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sexta-feira, 21 de março de 2025

Rastreamento mamográfico: entre benefícios e danos para as mulheres

LightFieldStudios
Estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) utiliza o filme 'Meu Malvado Favorito' como alegoria para avaliar prós e contras que envolvem um exame importante para a detecção precoce do câncer de mama


Estudo conduzido pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) aborda aspectos divergentes do rastreamento mamográfico. Se por um lado o exame demonstra eficácia na diminuição da mortalidade por câncer de mama, no diagnóstico da doença em estágios menos avançados, na redução da necessidade de mastectomias, na menor frequência de dissecções axilares e no uso mais limitado da quimioterapia, por outro especialistas associam o rastreamento mamográfico a efeitos indesejáveis, entre eles os resultados falso-positivos que acarretam sofrimento psicológico às pacientes que recebem o diagnóstico. Na avaliação comparativa, o mastologista Ruffo Freitas-Junior, assessor especial da SBM e primeiro autor do estudo, afirma que os dados espelham uma situação de contrastes, “comparável à trama do filme Meu Malvado Favorito”. Assim como o personagem principal Felonius Gru, observa o especialista, por vezes a estratégia para detecção da doença assume contornos de heroísmo. Em outras, toma para si o papel de vilã.

O artigo “Rastreamento mamográfico: Herói ou vilão?” foi publicado na Revista da Associação Médica Brasileira (RAMB). Autor do estudo, juntamente com Aline Ferreira Bandeira de Melo Rocha, Rafael Batista João, André Mattar e Luciano Fernandes Chala, especialistas de diversas áreas médicas, Ruffo Freitas-Junior propõe a discussão do rastreamento mamográfico sob vários aspectos, incluindo o custo-benefício do procedimento com a redução de gastos a partir da detecção e do tratamento precoces do câncer de mama.

“Ao lançarmos mão da narrativa de Meu Malvado Favorito, e mais especificamente o comportamento complexo do personagem Gru, que oscila entre a vilania e a virtude, buscamos uma alegoria para abordar diferentes considerações sobre o rastreamento mamográfico no Brasil”, destaca o autor.

Amplamente testada em inúmeros ensaios clínicos e avaliada recentemente em uma meta-análise por inteligência artificial, a mamografia como recurso para detectar precocemente o câncer de mama elenca vários benefícios. “Podemos dizer que sob o ‘aspecto heroico’, o rastreamento mamográfico está associado à redução da mortalidade a partir da descoberta do tumor em estágio inicial”, diz. O exame também pressupõe menor necessidade de cirurgias radicais e a redução de tratamento adjuvante, com a possibilidade de se evitar a quimioterapia. De acordo com o mastologista, outro ponto a ser observado é o custo-benefício. “Quanto mais cedo se descobre o câncer, menores são os gastos para tratar a doença”, ressalta.

No estudo publicado pela RAMB, os especialistas também consideram o rastreamento mamográfico como “vilão”. Um dos aspectos problemáticos diz respeito ao sobrediagnóstico, associado a tratamentos desnecessários. “A magnitude do sobrediagnóstico é controversa”, afirma o assessor da SBM. As estimativas variam entre 0% e 54% nos estudos e de 11 a 22% em ensaios clínicos randomizados”, destaca.

O especialista cita também os resultados falso-positivos. Segundo Freitas-Junior, os resultados falso-positivos ocorrem quando a recomendação para biópsia leva a um resultado patológico benigno. A frequência dessas recomendações varia entre 7% e 9,4% por década de rastreamento anual, indica o estudo.

O risco de desenvolvimento de câncer de mama por radiação no rastreamento mamográfico existe, embora afete 10 entre 100 mil mulheres entre 50 e 85 anos submetidas ao exame ao longo da vida.

Na conclusão do estudo, os autores consideram que entre a dualidade “heroica ou vilã” do rastreamento mamográfico, os benefícios gerados pelo exame para mulheres a partir de 40 anos de idade evidenciam muito mais o aspecto heroico. “Dessa forma, ressaltamos que é fundamental que o exame seja implementado nacionalmente a partir desta faixa etária, e não dos 50 aos 69 anos, a cada dois anos, como preconizado pelo Ministério da Saúde”, afirma. Esta estratégia colocada em prática no serviço público de saúde há mais de 20 anos, segundo o especialista, tem se mostrado ineficaz, uma vez que uma em cada duas brasileiras atendidas pelo SUS (Sistema Único de Saúde) tem o tumor de mama detectado em fases avançadas.

“No momento em que a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) se prepara para se reunir com as principais associações médicas do País com o propósito de definir as diretrizes de um programa de qualidade a ser lançado no futuro próximo, esperamos um entendimento que considere o rastreamento mamográfico como herói, e não como algoz das mulheres brasileiras que têm no exame a chance de um ótimo prognóstico de vida ao descobrir o câncer de mama de forma precoce”, conclui Ruffo Freitas-Junior.


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