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sábado, 5 de abril de 2025

Como vencer o ciúme do passado daqueles com os quais nos relacionamos?

Psicanalista Tássia Borges analisa o que é popularmente chamado de “Síndrome de Rebecca”, o ciúme pelo passado amoroso do companheiro ou companheira. Para ela, isto não se dá apenas no campo do amor, mas em outros tipos de relacionamento, inclusive profissional  

 

No romance "Rebecca", da escritora Daphne du Maurier, publicado em 1938 e que também foi adaptado para o cinema por Alfred Hitchcock em 1940, a protagonista é atormentada pela memória da primeira esposa de seu marido, já falecida, chamada Rebeca. Apesar de não estar fisicamente presente, sua influência e a idealização de sua imagem criam um ambiente de constante comparação e insegurança para a nova esposa.

 

Situações assim não acontecem apenas nas obras de ficção. É por isto que tem se falado muito sobre a “Síndrome de Rebecca”, um tipo específico de ciúmes que surge em relação ao passado amoroso do (a) parceiro (a). “Nessa dinâmica, o indivíduo sente-se ameaçado ou desconfortável com relações que já se encerraram, mesmo que elas não apresentem qualquer interferência no relacionamento atual. É um tipo de ciúmes que pode gerar um intenso sofrimento emocional, comprometendo a autoestima e a qualidade da relação”, explica a psicanalista Tássia Borges.

 

Com base em sua experiência clínica, a psicanalista afirma que isso não se dá apenas no âmbito do relacionamento amoroso. “Vejo isso acontecer em outros relacionamentos também, em relação a colegas de trabalho, chefes, amigos ou ex-amigos”, ilustra. “Inicia-se um processo de obsessão e fixação que leva a pessoa que sente o ciúme a considerar essas figuras do passado verdadeiras inimigas. Sofrem por uma concorrência que não existe e que é completamente fantasiosa, como se fosse uma assombração”. 

 

As consequências podem ser variadas. Vão da perda de tempo “stalkeando” estas pessoas, passando pela comparação a fim de “superá-las”, até chegar a um quadro de angústia intensa. “O passado do outro – seja do cônjuge, do amigo ou do colega de trabalho – assim como o de todos nós, não pode ser visto como uma ameaça, mas sim, como algo que faz parte da nossa história”, adverte Tássia. “Num processo analítico, apoiado em dados de realidade e não em fantasias, será possível elaborar inseguranças e idealizações. Se isto não for feito, o relacionamento atual pode ser afetado, causando ainda mais sofrimento”.  

 

Tássia Borges - especialista em assuntos relacionados à saúde mental e o psiquismo – entre eles ansiedade, narcisismo, questões geracionais, de relacionamento, luto, solidão e entraves psíquicos que podem impedir atletas de atingir altas performances. Mestre em Psicologia Clínica pelo Núcleo de Método Psicanalítico e Formações da Cultura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e Bacharel em Letras pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), ela trabalha com educação e linguagem há mais de 20 anos. Fundou e dirige o Instituto Kleiniano de Psicanálise, cuja missão é compartilhar de modo responsável e especializado os conhecimentos técnico-teóricos da psicanalista austríaca Melanie Klein (1882-1960) bem como de autores que dialogam com seu pensamento.


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