No dia 8 de março, celebramos mais um Dia Internacional da
Mulher. Uma data de reflexão, conquistas e, principalmente, de questionamentos
sobre o futuro.
Uma das perguntas que me vêm à mente é: quando alcançarmos um número
expressivo de mulheres nas posições mais altas do mercado de trabalho, seja no
setor público ou privado, seremos capazes de promover mudanças reais, pautadas
na sabedoria, no bom senso e em impactos verdadeiramente positivos? Ou apenas
repetiremos padrões já estabelecidos, que historicamente têm perpetuado
problemas e desigualdades?
Sabemos que, muitas vezes, para ascender profissionalmente,
mulheres adotam comportamentos considerados "masculinos", reprimindo
suas características inatas — como acolhimento, sensibilidade, intuição,
empatia e capacidade de conexão. Mas essas qualidades são, na verdade,
essenciais para a construção de ambientes de trabalho mais equilibrados e
produtivos.
Mais do que uma disputa entre gêneros pelo topo, acredito que a
verdadeira questão reside no desejo e na capacidade de cada indivíduo —
independentemente de gênero ou raça — de se conhecer, se desenvolver e aplicar
princípios, valores mais nobres e eficientes em sua jornada profissional. Isso
inclui compartilhar conhecimento ao invés de fomentar uma competitividade
tóxica, valorizar os outros ao invés de priorizar a autopromoção, comunicar-se
com respeito em vez de perpetuar assédio e rivalidade, entre outros valores
fundamentais.
Ao longo da carreira, muitas mulheres atravessam diferentes fases.
No início, podem sentir a necessidade de "masculinizar" seus
comportamentos para sobreviver. Depois, algumas se tornam feministas
fervorosas, engajadas em movimentos que, embora válidos, nem sempre oferecem
soluções efetivas para o alcance da equidade. É um processo de amadurecimento
até que, finalmente, compreendemos que a mudança não está apenas no
enfrentamento do mundo externo, mas também na capacidade de cada pessoa de
reconhecer seu próprio valor e contribuir genuinamente para o coletivo.
A reflexão que proponho é esta: antes de olharmos para fora e
identificarmos “inimigos “externos, precisamos nos reconhecer, nos empoderar e
compreender a imensa força que já possuímos. Precisamos deixar para trás
síndromes como a da impostora e a crença de que somos insuficientes ou que
devemos carregar todas as dores do mundo.
Outro ponto crucial é a necessidade de quem está no poder —
majoritariamente homens brancos — reconhecer o valor da diversidade e abrir
espaço para mulheres e outros grupos. Mas, para que isso aconteça, é essencial
compreendermos o contexto histórico: durante séculos, os homens foram para
fora, para o mercado, enquanto as mulheres permaneceram no doméstico. Essa
divisão estruturou a sociedade e explica por que hoje muitos homens ocupam
posições tradicionalmente femininas, como chefs, estilistas e profissionais da
beleza, enquanto as mulheres ainda lutam para se firmar em cargos de liderança
empresarial.
A inserção feminina no mercado de trabalho em grande escala
ocorreu apenas no pós-guerra. O patriarcado ainda é uma realidade profundamente
enraizada e, muitas vezes, não precisamos nem dos homens para reforçá-lo: nós
mesmas, mulheres, objetificamos e competimos umas com as outras.
Queremos acreditar que avançamos significativamente, mas a
realidade mostra o contrário: a violência contra a mulher persiste, os
estereótipos do passado ainda nos perseguem e, mesmo entre as novas gerações,
preconceitos continuam a ser perpetuados.
Embora pesquisas indiquem um avanço — como o estudo da Bain &
Company, que aponta que o número de mulheres CEO dobrou nos últimos cinco anos
(passando de 3% em 2019 para 6% em 2024) — ainda estamos muito longe da
equidade. Além disso, um estudo da McKinsey & Company mostrou que empresas com
mais mulheres em cargos de liderança têm maior probabilidade de superar seus
pares em termos de lucratividade, reforçando a importância da diversidade nos
negócios.
Outro aspecto relevante é que, enquanto muitos homens são movidos
por status, dinheiro e poder, nós, mulheres, temos outros interesses além da
carreira. Buscamos equilíbrio entre vida pessoal e profissional, o que impacta
nossas trajetórias no mercado de trabalho. Para muitas de nós, a carreira é uma
parte da vida, não sua totalidade. E isso traz consequências.
Por fim, é essencial destacar que a pressão social sobre a mulher
não se restringe apenas ao mercado de trabalho. Um estudo recente da
Universidade de York, em Toronto, revelou que a constante exposição a imagens
de “corpos perfeitos” nas redes sociais pode estar prejudicando a autoestima de
jovens mulheres. A pesquisa, publicada no jornal científico Science Direct,
destaca como uma simples pausa no uso dessas plataformas pode trazer benefícios
significativos para a saúde mental.
O verdadeiro desafio é que aqueles que chegam ao topo — sejam
homens ou mulheres — tenham a responsabilidade de liderar de maneira diferente,
promovendo impactos positivos não apenas para si, mas para o coletivo. A
mudança só ocorrerá se houver uma liderança baseada na construção e uma
cocriação à diferentes mãos, e não apenas na perpetuação de estruturas
ultrapassadas.
As diferenças entre nós devem ser vistas como um trunfo para
alcançar melhores resultados. Torço para que, cada vez mais, possamos enxergar
e valorizar isso.
Como disse Clarice Lispector: “Cada pessoa é um mundo” e que
possamos aproveitar essa diversidade para construir um futuro mais justo e
equilibrado.
Viviane Gago - advogada e consteladora pelo Instituto de Psiquiatria da USP (IPQ/USP) com parceria do Instituto Evoluir e ProSer e facilitadora pela Viviane Gago Desenvolvimento Humano. Mais informações no site
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