O mercado de trabalho brasileiro passa constantemente por uma
série de mudanças em suas regulamentações e legislações trabalhistas que visam
trazer práticas mais saudáveis, incluindo a preocupação com a saúde mental e
trabalho. A entrada em vigor da Lei nº 14.831/2024 e a atualização da NR-1
representam um marco fundamental para a temática.
Muitas empresas deverão se adequar, mas para outras tantas essa
não é uma novidade, e sim a validação de um caminho que já vinha sendo trilhado
com convicção. Uma vez que uma cultura de cuidado com as pessoas deve buscar
promover ambientes de trabalho saudáveis, seguros e emocionalmente
sustentáveis. Essa filosofia, que já permeava as ações de companhias diversas,
ganha agora um reforço legal que, na nossa visão, chega em boa hora.
Vale ponderar que historicamente, a segurança e saúde no trabalho
focavam predominantemente nos aspectos físicos. No entanto, a complexidade do
mundo contemporâneo e o reconhecimento da conexão entre mente e corpo impõem
uma visão mais holística e ampla.
Para muitas empresas, as novas regulamentações podem parecer um
desafio, exigindo adaptações em processos e investimentos. Contudo, a
experiência de organizações que já priorizavam a saúde mental demonstra que a
proatividade é um diferencial estratégico. Empresas que anteciparam essa pauta,
investindo em programas de apoio psicológico, mapeamento de riscos
psicossociais e capacitação de lideranças, encontram-se em uma posição
vantajosa. Elas não apenas cumprem as exigências legais, mas também colhem os
frutos de um ambiente de trabalho mais engajador, com menor rotatividade,
absenteísmo e maior satisfação dos colaboradores.
Boas práticas: um caminho sem volta
A adoção de boas práticas em saúde mental vai muito além da
simples conformidade. Envolve a construção de uma cultura organizacional que
valorize o indivíduo, promova o diálogo aberto e ofereça suporte adequado, o
que inclui:
- Liderança humanizada: é
preciso capacitar líderes para que identifiquem sinais de sofrimento
emocional, promovam conversas difíceis com empatia e atuem como
facilitadores do bem-estar de suas equipes.
- Programas de apoio: As
empresas precisam oferecer acesso a serviços de saúde mental, como terapia
online, orientação psicológica e programas que abordem, por exemplo,
aspectos como nutrição e autoconhecimento, assuntos de extrema relevância.
- Mapeamento e gestão de riscos: um olhar integrado garante que os liderem possam
identificar e mitigar fatores de estresse no ambiente de trabalho, como
sobrecarga, assédio e falta de autonomia
- Transparência: atuar
com políticas claras sobre saúde mental e divulgá-las amplamente faz com
que os colaboradores se sintam seguros para buscar ajuda sem estigma.
- Digitalização: o
apoio de ferramentas digitais é uma realidade atualmente e isso facilita o
acesso a recursos de saúde mental, o monitoramento do bem-estar dos
colaboradores, possibilitando ainda suporte contínuo, especialmente em
modelos de trabalho flexíveis.
A jornada em busca de um ambiente de trabalho psicologicamente
seguro não é isenta de desafios. Por isso, é importante estarmos respaldados
por exigências legais, assim cada organização pode se adaptar conforme sua
realidade. Contudo, vale ressaltar que para que ações sejam efetivamente
implementadas no dia a dia é preciso um investimento contínuo em formação e
comunicação, bem como suporte técnico.
Um ambiente de trabalho que prioriza a saúde mental não é apenas
um local onde as pessoas se sentem bem; é um local onde elas prosperam, inovam
e contribuem plenamente para o sucesso da organização. As empresas que
abraçarem essa pauta com seriedade e proatividade estarão não apenas cumprindo
a lei, mas construindo um futuro mais humano, produtivo e sustentável para
todos.
Filiphe Curvello - atua como Head Legal Compliance e RH;
Yasmin Lopes -coordenadora de BP, DHO e Recrutamento na Juntos Somos Mais
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