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quinta-feira, 20 de março de 2025

Mulheres são quase metade da força de trabalho, mas ainda ocupam apenas 10% dos cargos de CEO no Brasil

Mesmo com avanços, mulheres ainda enfrentam barreiras para alcançar cargos de liderança em setores estratégicos como tecnologia e finanças

 

Apesar de representarem quase metade da força de trabalho global, as mulheres continuam sub-representadas nos cargos de liderança. Segundo o Fórum Econômico Mundial (2024), apenas 10% dos CEOs no mundo são mulheres. No Brasil, a disparidade é ainda mais evidente. Embora dominem setores como educação (70%) e saúde (65%), as mulheres representam apenas 13% da força de trabalho em tecnologia e apenas 9% em finanças, conforme dados do IBGE e da ONU Mulheres. 

A desigualdade não é apenas uma questão de escolha profissional ou falta de qualificação, segundo Juliana Velozo, vice-presidente de Mercado para a América Latina. Para a especialista, as mulheres continuam concentradas em empregos com menor remuneração e prestígio, enquanto os cargos de decisão ainda são dominados pelos homens. "Sem contar a falta de políticas efetivas de inclusão. Na prática as mulheres ainda enfrentam muitas barreiras invisíveis. É preciso garantir que as mulheres tenham um ambiente seguro para crescer e ter oportunidades reais de promoção e voz ativa nas decisões”, defende. 

Embora pesquisas comprovem que a diversidade de gênero na liderança gera impactos positivos nos lucros das empresas, o mercado avança a passos lentos. Um estudo da McKinsey & Company revelou que empresas com maior presença feminina em cargos de alta liderança têm 25% mais chances de lucrar acima da média. Além disso, um levantamento da S&P Global Market Intelligence (2020) apontou que, entre 2002 e 2019, empresas com CEOs mulheres tiveram desempenho financeiro 20% superior ao de seus concorrentes liderados por homens

Ruth Kaeski, fundadora do projeto Ela Empreende, que apoia mulheres empreendedoras em comunidades periféricas, compartilha um episódio recorrente: “Já passei por reuniões onde fui ignorada e só levaram minha ideia a sério quando um homem repetiu. No começo, achei que o problema era comigo, mas percebi que acontece com quase todas nós”, conta.

Para Ruth, a falta de referências femininas no topo da hierarquia corporativa afeta diretamente a autoconfiança das mulheres. “Se você cresce sem ver mulheres em cargos de liderança, aprende a duvidar do próprio valor. Quando encontrei apoio em outras mulheres, entendi que não precisava pedir permissão para ocupar meu espaço”, completa Ruth. A desigualdade também se reflete nos salários. Segundo o IBGE, as mulheres ganham, em média, 22% a menos do que os homens no Brasil, mesmo ocupando os mesmos cargos.

 

Caminhos para equidade no topo

Especialistas defendem que as empresas precisam ir além das boas intenções e implementar medidas concretas para promover a equidade de gênero. Entre as ações importantes estão:

  • Processos seletivos mais inclusivos, com revisão de critérios mais justos;
  • Programas de mentoria e aceleração de carreira para preparar mulheres para cargos de liderança;
  • Critérios claros e transparentes de promoção, baseados na competência e não em redes de indicação fechadas;
  • Mudança na cultura corporativa, garantindo um ambiente seguro e acolhedor para a ascensão feminina;
  • Políticas de equidade salarial, assegurando que mulheres recebam a mesma remuneração que seus pares homens para funções equivalentes.

Juliana Velozo enfatiza que a equidade no topo não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia inteligente para o crescimento econômico e inovação. “Se as mulheres já representam quase metade da força de trabalho, por que ainda são minoria nas decisões? O Brasil precisa superar esse atraso e criar oportunidades reais para que mais mulheres ocupem posições de liderança e impactem o mercado de maneira significativa”, completa.


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