Nova
pesquisa, conduzida pelo neurocientista Dr. Fabiano de Abreu, propõe que
comportamentos agressivos em crianças autistas não verbais com altos níveis de
suporte podem ser uma resposta de sobrevivência do "cérebro
reptiliano", e não um ato intencional.
Um
novo estudo publicado na Revista Internacional
de Ciencias Sociales oferece
uma nova e importante perspectiva neurobiológica para compreender os
comportamentos agressivos em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA),
especialmente em indivíduos não verbais que necessitam de suporte substancial
(níveis 2 e 3). A pesquisa, conduzida pelo físico mestre em psicologia
Adriel Pereira da Silva e pelo neurocientista Dr. Fabiano de Abreu Agrela, do
Centro de Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH), analisa estas manifestações
como uma ativação dos mecanismos primitivos de "luta ou fuga".
O
artigo argumenta que, para estas crianças, a agressividade (seja contra si ou
contra outros) muitas vezes não é um comportamento deliberado, mas uma resposta
instintiva a situações que são percebidas como ameaçadoras ou insuportáveis.
Fatores como a incapacidade de comunicar verbalmente a frustração ou a dor, a
sobrecarga sensorial (luzes, sons, texturas) e a quebra de rotinas podem ativar
a parte mais primitiva do cérebro.
Essa
área, conhecida como "cérebro reptiliano", é responsável pelas nossas
reações de sobrevivência mais básicas. Quando confrontado com uma ameaça, ele
dispara uma cascata de hormônios, como adrenalina e cortisol, que preparam o
corpo para lutar, fugir ou congelar, tudo de forma automática e sem necessidade
de pensamento racional.
Dr.
Fabiano de Abreu, Pós-PhD em Neurociências e coautor da pesquisa, explica a
conexão. "Em um cérebro neurotípico, o neocórtex, a parte mais racional,
modula essas respostas primitivas. No autismo, especialmente com dificuldades
de comunicação e sobrecarga sensorial, essa modulação pode ser menos eficaz. O
estímulo que para nós é neutro, para eles pode ser uma ameaça avassaladora,
ativando diretamente o cérebro reptiliano. Sem ter como verbalizar o medo ou a
frustração, a resposta de 'luta' manifesta-se fisicamente. A agressividade
torna-se a única forma de comunicação da criança em seu estado de
emergência", detalha.
Esta
compreensão muda radicalmente a forma de intervir. Em vez de uma abordagem
punitiva para o comportamento, o estudo sugere estratégias focadas na prevenção
e na empatia:
- Identificar e minimizar os gatilhos que causam estresse e sobrecarga.
- Oferecer meios de Comunicação Aumentativa e Alternativa
(CAA), como sistemas de troca de
figuras (PECS) ou dispositivos eletrônicos, para dar à criança uma
"voz".
- Ensinar habilidades de autorregulação para ajudar a criança a gerir a sobrecarga sensorial e
emocional.
A
pesquisa conclui que, ao reconhecer a agressividade como um pedido de ajuda
vindo da parte mais instintiva do cérebro, é possível criar intervenções mais
humanas e eficazes. O objetivo deixa de ser apenas suprimir o comportamento e
passa a ser equipar a criança com as ferramentas necessárias para navegar no
mundo e comunicar as suas necessidades de forma segura.
O
artigo "Luta ou Fuga no Espectro Autista: Uma Análise Comparativa dos
Mecanismos Primitivos do Cérebro Reptiliano e a Agressividade em Crianças Não
Verbais de Níveis de Suporte 2 e 3" pode ser consultado na Revista Internacional de
Ciencias Sociales.
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