Trabalho conjunto
entre cirurgiões oncológicos, anestesistas e equipes de assistência torna
hospital uma das referências no país em cirurgias para tratamento de tumores
peritoneais
Uma fisgada do lado direito do abdômen foi o sinal
de alerta para o técnico de qualidade Maycom Roger da Silva procurar o serviço
médico. Na época, com 23 anos de idade, ele acreditou que o incômodo teria como
causa o sobrepeso, mas, depois de uma semana, uma dor mais forte veio durante o
trabalho e o levou para o pronto socorro do Hospital São Marcelino Champagnat,
em Curitiba (PR). “Fiz uma tomografia e tudo indicava ser apendicite. No dia
seguinte, fui para o centro cirúrgico, o médico abriu, viu uma espécie de
gelatina, tirou uma amostra para biópsia e fechou”, recorda. “Quando acordei,
ele me disse que eu tinha um pseudomixoma e que um outro médico viria conversar
comigo. Quando vi bordado ‘oncologista’ no jaleco do dr Andrea, li minha
sentença de morte”, relembra Maycom.
O oncologista Andrea Petruziello foi o responsável
por explicar para o técnico de qualidade sobre o que era o pseudomixoma, um
tipo de tumor raro que ocorre em todos os tecidos internos do abdômen. O médico
estruturou o programa de tratamento de tumores peritoneais no Hospital São
Marcelino Champagnat em 2015 e, em 2024, o setor completou 100 cirurgias desse
tipo realizadas.
Maycon foi um dos primeiros pacientes atendidos. O
caso dele foi em 2018, a cirurgia durou pouco mais de 12 horas e foram quase 30
dias de internação, entre UTI e leito clínico. “Por ser muito jovem, nós
tivemos um cuidado extra para preservarmos o duto deferente, que é o canal que
leva os espermatozóides dos testículos até o pênis, preservando a inervação da
pelve. Ao final da cirurgia é realizada uma aplicação no abdômen de uma
quimioterapia aquecida chamada HIPEC”, conta o oncologista. “Isso deu tão certo
que hoje ele está com uma filha de um ano e sem sinais de retorno do tumor”,
complementa Andrea.
Lucas, caso 100
O caso 100 chegou no mês de agosto de 2024 e foi a
cirurgia mais longa, durou 17 horas. O analista de sistemas, Lucas Souza, 33
anos, descobriu o tumor após ter dores abdominais e se sentir um pouco mais
cansado do que o normal. Uma tomografia do abdômen revelou a presença de
tumores que estavam bloqueando o intestino, com chances de obstrução, por isso
a necessidade da realização de uma cirurgia para remoção e biópsia. “Após o
resultado da biópsia, encontramos uma equipe oncológica que nos levou ao
diagnóstico da doença: adenocarcinoma”, explica Lucas.
“Esse tipo de tumor é raro, mas não é incomum
aparecer em jovens de 25, 30 anos”, explica o médico. “No caso do Lucas, a
cirurgia foi bem longa porque a doença era muito difusa, acima da média,
comprometia todos os espaços do abdômen, principalmente em volta do fígado e da
pelve”, conta Andrea.
“Durante a cirurgia me apeguei ao que o
especialista disse: se o telefone não tocasse era porque estava correndo tudo
bem. E assim foi”, recorda a esposa do analista, Tamires. “Todo o processo foi
muito difícil. A raridade do caso me trouxe mais medo em relação ao futuro da
minha filha do que em relação ao Lucas, porque isso sugere que pode haver um
fator genético envolvido e, no caso dele, já estávamos lidando com a situação,
então não fazia muita diferença”, explica a esposa.
Esses casos de tumores peritoneais são tão raros
que até hoje a medicina não conseguiu estabelecer uma relação genética entre os
casos.
Cirurgias mais longas
Cirurgias peritoniais costumam durar em média 12 a
15 horas e por isso o preparo começa bem antes da entrada no centro cirúrgico.
Existe um cuidado especial que se inicia na entrevista pré-anestésica, quando é
avaliado o estado geral do paciente, exames de laboratório, informada sobre a
possibilidade de transfusão, tempo cirúrgico e técnicas anestésicas. São
explicados, ao paciente e aos familiares, todos os riscos, a importância do uso
dos monitores especiais como os minimamente invasivos e monitores de consciência
intraoperatória. “Nessa avaliação informamos sobre a analgesia pós-operatória
através de um procedimento chamado PCA peridural, que é uma analgesia
controlada pelo paciente ajudando muito no controle da dor”, explica a
anestesista do Hospital São Marcelino Champagnat, Maristela Bueno Lopes.
Na chegada ao centro cirúrgico o paciente é
recebido e acolhido pela enfermagem, novamente são informados pela equipe de
anestesia todos os procedimentos que serão realizados. “É muito importante a
manutenção da temperatura corporal por ser um procedimento longo e, para isso,
utilizamos uma manta térmica sobre o corpo. O anestesiologista acompanha toda a
cirurgia e os exames de laboratório são colhidos com frequência para que possam
ser corrigidas as alterações com objetivo de manter uma boa função cardíaca,
oxigenação dos tecidos corporais e equilíbrio dos eletrólitos”, complementa
Maristela.
“Os procedimentos de cirurgias peritoneais com
realização de quimioterapia intraoperatória são um desafio para toda a equipe.
Exige uma boa interação entre cirurgião e anestesiologista. Ao término do
procedimento, os pacientes são encaminhados à UTI e o serviço de anestesiologia
dá continuidade ao atendimento no manejo da analgesia juntamente com a equipe
cirúrgica e a terapia intensiva”, finaliza o oncologista. A média de internação
é de 15 dias após a cirurgia e os cuidados em casa envolvem fisioterapia.
“Apesar de não ser uma cirurgia indicada para
todos, os pacientes que podem ser operados, as histórias como acima são as que
nos levam acima nos levam a continuar trabalhando em prol desses pacientes”,
finaliza Andrea.
Hospital São Marcelino Champagnat
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