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Estudo conduzido pela Sociedade Brasileira de
Mastologia (SBM) aborda aspectos divergentes do rastreamento mamográfico. Se
por um lado o exame demonstra eficácia na diminuição da mortalidade por câncer
de mama, no diagnóstico da doença em estágios menos avançados, na redução da
necessidade de mastectomias, na menor frequência de dissecções axilares e no
uso mais limitado da quimioterapia, por outro especialistas associam o
rastreamento mamográfico a efeitos indesejáveis, entre eles os resultados
falso-positivos que acarretam sofrimento psicológico às pacientes que recebem o
diagnóstico. Na avaliação comparativa, o mastologista Ruffo Freitas-Junior,
assessor especial da SBM e primeiro autor do estudo, afirma que os dados
espelham uma situação de contrastes, “comparável à trama do filme Meu Malvado
Favorito”. Assim como o personagem principal Felonius Gru, observa
o especialista, por vezes a estratégia para detecção da doença assume contornos
de heroísmo. Em outras, toma para si o papel de vilã.
O artigo “Rastreamento mamográfico: Herói ou
vilão?” foi publicado na Revista da Associação Médica Brasileira
(RAMB).
Autor do estudo, juntamente com Aline Ferreira Bandeira de Melo Rocha, Rafael
Batista João, André Mattar e Luciano Fernandes Chala, especialistas de diversas
áreas médicas, Ruffo Freitas-Junior propõe a discussão do rastreamento
mamográfico sob vários aspectos, incluindo o custo-benefício do procedimento
com a redução de gastos a partir da detecção e do tratamento precoces do câncer
de mama.
“Ao lançarmos mão da narrativa de Meu Malvado
Favorito, e mais especificamente o comportamento complexo do
personagem Gru, que oscila entre a vilania e a virtude, buscamos uma alegoria
para abordar diferentes considerações sobre o rastreamento mamográfico no
Brasil”, destaca o autor.
Amplamente testada em inúmeros ensaios clínicos e
avaliada recentemente em uma meta-análise por inteligência artificial, a
mamografia como recurso para detectar precocemente o câncer de mama elenca
vários benefícios. “Podemos dizer que sob o ‘aspecto heroico’, o rastreamento
mamográfico está associado à redução da mortalidade a partir da descoberta do
tumor em estágio inicial”, diz. O exame também pressupõe menor necessidade de
cirurgias radicais e a redução de tratamento adjuvante, com a possibilidade de
se evitar a quimioterapia. De acordo com o mastologista, outro ponto a ser
observado é o custo-benefício. “Quanto mais cedo se descobre o câncer, menores
são os gastos para tratar a doença”, ressalta.
No estudo publicado pela RAMB,
os especialistas também consideram o rastreamento mamográfico como “vilão”. Um
dos aspectos problemáticos diz respeito ao sobrediagnóstico, associado a
tratamentos desnecessários. “A magnitude do sobrediagnóstico é controversa”,
afirma o assessor da SBM. As estimativas variam entre 0% e 54% nos estudos e de
11 a 22% em ensaios clínicos randomizados”, destaca.
O especialista cita também os resultados
falso-positivos. Segundo Freitas-Junior, os resultados falso-positivos ocorrem
quando a recomendação para biópsia leva a um resultado patológico benigno. A
frequência dessas recomendações varia entre 7% e 9,4% por década de
rastreamento anual, indica o estudo.
O risco de desenvolvimento de câncer de mama por
radiação no rastreamento mamográfico existe, embora afete 10 entre 100 mil
mulheres entre 50 e 85 anos submetidas ao exame ao longo da vida.
Na conclusão do estudo, os autores consideram que
entre a dualidade “heroica ou vilã” do rastreamento mamográfico, os benefícios
gerados pelo exame para mulheres a partir de 40 anos de idade evidenciam muito
mais o aspecto heroico. “Dessa forma, ressaltamos que é fundamental que o exame
seja implementado nacionalmente a partir desta faixa etária, e não dos 50 aos
69 anos, a cada dois anos, como preconizado pelo Ministério da Saúde”, afirma.
Esta estratégia colocada em prática no serviço público de saúde há mais de 20
anos, segundo o especialista, tem se mostrado ineficaz, uma vez que uma em cada
duas brasileiras atendidas pelo SUS (Sistema Único de Saúde) tem o tumor de
mama detectado em fases avançadas.
“No momento em que a ANS (Agência Nacional de Saúde
Suplementar) se prepara para se reunir com as principais associações médicas do
País com o propósito de definir as diretrizes de um programa de qualidade a ser
lançado no futuro próximo, esperamos um entendimento que considere o
rastreamento mamográfico como herói, e não como algoz das mulheres brasileiras
que têm no exame a chance de um ótimo prognóstico de vida ao descobrir o câncer
de mama de forma precoce”, conclui Ruffo Freitas-Junior.
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