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Divulgação |
Em
uma sociedade cada vez mais ameaçada pela violência e pela insegurança física e
financeira, muitos pais passaram a "proteger" seus filhos dentro de
casa, uma solução motivada pelo medo e pela falta de segurança nas ruas, onde
antes era possível caminhar sem a constante preocupação com assaltos ou
conflitos violentos. Além disso, sair com as crianças tornou-se um desafio
financeiro em um cenário de economia precarizada, onde cada centavo é essencial
para o básico. Com a popularização da internet, a distração das crianças e
adolescentes migrou para as redes sociais, oferecendo aos pais momentos de
tranquilidade, mas expondo os jovens a um ambiente sem filtros, senso crítico
ou ética, onde frequentemente circulam conteúdos ilegais.
Devido
a tudo isso, os influenciadores digitais tornaram-se figuras centrais na vida
dos adolescentes, moldando comportamentos, opiniões e hábitos de consumo e de
vida. Embora muitos criadores de conteúdo promovam informações úteis e
motivacionais, a influência excessiva e até intencional, pode gerar consequências
negativas no desenvolvimento psicológico, social e emocional dos jovens. O
fenômeno da influência digital deve ser analisado com cautela, especialmente
pelos riscos inerentes ao consumo acrítico de conteúdo nas redes sociais.
Um
dos principais perigos está relacionado à construção da autoimagem e da
autoestima dos adolescentes. Muitos influenciadores apresentam estilos de vida
idealizados, frequentemente editados e filtrados para parecerem perfeitos. Essa
exibição contínua de padrões estéticos inatingíveis pode gerar insatisfação
corporal, transtornos alimentares e ansiedade/depressão, uma vez que os jovens
se comparam constantemente a modelos irreais.
Outro
aspecto preocupante é a disseminação de desinformação. Muitos influenciadores
compartilham conselhos sobre saúde, nutrição e bem-estar sem embasamento
científico, levando adolescentes a adotarem práticas prejudiciais, como dietas
extremas, automedicação ou tratamentos estéticos inseguros. A ausência de
regulamentação no conteúdo digital facilita a propagação de informações
incorretas, colocando em risco a saúde física e mental dos jovens.
Além
disso, a influência digital contribui para o consumismo impulsivo. O marketing
de influência disfarçado de opinião pessoal incentiva os adolescentes a
adquirirem produtos e serviços sem necessidade real. Muitas vezes, eles não
percebem que estão sendo persuadidos por publicidade sutilmente integrada ao
conteúdo. Essa prática pode gerar endividamento precoce, frustração e um senso
distorcido de necessidade material, reforçando a ideia de que a felicidade está
atrelada ao consumo excessivo.
A
normalização de comportamentos prejudiciais também é um fator preocupante.
Alguns desafios virais promovidos por influenciadores envolvem atividades
perigosas, como consumo de substâncias ilícitas, exposição a riscos físicos e
práticas de bullying virtual. Influenciadores digitais e grupos denominados de
“red pill” e “incel” norteiam o pensamento dos adolescentes para terem
comportamento agressivos contra mulheres e a população LGBTQIA+.
A
nova série “Adolescência”, da Netflix, escancara esta realidade de uma forma
brutal, trazendo à tona o que a sociedade já sabia, mas tinha medo de discutir.
Jovens sempre buscaram comunidades que geram senso de autoaceitação e buscam
este senso no mundo digital. A busca incessante por validação e pertencimento
pode levar adolescentes a imitar condutas inadequadas, antiéticas e ilegais
apenas para se sentirem aceitos dentro de comunidades online.
A
dependência digital é outro efeito negativo associado ao consumo excessivo de
conteúdo de influenciadores. O uso prolongado das redes sociais compromete o
desenvolvimento social e cognitivo dos adolescentes, reduzindo a interação
presencial, prejudicando a concentração nos estudos e impactando negativamente
o sono. O ciclo de recompensa proporcionado por curtidas e comentários reforça
a necessidade de cada vez mais aprovação externa, tornando difícil o
estabelecimento de uma identidade autônoma e saudável.
A
exposição precoce e excessiva à internet também aumenta os riscos de exploração
infantil e vulnerabilidade emocional. Alguns influenciadores expõem suas vidas
pessoais e de seus filhos sem considerar os impactos psicológicos dessa
exposição. Além disso, adolescentes que compartilham detalhes íntimos nas redes
podem se tornar alvos de assédio, pedofilia, golpes ou exploração digital.
Diante
desses riscos, torna-se essencial o acompanhamento parental, a conscientização
sobre os perigos do consumo passivo de conteúdo digital e a valorização de
interações sociais fora das telas são medidas fundamentais para mitigar os
impactos negativos da influência digital (se forem possíveis devido à
violência). Escolas e famílias devem definir limites sobre o uso da tecnologia,
ajudando os adolescentes a distinguirem entre realidade e ficção no ambiente
virtual.
Os influenciadores digitais têm um papel relevante na sociedade contemporânea, mas seu impacto sobre os adolescentes exige uma abordagem crítica e responsável. O equilíbrio entre o consumo de conteúdo digital e a vida offline, aliado à educação sobre os riscos das redes sociais, é essencial para garantir um desenvolvimento saudável e equilibrado. A construção de uma relação mais consciente dos perigos da internet pelos pais e escolas podem definir os parâmetros aceitáveis do uso da internet.
Patricia Punder - advogada e compliance officer com experiência internacional. Professora de Compliance no pós-MBA da USFSCAR e LEC – Legal Ethics and Compliance (SP). Uma das autoras do “Manual de Compliance”, lançado pela LEC em 2019 e Compliance – além do Manual 2020. Com sólida experiência no Brasil e na América Latina, Patricia tem expertise na implementação de Programas de Governança e Compliance, LGPD, ESG, treinamentos; análise estratégica de avaliação e gestão de riscos, gestão na condução de crises de reputação corporativa e investigações envolvendo o DOJ (Department of Justice), SEC (Securities and Exchange Comission), AGU, CADE e TCU (Brasil). www.punder.adv.br
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