um grupo está em um sistema e outro grupo está em outro".

Para Aldo Rebelo, que pretende concorrer ao Planalto pelo Solidariedade, "qualquer reforma tem que levar em conta a defesa do desenvolvimento, do crescimento, das empresas, mas também a proteção dos direitos dos mais fracos".

A Reforma Trabalhista, entre outros pontos, prevê a possibilidade da divisão dos 30 dias de férias e determina que ajustes na jornada de trabalho, quando de comum interesse, tenham força de Lei, desde que respeitados os limites previstos na Constituição. A norma também pôs fim à obrigatoriedade do pagamento da contribuição sindical.




João Paulo Machado

Fonte:  Agência do Rádio Mais 



ACONTECE QUE HAVERÁ ELEIÇÃO


        Certas mensagens recebidas quando menciono o pleito do dia 7 de outubro provêm de eleitores que desconfiam de tudo. Duvidam das urnas e dos votantes, dos partidos e dos tribunais, dos políticos em geral e dos candidatos em particular.  Enquanto esperam solução por meio de uma ruptura institucional que comprovadamente não acontecerá, colocam tudo e todos sob suspeita.
        Ainda há pouco alguém se exclamava, em rede social, com a notícia de que certo militar seria candidato a deputado federal. Tratava-se, no seu modo de ver, de uma traição à causa da ruptura institucional e uma absurda aceitação das urnas eletrônicas.
        Queiramos ou não, essa é, hoje, uma questão nacional relevante, consequência da degradação institucional e da fragmentação social. Se o que desejam os proponentes dessa solução não for uma inaceitável ditadura, se for de ação rápida isso pelo que clamam, de onde vem a confiança em que logo ali adiante surgirão partidos, políticos e eleitores com elevado discernimento e sistemas perfeitos?
        Fraudes sempre houve e sempre poderá haver. Eleições também podem ser fraudadas. Na Primeira República, o bico de pena e a degola comandavam os resultados. O primeiro adulterava as atas que provinham das mesas eleitorais e o segundo, através da poderosa Comissão Verificadora de Poderes, simplesmente declarava ilegal, no Parlamento, a vitória dos indesejados. Mesmo após a criação da Justiça Eleitoral em 1932, continuaram as fraudes no registro e voto de eleitores inexistentes ou falecidos, na cíclica transferência de votantes em eleições municipais, na existência de municípios com mais eleitores do que habitantes, na compra de votos, e por onde mais houvesse brecha para a malícia dos espertalhões. Fui fiscal de apuração em diversos pleitos e embora não tenha me deparado com tentativas de fraudes, pude verificar possibilidades para que isso acontecesse durante a manipulação das cédulas, bem como esforços maliciosos para interpretar indevidamente rabiscos de eleitores analfabetos.
        Nos grotões continua a intimidação dos eleitores com a divulgação de sanções a serem aplicadas se o resultado das urnas não for o pretendido pelo cabo eleitoral da região. Não bastasse isso, ainda agora, com a introdução da identificação digital dos eleitores, e já cadastrados 65 milhões, o TSE identificou 25 mil títulos duplicados. Um desses “multicidadãos” portava 52 títulos. Também isso é fraude.
        As urnas que o Brasil usa, afirmam muitos técnicos, podem ser fraudadas.  Se têm sido é questão para a qual ainda não vi resposta afirmativa categórica, malgrado a persistente suspeita em relação à silenciosa reviravolta na apuração do pleito presidencial de 2014. Segundo se diz, aquela vitória petista não foi obtida lisamente. Ora, se essa porta existe e pode ser aberta, como explicar o resultado do pleito de 2016? Afinal, apenas dois anos após a reeleição de Dilma, o PT sofreu estrondosa derrota, caindo do primeiro para o sexto lugar entre os partidos brasileiros, vencendo em apenas uma dentre as capitais de estados da Federação. Deu pane no mecanismo? Estavam de férias os manipuladores?
        Por outro lado, a arrogância com que os ministros do TSE desprezam a opinião pública em tema tão relevante à legitimidade do poder político não ajuda a democracia. No meu modo de ver, a apuração manual, malgrado lenta e com grande dispêndio de recursos humanos, suscita superior credibilidade e segurança, por ser menos hermética e proporcionar ampla fiscalização partidária em todas as fases do processo, possibilitando, inclusive, totalizações paralelas pelos meios de comunicação.
        Não estou convencido, enfim, de que as coisas sejam como querem fazer crer alguns mais interessados em desacreditar eleição e eleitores. Haverá eleição e temos que fazer bom uso de nosso voto.



Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.


