O Brasil ocupa o sexto lugar no ranking mundial de
casos de diabetes, com mais de 16,8 milhões de adultos diagnosticados. Segundo
o Atlas da Federação Internacional de Diabetes (IDF), esse número pode
ultrapassar 20 milhões até 2045. Nesse cenário, uma nova abordagem ganha destaque:
a remissão do diabetes tipo 2, que consiste na normalização da glicemia sem uso
de medicamentos.
A definição de remissão foi estabelecida em 2021
por um consenso internacional, que estabelece como critério a manutenção de
níveis normais de glicose por ao menos três meses consecutivos, sem medicação,
confirmada por hemoglobina glicada abaixo de 6,5%.
Modelos já adotados no Reino Unido e na Holanda
mostram resultados promissores. Esses países implementaram programas públicos
que promovem a remissão por meio de mudanças no estilo de vida, como
alimentação balanceada, atividade física e acompanhamento clínico.
O Reino Unido foi pioneiro nessa transformação. Com
base nos resultados do estudo DiRECT, o NHS criou um programa nacional de
remissão, com dietas supervisionadas por três meses e acompanhamento
multiprofissional por um ano. Na fase piloto, 38% dos 935 participantes
alcançaram a remissão.
Na Holanda, o programa Reverse Diabetes 2 Now
(RD2N) destacou-se por mostrar que mudanças estruturadas no estilo de vida
permitiram reduzir ou até suspender medicamentos. O modelo passou a ser
reembolsado por seguradoras e está em fase piloto em 12 países europeus. Esses
avanços consolidam a remissão como resultado legítimo do tratamento, com
respaldo clínico e científico.
No Brasil, o documento “Atenção à pessoa com
diabetes tipo 2 na Atenção Primária à Saúde” menciona perda de peso e mudança
de estilo de vida, mas o país ainda não reconhece oficialmente a remissão como
diretriz nem define critérios para acompanhá-la. Iniciativas privadas existem,
mas são inacessíveis à maioria.
Implementar um modelo de remissão no SUS reduziria
o uso de medicamentos, internações, diálise, amputações e aposentadorias
precoces – fatores que pesam no orçamento e na qualidade de vida. Programas de
remissão podem ser integrados à estrutura da atenção primária.
Educar pacientes, formar profissionais e desenvolver estratégias locais viáveis são caminhos possíveis e necessários. Com vontade política, capacitação adequada e apoio institucional, a remissão do diabetes tipo 2 pode tornar-se uma realidade no Brasil. O país tem potencial para liderar uma nova forma de cuidado — baseada em evidência, humanidade e esperança.
Cintia Oliveira - mora na Bélgica, é jornalista, especialista em direitos humanos, com formação em Enfermagem, Nutrição Funcional e Terapêutica Ortomolecular. Atuou como educadora em diabetes e é autora do livro Diabetes em Remissão. A Revolução da Alimentação Consciente.

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