Desenvolvimento
cognitivo, socioemocional e físico podem ser impactados pelo uso de telas em
excesso
O uso crescente de smartphones, tablets e
videogames por crianças levanta preocupações sobre o impacto do tempo excessivo
de tela no desenvolvimento neurológico. Especialistas alertam para possíveis
consequências como atrasos na fala, dificuldades de concentração, problemas de
sono e aumento da impulsividade.
Estudos recentes corroboram essa preocupação. A
pesquisa Tic Kids Online Brasil de 2024 mostra que 93% dos jovens brasileiros
de 9 a 17 anos são usuários da Internet, o que torna a discussão sobre os
impactos das telas no desenvolvimento infantil cada vez mais relevante.
"O cérebro das crianças está em constante
desenvolvimento, e a interação humana, o brincar e a exploração do mundo real
são cruciais nesse processo. As telas, quando usadas em excesso, podem ocupar o
espaço dessas atividades essenciais, prejudicando o desenvolvimento de
habilidades sociais, emocionais e cognitivas", explica Paulo Scatulin
Gerritsen Plaggert, neuropediatra na Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.
Uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde com
a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, em 2023, apontou que um terço das
crianças de até 5 anos passam mais de duas horas utilizando telas por dia. O
uso excessivo de telas pode ter diversas consequências negativas no
desenvolvimento infantil, afetando várias áreas da vida da criança.
Impactos no desenvolvimento da
criança
Plaggert destaca algumas áreas que podem ser
afetadas pelo uso de telas em excesso. No desenvolvimento cognitivo, pode
ocasionar: atraso na fala e linguagem, dificuldades de atenção, problemas de
memória e aprendizado e redução da criatividade e imaginação.
"O excesso de telas diminui as oportunidades
de interação, o que pode levar a atrasos na fala e dificuldades de comunicação.
Com isso, o conteúdo rápido e estimulante também pode prejudicar a capacidade
de concentração, afetando o aprendizado, o desempenho escolar e o processamento
de informações. Mais um impacto é que o uso das telas limita as oportunidades
de brincadeiras e exploração do mundo real, prejudicando o desenvolvimento da
imaginação", comenta o neuropediatra.
No desenvolvimento socioemocional, as telas podem
impactar no convívio social, comportamento e gerar sentimentos de ansiedade,
depressão e baixa autoestima. Enquanto fisicamente pode causar problemas no
sono e de visão, obesidade, questões no desenvolvimento motor.
"As telas em exagero levam ao isolamento
social e à dificuldade de interação com outras crianças, assim como a
comparação com a 'vida perfeita' retratada nas redes sociais, o que afeta a
autoestima. Além disso, a exposição a conteúdos violentos ou inapropriados pode
contribuir para o desenvolvimento de comportamentos agressivos e dificuldades
de controle emocional", reforça Plaggert.
Outro fator relevante é o aumento do risco de
cyberbullying, especialmente em espaços como redes sociais. Essa prática pode
acarretar consequências emocionais graves, como ansiedade e depressão, destacando
a necessidade de monitoramento e suporte contínuo às crianças e adolescentes no
ambiente digital.
Equilíbrio é fundamental
Plaggert enfatiza que a tecnologia não é vilã, mas
seu uso precisa ser equilibrado e supervisionado. "As telas podem ser
ferramentas educativas e de entretenimento, desde que utilizadas com moderação
e dentro de um contexto saudável", explica.
Pais e educadores têm um papel imprescindível nesse
processo. É importante estabelecer limites para o tempo de tela, incentivar
atividades ao ar livre, o contato com a natureza e a interação social.
O neuropediatra lista abaixo algumas dicas para um
uso saudável das telas:
- Limite o tempo: Especialmente em crianças
menores de 2 anos, o uso de telas deve ser evitado. Para as demais faixas
etárias, estabeleça limites diários e horários específicos para o uso de
dispositivos.
- Priorize outras atividades: Estimule brincadeiras
criativas, leitura, jogos em grupo e atividades físicas.
- Dê o exemplo: As crianças aprendem
observando os adultos. Se você também passa muito tempo conectado, que tal
rever seus hábitos?
- Supervisione o conteúdo: Fique atento aos conteúdos
acessados pelas crianças e certifique-se de que sejam adequados à sua
idade.
- Crie momentos "desconectados": Reserve tempo para
atividades em família sem o uso de telas, como refeições, jogos de
tabuleiro e conversas.
"O desenvolvimento infantil é um processo
complexo e multifacetado. O uso excessivo de telas é apenas um dos fatores que
podem influenciar esse processo. Estar atento aos sinais, buscar informação e
oferecer um ambiente rico em estímulos e interações positivas são a chave para
garantir um desenvolvimento saudável para as crianças", finaliza o
especialista.
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