60, POR HORA, NA VIDA


Acordei e era idosa. Sentei na cama, movi os braços, as pernas. Corri para o espelho. Chequei se continuava tudo ali no lugar, forcei um pensamento mais arrojado e tudo bem, valeu, pelo menos a meu ver, ele surgiu coerente e livre. Ufa! Tudo bem, tudo legal. Na noite anterior, coisa de um minuto para outro eu tinha pulado de fase no jogo da vida, chegando à casinha 60, aquela na qual é preciso parar um pouco, pensar e esperar quais serão as próximas jogadas.


Tudo igual. Que bom. Agora ganhei um epíteto a mais: idosa. Se provocar, tem mais: sexagenária; sessentona - palavra que pesa um pouco nas costas, principalmente as femininas. Os sessentões parecem mais galãs. As sessentonas, quando citadas, dão a entender que são espevitadas e pouco virtuosas. Usada como adjetivo aponta ironia com a informação que dará em seguida “Sessentona isso, sessentona aquilo, sessentona apresenta namorado trinta anos anos mais novo”...

Tem o coroa também, meio gíria antiga, que um dia alguém me explica. É usado para definir qualquer pessoa que seja mais velha do que quem a declama. “É uma coroa enxuta”, uma frase, por exemplo.

Engraçado, ainda bem que me preparei antes, buscando não ter muita ansiedade, meditando bastante e observando como pode funcionar para mim e para os outros. Do meu canto, me observo e observo. Consigo agora até tocar no assunto por aqui.

O redondo 60 é número bonito, sonoro, imponente e importante. Deve ter algo a mais para oferecer. Tanto que horas têm 60 minutos e os minutos, 60 segundos. Dizem que 60 era o número mais admirado pelos babilônios, que dividiam o círculo em 60 partes, e que foi assim a base na qual estabeleceram o calendário, e calcularam os tais 60 minutos da hora e 60 segundos do minuto. Achavam o número harmônico. Tem o número. 60. A palavra. Sessenta. Sixty, que tem som sexy. Soixante, em francês. Perde um “s” em espanhol, vira sesenta.

Dizem que não pareço que tenho sessenta; tem quem ache que eu não devia nem falar, mas nunca menti. Acho legal. Então até já me organizei para tirar a tal documentação que comprove onde eu precisar que agora, de um dia para o outro, ganhei uns direitos, uns descontos, mereço um outro tipo de tolerância obrigatória e até umas leis de proteção, o tal estatuto. Um lugar diferente nas filas. Vou procurar direitinho o que mais posso ter de vantagem. Porque as desvantagens já conheço e estou vendo não é de hoje nessa sociedade que pouco valoriza a experiência, e nos torna invisíveis.

Estamos aí com força total. Como o tempo passa. Outro dia eu tinha nascido, no outro cresci, fui adolescente e sempre mulher. Nenhuma das fases tão marcada a ferro e fogo como esta. O que foi bom porque carreguei e mantenho as outras partes: ainda sou criança, adolescente, adulta, vivi e agora – como determinam - sou idosa, essa fase marcada com um círculo em volta. Tô brincando com isso com meus amigos e amigas. Ouvi muitas gargalhadas e, dos que já passaram dos 70 e quase já chegam ao 80, ouço dizem: esse é um novo começo. E é neles que me fio. Afinal, quando nasci eles já eram até maiores de idade.

Adoro saber do ano de 1958, e me vejo como um acontecimento igual a muitos daquele tempo onde tudo parecia abrir um novo caminho para o país, para as ideias, arejando ideais, e com grande criatividade artística. Creio que foi um ano bem alto astral. Mais alguns anos que se seguiram também, até que apagaram a luz por 21 anos.

60 anos depois, cá estamos nós, e esse ano agora caminha carrancudo. Valeu a pena? Olho para trás e me preocupo muito é se vou ter energia e vontade de novamente lutar enfileirada para que não consigam fazer desandar de novo o tempo que conquistamos e que se perde. Combater chatos e caretas, e outros tantos que pensam torto, e querem regredir ainda mais.

Uma preguiça imensa aparece do nada. E sei que é uma sensação que invade muitos de nós, hoje idosos, e alguns ainda mais idosos -  que não deve demorar a surgir classificação posterior, já que estamos vivendo mais. Os idosos e os mais idosos, todos por aí com muita energia, superando a garotada que parece já ter nascido cansada e isolada em suas redes sociais.

Temos visto terríveis casos de suicídios, de pessoas famosas que aparentavam ser totalmente realizadas. Penso que talvez elas tenham querido apenas congelar o tempo. Porque sempre há o medo, muito medo,  do que virá.






Marli Gonçalves - jornalista – Tá bom, admito, esperei 48 horas para só depois escrever tudo isso. Queria ter certeza do que é que podia ter mudado de um dia para o outro.


São Paulo, junho de 2018




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