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terça-feira, 1 de julho de 2025

Vídeos hiper-realistas gerados por IA desafiam a confiança no que é real

 Com avanço de ferramentas como o Veo 3, da Google DeepMind, especialistas alertam para riscos de manipulação, desinformação e necessidade urgente de regulamentação

 

A inteligência artificial deu um salto expressivo nos últimos meses, especialmente com o lançamento do Veo 3 pela Google DeepMind em maio de 2025. A ferramenta é capaz de gerar vídeos com qualidade cinematográfica, falas sincronizadas, efeitos sonoros e trilhas musicais, tornando quase impossível distinguir entre uma gravação real e um conteúdo artificial. Esse avanço, embora amplie as possibilidades de uso criativo e educacional, também acende um sinal de alerta sobre os impactos éticos e sociais da tecnologia. 

Para Marino Catarino, professor de Inteligência Artificial da Faculdade ESEG, do Grupo Etapa, estamos entrando em uma era em que as imagens não são mais confiáveis por padrão. “Durante décadas, conseguimos distinguir facilmente uma imagem real de uma criação digital. Mas a nova geração de ferramentas de IA, como o Veo 3, desafia esse limite. Agora, vemos vídeos que parecem absolutamente reais — com movimentos naturais, sons convincentes e falas perfeitamente sincronizadas —, mas que foram totalmente gerados por inteligência artificial”, afirma o especialista. 

O principal risco, segundo Catarino, está na manipulação de fatos e na criação de conteúdos falsos com aparência legítima, o que pode influenciar opiniões públicas, deslegitimar pessoas e até criar identidades fictícias. “Se um vídeo mostrar uma pessoa pública fazendo algo polêmico, como saber se é real ou fabricado? O risco de manipulação, criação de notícias falsas, de crimes inventados ou até mesmo de identidades fictícias é gigantesco”, completa. 

O uso dessas ferramentas também altera a dinâmica da confiança nas mídias digitais. Em um ambiente em que vídeos têm sido considerados uma das formas mais confiáveis de prova visual, a introdução de deepfakes sofisticados compromete a própria ideia de evidência. “A única defesa possível, por enquanto, é a verificação em fontes confiáveis, algo difícil em um cenário de hiperconectividade e consumo acelerado”, pontua Catarino. 

Além disso, o impacto não se limita ao noticiário ou ao debate político. Setores como o jurídico, o educacional e até o entretenimento precisarão rever seus protocolos e práticas diante dessa nova realidade. “Precisamos urgentemente de regulamentações que exijam a identificação clara de conteúdos artificiais. Caso contrário, corremos o risco de viver em uma realidade distorcida, onde não sabemos mais em que acreditar”, alerta o professor.
 

O tema reacende o debate sobre ética e responsabilidade no uso de inteligência artificial, especialmente no que diz respeito à transparência das informações e à proteção da sociedade contra abusos. Entidades internacionais como a ONU e a União Europeia já vêm discutindo diretrizes para o uso seguro dessas tecnologias, mas os avanços são lentos diante da velocidade com que a inovação chega ao mercado. 

Enquanto isso, especialistas recomendam cautela e senso crítico ao consumir conteúdos audiovisuais, especialmente aqueles com aparência muito realista, mas sem fonte confiável. Em um mundo onde os olhos já não bastam para validar a verdade, o papel da educação digital e da regulamentação torna-se cada vez mais central.


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